Tinha dito que ia ficar chateado se vencêssemos. Desculpem, não consigo. Este FC Porto deixa-me pleno de felicidade e êxtase. Mas deixa, também, em aberto questões preocupantes. Passo a explicar.
Ontem tivemos no Dragão um FC Porto à moda antiga, daqueles de superação, com Raça, Querer, Vontade e... Mística. Sim, não me venham mais falar que "falta Porto ao Porto" e "a Mística já não existe". Existe, sim, e de que maneira.
Nós éramos o underdog, o pequenino, que ia tentar pontuar com o gigante. Felizmente para ele, Mourinho não foi na cantiga e montou uma equipa plena de jogo. Sim, foi o melhor Chelsea que vencemos, não foi o Chelsea de azul desbotado que tem estado na Premier League. O que nós tivemos foi uma grande União e Espírito de Sacrifício que superou o talento do outro lado.
Quem disser que Willian, Pedro ou Diego Costa fizeram um mau jogo só pode estar a brincar comigo. Já agora, sim, Casillas podia ter feito mais para evitar o golo, ele próprio o disse, mas também fez um bom par de defesas que nos valeram pontos. E esteve a comandar a tropa, que eu bem vi.
Onde ganhamos o jogo foi na entrega total de todos a cada lance. Quando os grandes (André pai, Lima Pereira, Rodolfo, etc) falam a Bernardino Barros de deixar tudo no campo, é disto que falam. De uns exaustos Rúben Neves e André André, de um Rei Bakar que não esteve à procura de brilhar. Mas também falam, principalmente, de um Maicon de pé inchadíssimo a jogar como se não houvesse amanhã e de um estóico Imbula a levar com o cão Matic a morder-lhe a perna sem reclamar. E de um Brahimi a defender!
Os destaques que farei são de jogadores extraordinários, mas todos, sem excepção, foram jogadores à Porto. Calem-se os detractores, aqueles que acham que somos maus e que não jogamos nada. É mentira. Somos o FC Porto.
Mas, ainda assim, uma dúvida assalta o ar, como um vento suão que traz consigo tempestade: fica provado o que sempre disse, que o sistema de Lopetegui funciona fantasticamente quando se quer jogar futebol, quando as duas equipas querem jogar. Mas, e quando não querem? Como justificar tamanha assimetria entre o campeonato nacional e a prova-magna? Como não nos rendermos à evidência de que este banho táctico não pôde ser preparado em três dias? E onde ficou o Moreirense no meio disto tudo? Porque não defende e ataca Brahimi desta maneira no campeonato?
É um problema de difícil resolução este, no qual há que meditar, mas não hoje. Hoje é o dia de celebrar, de rever os lances e deleitar-nos com a Europa do futebol rendida a um FC Porto cada vez maior. Um FC Porto à Porto!
Maicon - O Air Strike foi mesmo Air Strike! Impressionante a forma como venceu no jogo aéreo a Diego Costa, como fez cortes de suprema qualidade, como apoiou, fez dobras, comandou, flanqueou, tudo e mais alguma coisa. Teve, claro, as suas famosas Paragens Cerebrais®, mas foram superadas pelo segundo golo consecutivo de bola parada (!!!) e por jogar uma boa parte do jogo em claríssima dor. Se Maicon não é um digno Capitão, não sei quem será.
Rúben Neves - É um Galáctico da bola, um predestinado que só com muito inegável Portismo se vai conseguir segurar. O futebol corre-lhe nas veias, nos seus pés a Magia de quem faz da bola o que quer, e a visão estratégica de um Comandante. Tudo isto num miúdo de 18 anos. Para mim, titular indiscutível. Quem joga da maneira que o nosso menino jogou contra um colosso europeu, joga sempre e traz qualidade indiscutível ao FC Porto. Aquelas entradas finais na área mereciam o golo que procurou e deram ideia de que é já um Homem de barba rija.
As Pulgas Eléctricas com pilhas Duracell - Impressionante a qualidade de jogo e a capacidade de superação de Maxi Pereira e de André André. Não farão os jogos mais vistosos, mas serão sempre os carregadores de piano e os paus-para-toda-a-obra que fazem do FC Porto um à Porto. Sem eles não teríamos ganho. Em todo o lado, em qualquer lugar, para qualquer coisa, nem que o adversários lhes dê 30 cms de diferença. Então Maxi chegar ao fim do jogo sem estar de rastos, deixa-me atónito. O Presidente tinha razão: um digno sucessor do 2.
Aboubakar - "O Sábio sabe pôr-se em último lugar. Assim, é sempre o primeiro". Estas palavras de Lao Tzu no seu fantástico Tao Te King, assentam como uma luva ao Rei Bakar. É comovente a forma como Rei Bakar faz tudo o que é preciso, passa, dobra, constrói, defende, ataca, remata, tabela...Enfim! Jackson quem? Pois! É mesmo o Rei.
Imbula - Quando vejo Imbula lembro-me sempre deste tipo. O nosso Juggernault é mesmo imparável e fez uma extraordinária exibição! Realmente, com espaço, Imbula é outra conversa! Que força! E foi imperial na defesa! Assim, sim!
Indi - Pouco importa se joga muitas vezes ou poucas, entrou pleno de Raça e de Querer à Porto. Muito melhor a defender do que a atacar, a forma como estava presente a cortar lances capitais foi absolutamente decisiva.
Brahimi - Faço-o relutantemente, porque não merecia pela atitude de sexta, no entanto não há como escapar. A atacar, a defender, a superar-se, começou individualista, mas acabou a ajudar a equipa em tudo. Brahimi fez um jogo soberbo. Mas, e o campeonato, Yacine?
Lopetegui - Ganhou em toda a linha ao Special Happy One. Até ao pôr Layún a extremo direito. Como criticar um treinador capaz de inventar uma táctica tão fantástica? Como ficar aborrecido por ele gostar é de jogar futebol? Ou o FC Porto ganhou apesar do treinador? É deixar-se de trocas de nome, ó faixabore, e respeitar um técnico capaz de nos pôr a jogar de igual para igual com equipa do triplo do orçamento.
Amistades Peligrosas - O nosso amigo árbitro era sabidos que tinha uma amizade perigosa com Mourinho. E notou-se, notou-se muito. O festival de sarrefada consentida ao Chelsea contrastou com os amarelos e faltinhas manhosas averbadas ao FC Porto! Pouco importa se Marcano faz penalty ou não, é muito intelectualmente desonesto dizer que fomos beneficiados no que quer que seja! à atenção do Dr(?) Bruninho Calimero, vê lá isto e cala a boca! O que se deve fazer quando somos prejudicados é aguentar e superar-se. Como nós fizemos. Com muita Raça!