Ontem tive fúria incontida várias vezes no dia. Num dia de que deveria ser de festa, celebração, senti um asco nojento, senti uma repulsa forte a sair por todos os meus poros.
E senti estas emoções porque, por todo o lado, se foi propagando a conversa de que, lamentavelmente, se iria voltar à "triste clubite" a partir do dia seguinte. Lá se ia o sentimento de "unidade nacional" e de "felicidade cósmica".
Para a SportTV, a RTP, a SIC e a TVI, estávamos a viver o momento idílico ao melhor sabor
Imagine, onde o futebol deveria estar. Mas que coisa hipócrita de se dizer. E enuncio porquê:
- Dizer, sem pudor, que Fernando Santos "não é o Engenheiro do Penta, mas antes o Engenheiro que perdeu o "bit-tri"" é de uma desonestidade intelectual sem precedentes. Dizer que Fernando Santos só ganhou o Penta porque os outros clubes estavam fracos é a típica reacção dos fanáticos sulistas, tentado diminuir os - grandes e dificílimos de replicar - feitos do FC Porto.
- Chamar o avião de Eusébio, com direito a imagem à beira da Taça de Campeões Europeus não é só parolo e ridículo: é efectivamente diminuir o feito histórico conseguido pela selecção! A esta altura Cristiano Ronaldo é muito mais uma referência planetária muito superior em dimensão do que Eusébio algumas vez foi. Eusébio não foi uma referência da pátria no seu todo. Eusébio foi uma referência verifique. Insinuar que a selecção estava, em coro, a cantar o hino "Eusébio é o Rei" - sublinhando que era um hino verifique! - é de uma falsidade e ausência de escrúpulos sem par. Eusébio não tem nada que ser chamado à liça nesta conquista, tal como não têm Peyroteo ou Hernâni. Este é um momento do Presente, não de buscar o Passado bafiento da saudade de alguém de quem a grande memória é do tempo da outra senhora. Temos o melhor jogador do mundo a ganhar, basicamente, o troféu que lhe faltava, temos 23 jogadores em perfeita comunhão e vimos falar de alguém que não tem nenhuma ligação com estes tempos correntes?
- Dizer o clube a que pertencem todos os jogadores e onde eles foram formados, uma e outra e outra vez
com a excepção de Danilo Pereira é mais uma vez o culto de
nada e coisa nenhuma. Ignorar que o principal responsável por tornar o CR7 no que ele é estava lá para o
cumprimentar, é não perceber nada de nada sobre coisa nenhuma. Ou então é um hábil marketing só secundado pela orgásmica forma como descreveram a entrada do autocarro da selecção na segunda circular e da sua passagem pelos seus estádios.
- E pela última vez, o Renato Sanches não é "o nosso menino". É o
vosso menino, vós que o promoveste
ad nauseam e fizeste dele algo incontornável que está longe de ser, algo consensual que nunca será e um predestinado atleta cuja ética e conduta recente me faz duvidar que alguma vez seja. Evidentemente, o maior prejudicado do
flavour of the month é ele próprio, que já vai demonstrando discurso de Ícaro, sem a real noção do que o seu
hype traduz. O
nosso menino chama-se
Rúben Diogo da Silva Neves e tem uma
maturidade táctica e um leque de características
muito mais completo, mas tem a manifesta infelicidade de vestir "as cores erradas". Ainda bem que as veste orgulhosamente!
Para terminar, como exemplo máximo do que digo, a páginas tantas o iluminado comentador da SportTV, Pedro Henrique, a lamentar a clubite, sai-se com esta frase:
- "os grandes jogadores da selecção que já alguma vez passaram pela equipa das quinas , e vou citar um de cada clube, para não ferir susceptibilidades, como Rui Costa do benfas, João Mário do sportem e..e...e..."
- "Danilo Pereira" - atalha o outro comentador
"... e Danilo Pereira são jogadores da selecção e não meros jogadores que vestem esta ou aquela camisola".
Este é o exemplo absolutamente paradigmático do umbiguismo sulista que grassa esta cambada, para a qual somos apenas alergias, comichões e empecilhos que seria excelente exterminar.
Pois é, meus amigos, mas viemos para ficar! E vamos voltar a provocar-vos azia e noites mal dormidas, despeito e inveja colossal. E, sim, seremos sempre bairristas. E não "provincianos". Não somos uma mera província. Somos a força motriz deste País. E quanto mais nos tentarem menosprezar, maiores ficaremos, sim.
Temos Clubite, claro. Somos, primeiramente, do Futebol Clube do Porto. Não somos é, como vós, uns abjectos hipócritas!