Quem visse apenas os 20 primeiros minutos do jogo do FC Porto, era capaz de falar numa qualidade ao nível do jogo com o Tondela. Lentos, complicativos, desligados, desleixados, desposicionados, apesar de sempre a tentar atacar, a dar muito espaço e a perder muitas bolas de uma forma infantil, assim se começou. Foi, aliás, de uma dessas perdas infantis, dos pés de Brahimi, que a bola acaba por sobrar para Hélder Postiga que, de zona frontal, remata com qualidade - embora me pareça que Helton estivesse adiantado - para um grande golo.
Ao contrário do que seria de esperar, neste já clássico "jogo de remontada", não se notou grande reacção Portista, apenas uma série de chegadas à área muito confusas. E foi numa dessas que aconteceu o Milagre que só se verá uma vez este milénio. André Silva é agarrado na área e Paixão marca o penalti, que Layún converte, como sempre bem, para devolver a justiça ao resultado. Não daria para, no primeiro tempo, fazer mais.
Fez-se depois no segundo. Sérgio Oliveira - para mim o melhor em campo - foi tentando, foi rematando, foi insistindo e, depois de um remate colocado defendido para canto, aos 56', marca quando a bola sobra em zona frontal, com uma bomba extraordinária. No início da segunda parte já se notava mais o fade-in de qualidade, a equipa ia crescendo em qualidade, em organização e vontade e, a partir do golo de Sérgio Oliveira, tomou autenticamente conta do jogo e não deixou o Rio Ave responder.
Faço notar que o FC Porto teve, nesta segunda parte, uma solidez defensiva muito grande, com faltas a meio campo a cortar contra-ataques, muito empenho e entrega e muita solidariedade defensiva. Depois, foi só confirmar, já a terminar o encontro, a vantagem merecida, num ataque rápido, com Maxi a colocar pela direita a bola em Varela, que recebe magistralmente, e coloca a bola com força cruzado ao primeiro poste.
Um bom jogo, que cresceu do mau para o bom, roçando o muito bom, mas com a vontade à Porto e a união dos atletas. Estamos, a continuar assim, a bom ritmo para vencer a Taça de Portugal.
Sérgio Oliveira - Quanta raça hoje, a ser o autêntico MC do jogo, a controlar os tempos, a definir as jogadas, a fazer passes de rotura, a defender com vontade, a rematar com confiança. MVP do jogo, para mim conquistou lugar no plantel do próximo ano. Acho até que Sérgio Oliveira é dos tais jogadores que fazem a espinha dorsal do FC Porto, com toda a intensidade e espírito de sacrifício que é exigido a quem tem sangue azul e branco nas veias.
Bons sinais e esperança renovada - Numa equipa sem Danilo, Rúben foi agressivo como nunca o tinha visto, ganhou lances de cabeça e tentou até ao limite as recuperações, Marcano foi o patrão da defesa, com classe, a ganhar tudo de cabeça, a fazer as dobras e apoio a um Layún que hoje esteve muito melhor a defender do que a atacar, e ainda bem, porque um lateral tem de saber defender, e Miguel parece ter percebido que é menos extremo e mais lateral. Não ficamos pior. Maxi esteve por todo lado, como sempre, e faz boa parelha com um Varela que esteve num dia muito bom, a defender e a atacar, num dos seus melhores dias. O golo foi inteiramente merecido. Assim como o merecia André Silva, que tem, no entanto, que controlar essa ansiedade e procurar fazer o golo que tiver de ser, que não seja necessariamente bonito mas eficaz. No entanto, foi insuperável na entrega e na vontade. A tua hora chegará, puto!
Brahimi - Aqui e ali esteve bem, mas nota-se que já fez o check-out do Clube e que já está a jogar de favor. Muita qualidade naqueles pés, muito arejo naquela cabeça. Lento, complicativo, a segurar para lá do razoável a bola, foi mais a pedra na engrenagem do que a mudança de velocidade que se lhe exigia. Tenho pena. Depois da Taça, au revoir. Chidozie também esteve demasiado irascível, e se o jogo não fosse a feijões, e se houvesse mais "paixão" no jogo, Chidozie teria ido tomar banho mais cedo. Peseiro tem de lhe puxar as orelhas.
Correr atrás do prejuízo e entradas em fade-in - Não é exclusivo de Peseiro, mas pode acabar no consulado deste. Uma entrada forte faz um jogo forte, uma entrada fraca faz... o jogo que fizer. Foi um jogo em crescendo, que precisou da "pimenta" de um golo em contra para impulsionar esse crescendo. Hoje correu bem. Mas mais vale prevenir que remediar. Convém inverter esta tendência.