Foi uma note boa. Uma daquelas que me ficará na memória. Há noites assim, com uma certa ressonância quase mística, onde os paradoxos que normalmente se anulam, aqui se entrecuzam num bailado perfeito e levam a uma fluência quase ondular. Foi o caso de ontem. Desde o momento em que o meu caro amigo
Miguel Lima me veio buscar a casa até à hora em que retornei, todo aquele momento foi suave poesia de contrastes e momentos felizes. Chegamos ao Dragão, encontramos aquele que é já um hábito feliz nos jogos em casa, a companhia do senhor
Vila Pouca, do senhor Manuel Rocha (que encontramos fortuitamente - e ainda bem!) e daqueles que eu acho que são os verdadeiros Dragões de Ouro: João Santos e Ana Neves. Este casal Portista está lá em todas as horas, a fazer do seu Portismo o seu grande amor - para alem, claro, do seu próprio. Tenho-me enriquecido também ultimamente e felizmente, com a sua companhia nos jogos - uma paleta colorida dos verdadeiros tons Azuis e Brancos.
O primeiro contraste surge logo no 11 escolhido por Lopetegui, uma mescla dos titulares e das segundas linhas, sendo que felizmente esse contraste foi benéfico para os dois. A entrada de Tello, Danilo e, principalmente, Jackson deu um colorido bonito à noite. Dos pés do nosso grande ponta de lança sairia o seu momento histórico, de calcanhar, o golo que o torna o maior goleador do Dragão. A dança entre posições de Campaña e Rúben Neves potenciava o paradoxo do encontro. Como podia uma equipa que trocava mais bola do que atacava, estar a ganhar desde os 6 minutos. Simples. Um domínio avassalador que fazia do sentido único uma coisa natural.
Mas foi com a entrada de Quintero por troca com Campaña e para o seu 10 natural que tudo cresceu, já na segunda parte. Quando condensado, como qualquer pó mágico deve ser, em quantidade de tempo necessária e suficiente, sem exageros, faz as rodas do relógio mexer e a maravilha acontecer. Juanfer Quintero soltou a equipa, deu golos a marcar, fez passes, rompeu muros. É para isso que está cá, não para ser extremo mas para ser Mago. E Mago foi. Também porque estava cá. Com a cabeça no jogo.
Pelo meio, mais uma perda de bola estúpida, a permitir um contra-ataque rápido e os já costumeiros - infelizmente - 100% de eficácia da equipa adversária, perante uma defesa completamente descoordenada. A rever com urgência, Mister.
Logo a seguir Gonçalo entra como um terramoto, marcando e sacando um penalty para que Evandro sossegasse definitivamente o nosso coração Portista quanto aos penalties. Temos marcador. E assim foi, ainda assim com uma tentativa grave de colinho, que se passou uma noite muito agradável e fresca, comigo, o Miguel e o meu amigo Nuno a partilhar uma refeição regada de conversa futebolística ao cair da noite. Uma noite a relembrar. Como um jogo aparentemente previsível e morno pode ficar na memória Portista como um exemplo da simbiose perfeita dos contrastes.
GOLOS
Jackson - O Cha Cha Cha é uma máquina goleadora. Frio, incisivo, guerreiro, sabe ter a suavidade e letalidade de um bom PL, fazendo ainda boas compensações ofensivas quando o jogo não lhe chega. Muito completo, embora eu gostasse que ele fosse mais ponta de lança e menos médio.
Gonçalo Paciência - Domingos foi um dos meus heróis Portistas na minha adolescência, tenho a impressão que o seu imponente filho - muito mais corpulento que o Pai - será um dos heróis da minha idade adulta, não tarda. Muito sábio na entrada ao jogo, sabe povoar bem os espaços, tem manha, ratice e força para querer estar nas jogadas. Não é um mero ponta de lança espectador. É, sem dúvida, o futuro. Que bom que a lesão de Adrián possa ter aberto o caminho para que Gonçalo Paciência possa ser feliz numa casa que, como ele bem lembrou, é a única que conhece há 14 anos. Golo celebrado como o do seu Pai, Chama de Dragão em estado bruto, pronto a ser delapidado.
O Duo Dinâmico - O entendimento entre aquele que, para mim, é o reforço deste ano que mais veste a camisola Portista - José Campaña - com toda a sua saudável agressividade e espírito de luta e presença nas jogadas e a superior leitura de jogo do nosso menino Rúben, deram uma solidez ao meio campo que permitiu que o jogo fosse de sentido único enquanto esteve em acção. Ora 6 ora 8, ora avançando ora recuando, o pêndulo Portista bailado a duas mãos, superior qualidade.
Quintero - Juanfer Quintero ontem jogou com vontade
. Juanfer jogou na posição dele. Juanfer tirou a batuta do bolso e foi o maestro da
Cavalgada das Valquírias que foi o ataque desde o minuto 54. Pena que não seja tão regular e tão incisivo também na defesa. Mas Juan Fernando Quintero é um Mago 10, e é aí que, definitivamente deve jogar. Um maravilha de jogo.
Tello - Certo que não marcou, mas é bom ver que não deixou de tentar, com o marcador em muitos ou poucos golos, até ao fim, um e outro e outro (6 no total) remates do catalão, outra porradona de assistências, um jogo interventivo e presente com um infeliz sadismo de lhe negar o golo que esta vez mereceu.
FALTAS
A Falha Defensiva da Praxe - Não gostei de ouvir Lopetegui dizer que quem muito ataca expõe-se a este tipo de jogadas. Pareceu-me desculpa da preguiça. Uma equipa só é consistente se atacar bem mas defender melhor. E está visto que este é o ponto que tem de ser bem trabalhado, porque não há apoio na perda de bola, nem coragem de fazer a falta, nem compensação solidária de posições. Muito trabalho pela frente, sem desculpas!
Académica - O conjunto de Paulo Sérgio tem sido sistematicamente goleado por nós, por uma razão simples, que se prende com o facto de se demitirem de jogar. É confrangedor e estranho ver uma equipa a perder e a jogar atrás, sabe-se lá porquê e para quê. Nem a perder reagem. E é isto. Com mais acerto de Tello, teriam levado uma goleada absolutamente
Titânica e humilhante. Enfim. Triste. 18 equipas.
Arbitragem - Tiago Martins já se alistou na Tropa do Colinho. Um desastre, que não tenho medo de dizer, foi propositado. A dualidade de critérios foi escabrosa, o espoliar do penalty e o amarelo a um dos jogadores mais correctos e nobres de todo o campeonato português é ridículo. Mas é assim que se reage: contrapondo com golos quem nos quer derrubar.