Em vésperas de mudança de treinador, por muito bom e/ou raçudo que seja, há coisas que preocupam o meu coração Portista e que me fazem temer o pior. Não que acredita que o próximo - que não faço ideia quem seja! - seja pior que Lopetegui, mas acho que o problema vai para lá do treinador. Eis aqui alguns pontos que acho fulcrais:
- Silêncio - Na grande maioria dos assuntos, a SAD mantém um silêncio sepulcral que faz temer um qualquer comprometimento estranho. Reagir tarde e mal, como faz hoje o Dragões Diário, também retira força à mensagem. Meu caro Francisco, o dia para reagir era ontem. Mais a mais, uma mensagem escrita numa caixa de e-mail era mais válida no final dos anos 90 do que agora.
- Anacronismo - A SAD do FC Porto está anacrónica, vive num tempo muito próprio, sem compreender a urgência do tempo mediático. Em primeiro lugar, uma declaração de viva voz é sempre uma declaração de viva voz. Pode até ser superficial, e ser aprofundada nos momentos seguintes. Mas tem de acontecer. O FC Porto tem de ser mais "Taça da Liga de Braga". Lopetegui reagiu durante o jogo, Antero reagiu no intervalo, o Presidente reagiu no fim. O resultado foi evidente - a equipa moralizou-se e os adeptos uniram-se em volta da equipa. Tivessem aproveitado esse capital de ânimo e nós teríamos tido uma equipa muito mais galvanizada em momentos seguintes. Há que viver em 2016, onde as redes sociais e a Internet assumem uma importância vital. Vide o exemplo de Iker Casillas: a imagem dele com o Helton mostrou uma frente unida na baliza, deu uma noção de solidariedade e entre-ajuda que nos sossegou nesse particular. Não peço um comunicado a cada gás. Mas atropelos como os do Boavista não podem ter uma reacção lateral e dois dias depois. A esta altura, já o impacto mediático passou! Incisividade precisa-se.
- A atenção no local próprio - Por muito que o Museu seja espectacular - que é - é um claro sinal de ausência de visão de futuro que se dê mais importância ao passado. A programação do Museu é, em detalhe e qualidade, muito mais bem preparada que a do próprio Dragão ou do Porto Canal. Um Clube que não quer ficar confinado a um tempo não pode reduzir o seu arco de importância ao tempo de uma presidência, por muito larga e frutífera que seja. E não pode dar muito mais relevo ao que já conquistou do que àquilo que tem por conquistar.
- Noção da realidade - Cresceu, estou certo, pelos corredores da SAD, a noção de que somos um grande europeu - que é verdade - e que estamos acima de todas as quezílias e mesquinhices do futebol português - o que é mentira. Também, estou certo, há neste momento a noção de que "tudo se resolve", como sempre foi, confiando na infalibilidade de um homem de 78 anos, cuja atenção - e é legítimo que assim seja - já não é a mesma, nem o ímpeto, nem a vontade. Ficamos para trás nos negócios, na liga, nas discussões sobre arbitragem e até naquilo que era o nosso ex-líbris: o pulso sobre os jogadores. Casos como os do pai do Imbula eram impossíveis há 5 ou 6 anos. A blindagem do FC Porto era total. Hoje não é. Ninguém quer que o Presidente deixe de o ser - tem todo o direito, conquistado e merecido, de o ser. Mas tem de haver mais para além de. O FC Porto não é uma sociedade unipessoal. Tem de haver pulso e vontade de mais. Por parte de alguém. E ela tem de ser visível. Há que ser esteio e inspiração dos jogadores e adeptos, para lá do treinador! A Raça, o Querer e a Ambição têm de ser transversais e evidentes, também em quem dirige!
Basta de se viver confortavelmente à sombra de conquistas que vão começando a distar mais e mais no tempo. A sobrevivência do FC Porto exige uma análise séria, imediata e eficaz, muito para além de quem quer que seja que treine a equipa. Sem ela, estaremos condenados a mais um deserto. Seria um triste fim de algo que se conquistou pelo de mérito, com sangue, suor e lágrimas. Seria de uma elementar injustiça. A bola está do lado de quem dirige!