Todos estão revoltados com a reacção de abandono do Maicon. Entristeceu-me, mas não me surpreendeu. Tudo isto que se está a passar é apenas o corolário, a transposição, a projecção, se quisermos, da atitude apática, indiferente e amorfa da estrutura directiva Portista, de não se indignar, de não defender os seus interesses mas, para mim, mais importante que tudo, de ter interrompido a linhagem.
Os nossos rivais imitaram os nossos melhores comportamentos, nós imitamos os piores deles. O ficaben estabilizou o balneário, mudou jogadores e criou mentalidades agregadoras. Tudo para lá do #colinho, que sei que agrega muito mais que tudo. Mas as primeiras características eram nossas. O sportem, por seu turno, estabilizou balneário, foi buscar uma espinha dorsal à prata da casa, um treinador que acreditam ser competente e uma máquina, em várias frentes, contundente e incisiva, a fazer passar uma mensagem. Mensagem essa que, apesar de exagerada e grosseiramente mal trabalhada, passa. E, portanto, cumpre o seu propósito.
Mas, mais importante do que tudo, mantiveram e incentivaram os seus capitães (o sportem acaba de renovar com Adrien) enquanto formam outros e compreendem o valor de liderança em campo. No FC Porto de hoje, a braçadeira ostentada por João Pinto, Jorge Costa ou este grande senhor, o último dos capitães, Lucho González, passa de braço em braço, como trapo, sem significado algum que não o de entregar o galhardete e escolher o lado de campo.
Ainda me lembro do jogo em que Mangala se superou a si mesmo e disse que o tinha feito por "sentir o peso da braçadeira".
Não há verdadeiros Capitães no FC Porto. Helton que me perdoe, mas a sua "boa onda" não é do que o FC Porto precisa. Ainda assim, é curioso verificar que o único título verdadeiramente ao nosso alcance, esta época, é o que tem o Helton na baliza!
Imitamos os piores comportamentos dos rivais e tornamo-los nossos. Como o ficaben de outrora, enchemos o nosso plantel de "estrelas" aliciadas com o brilho do palco europeu da Champions, que se identificam tanto com o nosso clube como com a cidade do próximo jogo fora, criamos um entra e sai de jogadores, numa roda viva infinda e vendemos TODOS os Capitães, aqueles cujo respeito deixava os jogadores em sentido, a voz chamava o árbitro à razão e passava o respeito aos adeptos. Quando o meu adorado Lucho saiu, o Portismo em mim anoiteceu. Pressenti, num arrepio da espinha, o que viria aí - uma equipa desnorteada, sem rumo nem tino.
Copiamos do sportem a bonómica indiferença, o porreirismo indiferente e a atitude passiva, que levou a toneladas de jogadores sem critério, um afundanço nas contas e o ridículo nacional. Isto para lá de um cemitério de treinadores.
Temos uma liderança que não é exemplo, e ninguém que seja exemplo no balneário. Querem Mística como? Do ar do Dragão? Temos potenciais Capitães no plantel - André André à cabeça. Está na hora de atribuir a braçadeira a quem Sinta, a quem Lidere, a quem dinamize. Pode ser que comece aí uma retoma.
Está na hora da vassoura. De encostar quem não se desunha para garantir aquilo que é um lugar de sonho para todos os jogadores, desde a B aos infantis. E deixar sair quem não quer estar. Por exemplo, Casillas. Quem sabe se o facto de ter um Capitão em campo, por muito pouco que seja, não muda alguma coisa?
Qualquer adepto só pede um FC Porto à Porto, do topo à base. Porque, sem isso, não haverá retoma possível.