Ao Serviço Do Futebol Clube do Porto?

O elan do jogo, do risco, do fio da navalha enquanto entusiasmador, tão bem descrito por Fiódor Dostoiévski na sua imortal obra O Jogador, são uma espécie de perfume inebriante que pode conduzir ao mais profundo dos Dantescos infernos no mais curto dos tempos. 

Quando um jogador se vê a ganhar, numa streak, tende a ignorar o valor do risco que corre, aquilo que já acumulou e a estratégia de contenção e de ganho mais ou menos controlado que um retorno lhe traga. Aquele que persegue a paixão da emoção tende a apostar todas as fichas num número, todo o dinheiro num cavalo, fazer all-in na sua mão.

Este carrossel de emoções pode trazer a glória como pode levar ao profundo declínio. Nos últimos anos, a SAD do FC Porto tende a apostar nessa estratégia, que já teve dois problemas, no passado recente: um ano que não gerou as mesmas receitas deu um prejuízo importante e levou à descaracterização da identidade no balneário do seu plantel principal da equipa de futebol. Quando se compram e vendem valores à taxa de 2/3 anos sem manter um núcleo base de pedras fundamentais, está-se sempre a começar do zero.

Não escondo que o Empréstimo Obrigacionista me deu a impressão que se vai prosseguir nos mesmos moldes. Mas algumas coisas são importantes verificar, nos próximos meses:

- É importante saber se o esforço financeiro que se está a fazer se traduz numa estabilidade de plantel. Tello já manifestou que quer continuar e, com algumas vendas que parecem alinhavadas, será possível manter a espinha dorsal da equipa, daí incluindo atletas da formação e algums aquisições, que já terão um sistema de jogo absorvido pela maioria e no qual será mais fácil entrosar-se.

- É preciso ver quais são as prioridades no próximo ano. A prioridade já não pode ser a Champions League. Se se verificar um abandono de competições que dão títulos em prol de uma outra que, realisticamente, se torna cada vez mais difícil vencer, ter-se-á provado categoricamente que a SAD quer continuar na sua economia de casino e não se importa verdadeiramente com a modalidade que lhe serve de base para isso.

- Fundamental uma clarificação comunicacional. Uma SAD não interventiva e bonómica será forçosamente uma SAD que se preocupa pouco com a percepção do Clube que gerem por parte dos seus sócios. Se continuarem a deixar o treinador só, no bom e no mau, farão de Lopetegui um bode expiatório para a obtenção das mais valias financeiras, enquanto o frontman queima em lume brando. Assim, os sócios irão divorciar-se do Clube que não sentirão mais que os representam.

- Marketing e percepção pública do Presente e Futuro do Clube. Deceto que nenhum Portista quer o FC Porto governado de fora para dentro, mas se o foco continuar a ser o Museu, mais as suas infindáveis promoções, dará a noção de que o melhor já passou e que não vale a pena continuar a ser. A cristalização no tempo é perigosa e bafienta. É necessário à classe dirigente do Futebol Clube do Porto perceber que os adeptos Portistas querem uma tribo onde todos são de todos. Viu-se a reacção positiva ao único momento em toda a época em que a SAD foi respeitante do seu ADN - no jogo da Taça da Liga contra o Braga. 

Não seremos reles por sabermos quem somos, teremos Identidade.

Se estes quatro pontos se verificarem nos próximos meses, estarei muiro confiante para o campeonato de 2015/2016. Estou em crer que a SAD trabalha em prol do Clube. A prova dos 9 segue dentro de momentos.

De contrário, nuvens negras se avizinham e algo terá de ser feito para que se relembre a quem dirige o que está lá a fazer.