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sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

O Que Não Muda Com A Mudança De Treinador


Em vésperas de mudança de treinador, por muito bom e/ou raçudo que seja, há coisas que preocupam o meu coração Portista e que me fazem temer o pior. Não que acredita que o próximo - que não faço ideia quem seja! - seja pior que Lopetegui, mas acho que o problema vai para lá do treinador. Eis aqui alguns pontos que acho fulcrais:
  • Silêncio - Na grande maioria dos assuntos, a SAD mantém um silêncio sepulcral que faz temer um qualquer comprometimento estranho. Reagir tarde e mal, como faz hoje o Dragões Diário, também retira força à mensagem. Meu caro Francisco, o dia para reagir era ontem. Mais a mais, uma mensagem escrita numa caixa de e-mail era mais válida no final dos anos 90 do que agora. 
  • Anacronismo - A SAD do FC Porto está anacrónica, vive num tempo muito próprio, sem compreender a urgência do tempo mediático. Em primeiro lugar, uma declaração de viva voz é sempre uma declaração de viva voz. Pode até ser superficial, e ser aprofundada nos momentos seguintes. Mas tem de acontecer. O FC Porto tem de ser mais "Taça da Liga de Braga". Lopetegui reagiu durante o jogo, Antero reagiu no intervalo, o Presidente reagiu no fim. O resultado foi evidente - a equipa moralizou-se e os adeptos  uniram-se em volta da equipa. Tivessem aproveitado esse capital de ânimo e nós teríamos tido uma equipa muito mais galvanizada em momentos seguintes. Há que viver em 2016, onde as redes sociais e a Internet assumem uma importância vital. Vide o exemplo de Iker Casillas: a imagem dele com o Helton mostrou uma frente unida na baliza, deu uma noção de solidariedade e entre-ajuda que nos sossegou nesse particular. Não peço um comunicado a cada gás. Mas atropelos como os do Boavista não podem ter uma reacção lateral e dois dias depois. A esta altura, já o impacto mediático passou! Incisividade precisa-se.
  • A atenção no local próprio - Por muito que o Museu seja espectacular - que é - é um claro sinal de ausência de visão de futuro que se dê mais importância ao passado. A programação do Museu é,  em detalhe e qualidade, muito mais bem preparada que a do próprio Dragão ou do Porto Canal. Um Clube que não quer ficar confinado a um tempo não pode reduzir o seu arco de importância ao tempo de uma presidência, por muito larga e frutífera que seja. E não pode dar muito mais relevo ao que já conquistou do que àquilo que tem por conquistar.
  • Noção da realidade - Cresceu, estou certo, pelos corredores da SAD, a noção de que somos um grande europeu - que é verdade - e que estamos acima de todas as quezílias e mesquinhices do futebol português - o que é mentira. Também, estou certo, há neste momento a noção de que "tudo se resolve", como sempre foi, confiando na infalibilidade de um homem de 78 anos, cuja atenção - e é legítimo que assim seja - já não é a mesma, nem o ímpeto, nem a vontade. Ficamos para trás nos negócios, na liga, nas discussões sobre arbitragem e até naquilo que era o nosso ex-líbris: o pulso sobre os jogadores. Casos como os do pai do Imbula eram impossíveis há 5 ou 6 anos. A blindagem do FC Porto era total. Hoje não é. Ninguém quer que o Presidente deixe de o ser - tem todo o direito, conquistado e merecido, de o ser. Mas tem de haver mais para além de. O FC Porto não é uma sociedade unipessoal. Tem de haver pulso e vontade de mais. Por parte de alguém. E ela tem de ser visível. Há que ser esteio e inspiração dos jogadores e adeptos, para lá do treinador! A Raça, o Querer e a Ambição têm de ser transversais e evidentes, também em quem dirige!
Basta de se viver confortavelmente à sombra de conquistas que vão começando a distar mais e mais no tempo. A sobrevivência do FC Porto exige uma análise séria, imediata e eficaz, muito para além de quem quer que seja que treine a equipa. Sem ela, estaremos condenados a mais um deserto. Seria um triste fim de algo que se conquistou pelo de mérito, com sangue, suor e lágrimas. Seria de uma elementar injustiça. A bola está do lado de quem dirige!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Eu Não Tenho Nada A Ver Com Isto


Hoje, à chegada da equipa ao aeroporto, tivemos o corolário perfeito de tudo o que se tem passado no Futebol Clube do Porto nos últimos anos - Lopetegui enfrenta, na fila da frente, a contestação dos adeptos, ladeado por absolutamente ninguém. 

Atrás vinha a equipa técnica e creio ter visto, de costas, Antero Henrique, director do Departamento de Futebol. Toda a restante SAD saiu... depois de apanhar as malas*.

Quando, nos anos oitenta, me tornei, escolhi, ser Portista, atraiu-me a ideia daquilo que era o FC Porto - um grupo unido, raçudo, a enfrentar o sistema que o queria fazer perecer, capaz de se exceder e de deixar tudo para a conquista dos títulos que disputavam. Faziam-nos não só por si mesmos, mas na defesa de uma identidade, de uma Cultura, de um Ideal: O Norte como o epicentro de toda a fibra e toda a bravura.

À frente de todos estava um homem sem medo, com uma agilidade mental impressionante e uma acérrima defesa dos seus - Jorge Nuno Pinto da Costa. Rapidamente, por não ter medo de dizer o que haveria de ser dito, mas sem exageros ridículos, tornou-se nos dois pólos da existência social: amado e odiado. Desde o roupeiro ao treinador, todos eram protegidos pelo primeiro escudo humano - o do Nosso Grande Presidente. E isso levou-nos ao êxtase sublime da vitória e do domínio nacional, e algumas vezes europeu.

Nesse trajecto, granjeamos a fama de uma verdade, a de que éramos um Clube raçudo, unido, com a Mística de ser um por todos, todos por um. E de bom clube vendedor. Pinto da Costa passou a ser reverenciado e temido como vendedor e homem de negócios.


Depois da passagem do miúdo raçudo que queria ser campeão, André Villas Boas, e da sua sedução pela europa do futebol, criou-se um mito: o de que qualquer um servia e qualquer conjunto de jogadores era suficiente. 

Um outro homem teve o mérito de ganhar apesar desse binómio mortal: Vitor Pereira. E como era um homem frontal e sem medo, foi permitindo o pecado mortal à SAD Portista - o de se começar a afastar e deixar o homem da frente defender-se sozinho. Com isso, passou a ser o responsável último de todo o descontentamento, e acabou por se afastar por isso.

De seguida, na mesma lógica de que qualquer um serve, foram buscar uma excelente pessoa, que teve um calvário tremendo de tentar fazer omeletes enquanto que os directores vendiam os ovos.

"É só dar uns ovos mais, que podemos vender a peso de ouro!", pensaram as cabeças dirigentes, e foram buscar um homem duro e teimoso, filho de um homem duro e teimoso, para conseguir fazê-lo. Não fez, mas ajudou a vender os ovos a peso de ouro. E aguentou-se às balas sozinho.

Mas como o raio não cai duas vezes no mesmo lugar, desta vez não se vende os ovos ao mesmo peso, e toca, qual Khaleesi, a mandá-lo de alimento aos Dragões.


Pela porta dos fundos, no conforto da reclusão, os feios, porcos e maus passaram a bonómicos, bonacheirões e comissionistas. Quando perguntados, apenas dirão: "Não tenho nada a ver com isso!"

Têm, tem sim, têm tudo a ver com isso! Lopetegui tem muitos defeitos. Tem de ser responsabilizado. Mas não tem de aceitar e enfrentar tudo sozinho. A culpa não é só dele. É o Verdadeiro Espírito do Dragão que já não mora em quem o dirige.

E o exemplo tem de vir de cima. Senão, no próximo ano - não será antes, não se enganem - teremos mais do mesmo. O exemplo tem de vir de cima. E ele não se dá saindo pelas traseiras.

Caminhamos para deixar de ser Dragões. Estamos a tornar-nos... lagartos. Urge mudar. Antes que seja demasiado tarde!

* Tinha escrito "por outra porta", por indicação da reportagem que vi da SIC Notícias. O Vila Pouca já esclareceu que estiveram à espera das malas. Não muda em rigorosamente nada o sentido do post. Lopetegui não deveria ter sido o único a sair na frente.