sábado, 20 de dezembro de 2014

Auto-Pilot


Quando entrei para o Dragão, muito bem acompanhado do meu amigo Miguel Lima, a enciclopédia viva do Tomo II, e depois de uns minutos de sempre boa conversa com o grande Vila Pouca, do Dragão Até à Morte, o João e a sua namorada, exemplos de grande Portismo, que tinha de ser sempre quem saiu à rua nessa noite gelada - não quero saber quanto graus estavam, vi o jogo no frigorífico - , esperava um FC Porto que fosse reagir com uma atitude sufocante a uma derrota indigna. Não foi isso que encontrei. Encontrei um FC Porto a ligar e desligar conforme necessidade, como uma entrada muito nervosa e algo ansiosa. Pouco perigo nos 10 minutos iniciais, a ligar as geladas turbinas a partir daí e a começar a criar jogadas de ataque e intensidade.  

Sem um grande entrosamento, diga-se a bem da verdade, na única jogada de jeito que fez o jogo todo Herrera rompe para Danilo e este é claramente e fortemente carregado na área, penalty. Penalty assinalado, uau! Confesso que, como sócio Portista que sou, já não esperava que a arbitragem fosse outra coisa que não perniciosa e tendenciosa. Não foi, ainda bem. Acho que deviam ter sido mostrado mais amarelos, mas também gosto de arbitragens que deixem jogar. O árbitro que deixe que o jogo aconteça não vai ter minha oposição. Mas adiante. O penalty, muito bem marcado por Quaresma, sempre o mais raçudo dos jogadores em campo - embora sem os cruzamentos que o caracterizam -, sossegou os corações dos jogadores que começaram a acalmar e a soltar-se mais, num jogo muito mais fluido, que teve como corolário mais uma boa arrancada de Tello com um bom cruzamento para Jackson, que fez um bonito golo, em jogo e não off-side, como se insinuou.


A partir daí, aconteceu uma coisa que já acontece no FC Porto há muitos, muitos anos. Desligaram o botão, relaxaram - demais! - e não fizeram mais nada se não jogar em piloto automático o resto do jogo, com passes errados, passividade e a deixar Lopetegui à beira de um ataque de nervos. Nem a segunda parte veio mudar isso. Lopetegui pôs Evandro, mas não tirou Herrera, tirou Tello. E deixou aquele sistema de jogo confuso, com, mais uma vez, Óliver demasiado vagabundo no mau sentido, e sem definição clara de posição. A entrada seguinte de Quintero veio agitar as águas, mas pouco. Que remédio, senão pôr Brahimi, aos 85 minutos. Daí até final, um jogo mais intenso, dois golos naturais.

Sejamos francos: Já estava tudo em modo "vamos para casa". E isto não é inédito, noutros anos, noutros tempos. No tempo de Vítor Pereira e Villas-Boas, e naturalmente sem culpa para os treinadores, tantas vezes depois do 1-0 veio o relaxamento, como se o resultado estivesse conseguido. Se outra equipa fosse que não o fraquíssimo Setúbal - parabéns sr Figueiredo pelo alargamento a 18 equipas! - talvez mais perigo tivesse sido criado, e um golo em contra teria sido natural. Ou não. Sei lá. Barrigada cheia para o Natal. E siga a Marinha.

GOLOS

7 Minutos de Brahimi - Ao contrário do seu colega de equipa, Brahimi assimilou a mensagem. Entrou perto do final, aos 86 minutos, mas não foi por isso que deixou de provar ao colega que entrar perto do fim não é mais que uma oportunidade, e não um insulto. Ao contrário do seu costume recente entrou com jogo directo e passe simples, a rasgar e desmarcar, e foi naturalmente seu o terceiro golo. Jogou como no início, o desiquilibrador que sabe ser. Foi recuperar a bola de um mau alívio, como em San Mamés, mérito de quem está atento e forçou um claro penalty. Muito bem Yacine, lindo menino! Já te passou a febre Saint-Germain? Óptimo! Então vai lá para a CAN, não te canses muito e chega inteiro.  Gosto de quem tem a humildade de aprender com os erros.

Campaña - Para mim não foi surpreendente que, mesmo tendo jogado zero vezes com a equipa, Campaña já tenha provado que é um seis que defende bem, solta o ataque, apoia centrais. Ainda não o vimos a ser patrão de meio campo como já o vi ser, a fazer passes de rotura como já o vi fazer, e a marcar livres de uma forma superior como já o vi marcar. Pediu para ser substituído, ainda não tem ritmo, mas tem muito futuro. Digo-o sem rodeios. Rúben Neves e Campaña. Para mim a posição 6 no seu melhor.

Óliver -  No próximo ano sei que não poderemos gastar muito. Mas Óliver tem que ficar cá, dê por onde der. Que classe, que leitura de jogo, que fome de bola! Nem no pior dos jogos, com a perdulariedade dos colegas, Oliver baixa o ritmo. Desadequado a extremo (?!) mas sem deixar de jogar bem, Óliver é o claro pilar da equipa, que gostava de ver cá muito tempo!

Super Dragões e Colectivo 95 - Embora estranhamente em menor número, no caso dos Super Dragões, incansáveis no apoio à equipa todo o jogo, a recuperar cânticos de outros tempos, e uma banda sonora com mais qualidade que o jogo que se viu. Obrigado pessoal! Fizeram a diferença. A tarja dos Super Dragões foi emocionante. "Só és derrotado quando desistes de lutar"!  É assim mesmo! Obrigado por estarem com eles e connosco! 

FALTAS

Herrera -  Quando não joga, não joga mesmo! Que foi aquilo! Principal responsável pela falta de jogo interior, tirando dois bons passes, jogou lento, complicativo, sem critério, uma absoluta nulidade. Hector, volta lá do teu quente México com a cabeça no sítio, pá!

Decisão Final de Tello - De que serve ter uma hiper-velocidade e capacidade de rotura se, cada vez que alguém se aproxima, se tropeça e se perde bolas? 3 vezes Tello! 3 golos que seriam certos deitados ao lixo, porque queres levar a bola até à rede a correr. Remata ou passa! É assim tão complicado? 

Trocas de Bola no Sector Defensivo e Passes Laterais à Queima - Duzentas flexões para quem fizesse essa parvoice! Ninguém desmarcado? Bola para o 6, bola para a frente! Nunca bola para o lado!

Quaresma a partir do minuto 50 -  Quando acaba o gás ao Ricardo, fica complicativo, peso morto, e eucalipto. Seca tudo, fica nervoso e dispara sem critério, naquela de "vou ser o herói". Por isso, insisto, acho que não deve jogar de início. Ou então, ser substituído mal se veja que chegou ao limite. Jogamos com 10 algum tempo. E isso não é digno para o FC Porto, nem para o Ricardo Quaresma.

Domingos Paciência -  Que raio de conferência de imprensa foi aquela, Domingos? Tu, que és um dos meus heróis, que foste o mais Portista dos Portistas - acho que ainda és! - e que tens os teus filhos aqui a fazer um brilharete, vens-me dizer que ganhamos pelos árbitros!? A tua equipa é fraca, mesmo quando lhe foi dada a posse da bola não soube fazer nada com ela! Não foi o árbitro que te derrotou. E foi uma equipa em off! Um FC Porto em condições tinha-te deixado pulverizado! Não tu, meu amigo, não tu! Mas eu gosto de ti na mesma, pronto.

11 comentários:

  1. Completamente de acordo, aquela segunda-parte...

    Abraço

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    1. Vamos pensar que eles estavam a contar os minutos para as férias. Eu acho que sim. Ainda assim gostei da atitude do Lopetegui. Aquele "Coño mierda!" aos saltos quando o Alex Sandro faz falta na lateral da nossa área, não é de um treinador conformado. Bom sinal!

      Abraço

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  2. Caro Jorge,
    Objetivo Cumprido...
    O jogo não foi brilhante, mas o FC Porto conseguiu aquilo que não conseguiu no passado Domingo, ou seja, ser eficaz.

    Cumprimentos

    Ana Andrade

    www.portistaacemporcento.blogspot.com

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    1. Tem razão Ana!

      Fomos eficazes! Isso é importante!

      Cumprimentos

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  3. Caro Jorge,

    De acordo com quase tudo. Há só um ponto que penso ser necessário escamotear. Na verdade tens razão quando dizes que o Herrera foi um dos responsáveis pela falta de jogo interior. Eu acho que é uma das nuances do modelo estratégico de Julen. Fixar dum lado e rodar rápido para o outro (principalmente para o lado direito, onde Danilo e Tello acrescentam mais dinâmica). Se temos jogadores que percebem melhor o jogo, como Óliver ou Evandro, ou Brahimi, que procura sempre a tabela interior (ou Quintero, ofensivamente), então teremos mais jogo interior (1º golo ao Athletic em casa, por exemplo), mas sempre pelas características dos jogadores e não do nosso modelo. Ou seja, estamos um pouco "formatados" para lateralizar o jogo ao máximo (quantas e quantas vezes Oliver tem autênticas avenidas para avançar e dá prefere quase sempre lateralizar) e isso retira-nos muito poder de fogo. Ontem, por exemplo, sendo certo que a opoisção era muito fraca e que a atitude dos jogadores foi demasiado "relaxada", só naquela 1ª parte, após o 1º golo, podíamos ter chegado ao intervalo com um resultado histórico (ao intervalo!), se não houvesse uma preocupação constante de lateralizar o jogo.

    Um abraço!

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    1. Toda a razão caro Z,

      Demasiada lateralização torna o nosso jogo previsível. Mas olha que um Rúben e um Campaña bem afinado podem ajudar muito nisso, tem boa visão de todo o jogo e não palas nos olhos. Quando jogamos em Arouca com jogo interior fizemos um jogo demolidor.

      Acho que o JL vai ver isso!

      Abraço

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  4. AVISO À NAVEGAÇÃO: Comentários divergentes são autorizados, desde que devidamente assinados. Obrigado.

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  5. Caro Jorge,

    Esse encontro Pré-matche, com os estimados Vila Pouca e Miguel, trazem-me gratas recordações que espero repetir na primeira oportunidade, infelizmente, não com a frequência que gostaria, por razões óbvias e do vosso conhecimento.
    O jogo de ontem, valeu sobretudo pelo objectivo alcançado, a vitória, o que já foi bom. Mas, sejamos francos, aquela segunda parte foi pouco menos que indigente e a nossa crença, por certo, não se alicerça naquela prestação. Melhores dias virão concerteza.

    Aproveito a oportunidade, para lhe desejar, a si e a todos os que lhe são queridos, bem como a todos os Portistas, um bom Natal e um bom Ano que aí vem, bem, bem Azul e Branco.
    Abraço e...

    FC PORTO SEMPRE

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    1. Caro Fernando,

      O facto do nosso treinador estar tão feliz como nós acerca da segunda parte (havia de te-lo visto a gritar e esbracejar no banco) deixa - me certo que foi puro desleixo pré Natal. E o FC Porto da primeira parte agrada-me!

      Umas festas felizes para si e os seus.

      Abraço

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  6. Bem, é a primeira vez que comento aqui, vindo do blogue do sr. Vila Pouca. Tal como escrevi por lá, ganhamos, e acho que foi o mais importante. Segunda parte fraquinha, mas espero que tenha sido uma excepção. Mais uma vez gostei do nosso treinador. Depois do Quaresma, Brahimi no banco. Aqui não há vedetas e o que conta é a equipa. De senhor, também, a atitude dele face aos bastardos da CS. Perante certas questões, o que apetece é mandá-los para a PQP mas ele responde sempre com correcção. Tem princípios, tem valores e sabe de bola. Não é por acaso que andou pelas Espanhas a treinar jovens e espero que tenha muito sucesso por cá, porque isto não é só saber jogar à bola, é muito mais. Ainda na semana passada, no jogo do Guimarães, o Hernâni simulou uma agressão (já o Deyverson tinha feito o mesmo no jogo anterior do Belenenses). Tenho gostado de o ver jogar e já pensei uma ou duas vezes: "Vão buscar este gajo para o Porto", mas assim não. Quem faz cenas destas está melhor no teatro. Pode tratar bem a bola, mas falta-lhe o resto. E o nosso Lopetegui sabe fazer deles homenzinhos. E mesmo que não sejamos campeões este ano porque o andor vai forte, teremos um futuro risonho. Bom Natal e que 2015 nos traga um grande Porto.-João.

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    1. Caro João,

      Do Guimarães virá certamente o André André, até pela linhagem, mas não estou a ver quem se superiorize a nós.

      Concordo consigo, a cara que o Lopetegui faz quando lhe perguntam outra vez da frase do Oliveira é de antologia!

      Mas olhe que eu acho que 6 pontos não é nada!

      Abraço

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