Meu caro Vítor,
Devo dizer-te que foi com particular agrado que te apoiei nos anos que estiveste aqui. Tinhas uma atitude Draconiana, que sei que foste conquistando com o tempo. Não foi um começo fácil esse o das tuas conferências de imprensa. Chegaste a vir a medo, mas depois começaste a levantar o teu sobrolho direito e a dar paulada a torto e a direito, o que muito me agradou.
Agradou-me sobejamente ver que soubeste organizar muito bem, que a tua/nossa equipa defendia como poucas, agradeço-te nunca teres desistido. Ganhaste os campeonatos com inteiro mérito, soubeste nunca desistir, soubeste fazer o teu trabalho e seguir em frente, soubeste dar nova vida ao fantástico João Moutinho, soubeste aproveitar um dos maiores pecados capitais do teu Nemesis, o da Soberba.
Tiveste direito a um campeonato ganho no sprint final, pelo fenomenal Momento K que me fez - e à nação Portista - explodir de alegria, coroada pelo ajoelhar do chiclas, numa metáfora da queda do Rei como pedra de xadrez. Mas não foi aí que ganhaste! Foi com a "ratice" de James Rodriguez que conseguiste uma coisa que era nossa por direito.
Nossa, Vítor. Nossa. Não sei como ainda não percebeste que tudo deves a Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa. Na altura que foste - e bem! - contestado por nós, por causa do teu soporífero jogo, por causa das tuas previsíveis tácticas e da tua falta de capacidade europeia, o Nosso Grande Presidente, na sua habitual Sabedoria, soube contrariar aqueles que o amam, dar o peito às balas por ti.
Ao que parece, ressentido connosco, rejeitaste uma renovação. Na minha inocência, pensei que terias a oportunidade de voar para o Everton. Não chegaste a ter. Mas pensei que estavas agradecido, que sabias que em nenhum outro lado do mundo terias a oportunidade de ser bi-campeão. Que te foi oferecido um momento de Sincronicidade do Destino que não é frequente. No Grande Vale da Abundância, tinhas na equipa Helton, Danilo e Alex Sandro, Otamendi, Mangala, Maicon, Rolando, o superior Fernando, Moutinho, James, Jackson Martinez, o incrível Hulk, Varela, Atsu (porque não?) e o Supremo Comandante, Lucho González. Não tinhas grande banco, mas também não era nenhuma porcaria.
Mas já viste a experiência acumulada do teu plantel? O Portismo que corria nas veias destes jogadores? A referência que era um Lucho, um Helton, a História que pulsava nas veias deste grandes Capitães, o balneário focado que faziam? Saíste ressentido, Vítor. E começaste a cravar espinhos no meu coração, Vítor. Deitaram sangue logo quando disseste, no teu ar jocoso, a tua praga vil, no MaisFutebol, que saíste para que os adeptos pudesses "experimentar outras formas de jogo, com outra dinâmica". E foi aí, Vítor, que me perdeste. Passaste a ser a tua Nemesis. O teu ressentimento pôs-te a rogar um praga com o teu sorrisinho cínico. Eu não sou estúpido. Vi na tua expressão aqueles ar gingão, muito mais comum a Sul, a dizer vamos ver quem faz melhor que eu.
Envaideceste. Engrandeceste-te. Superiorizaste-te à Instituição que fez de ti quem és. Que te deu uma massa adepta que, infelizmente, ainda te endeusa. A mim não, Vítor. Eu, que te defendi quando spikaste da tru. Defendi a tua garra e a tua frontalidade. Que fizeste tu depois, Vítor? Mostraste que não era Portismo, não era Raça, era vaidade.
Passaste a ser Narciso, contemplando a tua beleza. E outros ta alimentam. Servem-te espelhos, porque já viram que sai da tua boca o fel do ressentimento, a loucura do auto-engrandecimento. Deram-te um espaço televisivo semanal para o fazeres na primeira fila, para ires cravando setas naqueles que te ofereceram a Glória. E perpetuaste essa atitude, Vítor.
Para cúmulo, deste uma entrevista que mostrou as tuas cores, Vítor. E cravaste o Golpe da Misericórdia em mim, outra vez através do mesmo veículo, o MaisFutebol. Disseste:
«O que eu amo verdadeiramente é o futebol. Não é o clube A, B ou C. Sou portista, como adepto, mas sou muito mais profissional. Portanto, não posso dizer que não trabalharei no Benfica, no Sporting ou em qualquer outro clube.»
Obrigado, Vítor. Assim sei que não és Portista. És ressentido. Posso assim, descansadamente, ignorar-te de ora em diante. Desejo-te sorte, meu caro Vítor. Mas sabe, a soberba mata. Sobre o que disseste acerca da tua interacção com o Pep, no teu auto-engrandecimento ao que já me habituaste, deixo-te com as palavras de um superior ser, cujas palavras resistem a 3 milénios:
"O sábio coloca-se em último lugar e chega na frente de todos. Quando esquece suas finalidades egoístas conquista a perfeição que nunca buscou." - Lao Tsé
Ainda assim, um grato abraço deste que já não é mais teu,
Jorge
P.S.: É também por isso que desejo ardentemente que Julen Lopetegui ganhe, e ganhe muito, Vítor. Para que ele possa cravar a agulha no teu inflacionado ego, e restituir-te à tua forma de Portista convicto, para que te possamos receber com braços abertos, como um dos nossos. Este teu sucessor não tem nada do que te foi oferecido, tudo o que tem está a ser construído. E eu estou no canto dele. É maltratado, humilhado, mas não tem a tua soberba. E acho que tem mais auto-estima. Dá valor ao colectivo, não a si próprio. Sugiro-te que ponhas os olhos nisso.
(Obrigado ao Mancini, por ter mostrado a dita entrevista no seu comentário no sempre fabuloso
Dragão Até à Morte)