quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O Profissionalismo Amarelo


Tenho lido e ouvido por aí muita coisa sobre o pretenso heróico acto do Tozé. Tozé, meu conterrâneo, jogador que vi partir com pena mas compreensão - não havia lugar para ele no plantel, continuo a achar que não há - para o Estoril, sempre me granjeou simpatia. Sempre o achei um miúdo raçudo e competente, mas vi perfeitamente os jogos que fez na A no tempo de Vitor Pereira, e percebi que se fizesse a transição já, seria queimado o seu espaço no plantel principal.



Achei, e acho, que jogadores ainda não preparados devem ser emprestados para se poderem valorizar, ganhar calo da Primeira Liga, preparar-se para depois poder entrar na pista a toda a velocidade. Mas não posso deixar de fazer alguns reparos sobre a questão do Tozé.

É muito famosa a história do Eusébio em que o Eusébio se recusa a marcar um livre pelo Beira-Mar contra o benfas. Segundo o próprio, Eusébio terá dito que iria mandar a bola para a bancada e não para a baliza. Foi tido pelos benfas como um grande herói, como um gesto de grandioso amor ao seu clube do coração. No ano passado, Hulk defrontou-nos com o seu Zenit e cruzou para o golo da vitória, depois pediu imediatamente desculpa ao seu público do coração, e foi aplaudido por isso. Deco também fez parecido com o seu Barcelona.

O que tem em comum esses casos? Nenhum destes três jogadores pertencia já ao seu clube do coração, os seus direitos desportivos tinham sido já vendidos.

Não é o caso do Tozé. O Tozé é um jogador do Futebol Clube do Porto, emprestado ao Estoril. Devo dizer que sou, por princípio, contra a utilização dos emprestados contra o clube empregador. Acho mesmo que deveria ser regra. É do mais elementar paradoxo que um jogador vá contribuir para o resultado contrário aos interesses da sua entidade empregadora. Mas sendo que podem, e foram, vejamos e analisemos então o comportamento do Tozé no jogo. E atenção, não vou com isto fazer juízos de valor moral, ético, não estou a falar em traições nem coisa alguma. Factos simples.

- Quando Martins Indi lhe toca - efectivamente toca - atira-se para o chão, por lá ficando a perder tempo e a dar a entender que Indi teria cometido uma falta grave sobre ele, efectivamente tentando "sacar" um cartão, fosse de que cor fosse.

- Fabiano toca-lhe de facto, mas é ao de leve. Não lhe ceifa as pernas, não é pelo toque do Fabiano que ele se desiquilibraria. Faz-se ao penalty a um jeito "Enzeiro". "Saca-o" com mérito. Depois da cena das desculpas em frente aos Super Dragões, faz o gesto que se vê na foto em cima.

- Ao ser substituído, sai a passo para prolongar o tempo gasto de jogo. Os seus colegas de entidade empregadora tentam pedir-lhe para que ande no passo exigido pelas leis do jogo. Assim não o faz.

O Tozé tem todo o legítimo direito de pensar no seu futuro, em achar que poderá ser ter um papel central no Estoril, coisa que eu acho perfeitamente possível e provável. Terá já feito contas à vida e percebido que o meio-campo do FC Porto é densamente povoado por grande qualidade, e dificilmente poderá ser titular. Tudo isto é legitimamente devido e permitido ao Tozé. Não é, contudo, Portismo, como diz e bem o Cativo Das Antas. Não é, também, ser um "grande profissional". A entidade que lhe paga não é o Estoril Praia. Outros jogadores, por ventura com menor valia técnica, nem defrontam o FC Porto. E, já agora, de um "grande profissional" espera-se qu cumpra o Tozé aquilo que o Miguel Lima deseja.. Porque parece sempre haver uma transcendência de eficácia e de querer quando se defronta o FC Porto.

Está Tozé no seu legítimo direito de pensar nos seus interesses. Não os contesto. Assim como eu tenho o direito de achar que o seu comportamento no jogo foi tudo, mas tudo, menos Portista.

Compreendo também que o sr. Augusto Baptista Ferreira, que muito estimo e considero, ache que é um assunto inútil. Não acho. Para ser Portista não basta falar que se é. É preciso sê-lo. É preciso que as vitórias sejam amargas, os golos sejam fel. Mas esta é só a minha opinião.

6 comentários:



  1. «Depois da cena das desculpas em frente aos SuperDragões faz o gesto que se vê na foto em cima»

    o pai dele faleceu no ano passado, daí o gesto a apontar para o Céu...

    ps:
    recuas aos tempos a preto-e-branco. não seria preciso tanto. eu não me esqueço do que fez um certo e determinado Jorge Ribeiro, a 06 de Abril de 2008.
    para quem não se lembra, o Boavista beneficiou de uma grande penalidade ao minuto 24', estava o marcador em 0-0. a forma como o jogador em causa marcou o penalty foi, no mínimo, displicente.
    graças a esse préstimo, no final daquela época, assinou um contrato de quatro temporadas com a agremiação de Carnide...

    abr@ço
    Miguel | Tomo II


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    1. Caro Miguel,

      Como é óbvio desconhecia esse porMaior, mas, no fundo, até aumenta um pouco o teor do que estou a dizer. Se fosse um daqueles golos que nos custa, não acredito que o dedicasse.

      Abraço

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  2. Bom Dia Caro Portista

    Como leitor assíduo que sou deste espaço "blogueiro", estou em 90% das vezes de acordo com o que aqui leio. No entanto, desta vez, este ponto está do lado dos 10% que discordo. A razão é a critica ao PORTISTA Tozé. Para além de ser inútil e descabida, pois só se está a queimar um jogador do nosso clube. É um caso exemplar, de "lose-lose", ou seja ambos perdemos. Perde o jogador por o estarmos a queimar e perdemos nós um jogador com talento e enorme potencial para no futuro ajudar o nosso clube. E por fim o erro crasso que encontrei foi o facto de concordar, e bem, com o profissionalismo do Tozé, afirmando, inclusive, como um exemplo, ao contrário do que fez "o apreciador do marisco tremoço". E o erro crasso, qual é? É o de afirmar que o Tozé deve ser profissional para marcar BEM o penalti. Mas não deve ser profissional para sacar um penalti? (bem assinalado diga-se) demorar no chão quando sofre falta? (bem assinalada diga-se) Ou demorar a sair de campo? Um VERDADEIRO profissional não deve apenas marcar bem o penalti. Deve fazer tudo para que a sua equipa ganhe o jogo. Eu como portista não esperaria outra coisa de um jogador á PORTO. Um jogador á PORTO é educado para vencer, independentemente do clube que esteja a representar. Se o Porto não quer enfrentar jogadores á Porto, é simples, não os empreste ou (não sei se é "fairplaymente" possível) colocar uma clausula em que não poderá defrontar o FC PORTO, quando emprestados. Termino com duas questões. Como seria se realmente ele se tivesse comportado como o Eusébio? E como seria se os jogadores que nos estão emprestados (Casemiro, Tello ou Oliver)se comportassem como o Tozé?

    Abraços PORTISTAS

    Helder Silva

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    1. Caro Hélder, antes de mais muito obrigado pelo seu comentário e muito me honra a sua assiduidade.

      Antes de mais, não estou a "queimar" o Tozé. Como diz o Miguel Lima no seu último post que já referenciei, espero que ele faça o mesmo contra todas as outras equipas.

      Escrevi este post porque não considero que um Portista faça o anti-jogo que ele fez. Não acho, ponto. Se fosse QUALQUER outro a fazer o mesmo, assim o denunciaria. Cavar um penalti, a mim, nunca me parece bem. Confesso-lhe que, ainda no início do ano passado, quando El Comandante falhou a marcação de um penalti que também foi forçadito, senti alívio. Não é assim que quero ganhar jogos.

      Respeito e compreendo, como já disse antes, que não se concorde com o meu ponto de vista. Evidentemente não sou favorável a apertões no túnel. Mas posso dizer que aquela cena da saída de jogo chocou-me, chocou-me tanto como se visse o meu querido Lucho vestido de vermelho e branco.

      Soou-me a traição. Pode ser doença da minha parte admito-o. Mas acho que um Portista não tem que beneficiar. No entanto, prejudicar também não pode ser.

      Respondendo às suas questões: Não quero ser favorecido injustamente, nunca critiquei o Tozé por marcar o penalty competentemente. Embora devo dizer-lhe, já vi o Hulk falhar um penalty contra nós, não de propósito, mas porque simplesmente não conseguia. No entanto, insisto, não critico o Tozé por marcar competentemente o penalty.

      Não me sentiria bem que os emprestados jogassem contra a sua entidade empregadora. Nem Casemiro, nem Tello, nem, Óliver. Acho que essa regra de não utilização deve ser, directa ou indirectamente, posta em prática, porque afasta de uma vez por todas qualquer suspeição.

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  3. foi um pulha quando tentou expulsar o ~INDI, ponto!!

    No restante esteve como deve estar...

    MAs o momento do indi, eu não me esqueço....

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  4. Meu Caro Jorge Vassalo,

    Com o devido respeito e consideração, reforçado depois de ter o gosto de o conhecer, aproveito, na sua análise ao tema Tozé, a sua chamada de atenção ao post do Augusto Baptista Ferreira : "Coisas inúteis com as quais os Portistas perdem tempo desnecessáriamente". Totalmente de acordo com o Augusto. O Tozé é, para todos os efeitos jogador do Estoril, a questão do empréstimo não é tão linear como parece, o que se exige, ou o que se pede, como queiram, ao Tozé e a todos os jogadores é que sejam profissionais na sua função em todos os jogos, e aí estamos todos de acordo. Agora e sempre, o que me interessa é o FC Porto, e neste momento o Tozé não é jogador do FC Porto .

    Um abraço e...

    FC PORTO SEMPRE

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