Nem bom nem mau, antes pelo contrário. Se me pedissem para resumir este jogo, te-lo-ia feito desta forma. E isso bastaria para se perceber o "espírito da coisa" de ontem.
Em primeiro lugar, convenhamos, estávamos todos incapazes de saber o que tínhamos pela frente. Por muitos vídeos que tivessem visto, sou capaz de apostar que a preparação de outros jogos é feita de uma forma diferente. E isso notou-se. Se entramos à Porto, à primeira reacção amarela notou-se a confusão das marcações, a falta de noção clara de quem tapava o quê, quem dobrava quem, quem pressionava este e aquele. O que, diga-se a bem da verdade, o Maccabi não fez. A forma como controlaram completamente Aboubakar e como punham sempre um enxame à volta de Brahimi mostrou que eles sabiam exactamente quem nós éramos.
Num dia histórico, em que Rúben Neves se tonou o mais jovem Capitão de sempre da Champions League, notou-se que o nosso menino acusou um pouco o peso disso e não esteve tão esclarecido como noutros jogos. Aliás, se há alguém a quem se podia colocar um balão de banda desenhada a dizer "???" sobre a cabeça, era mesmo a Rúben. Valeu Imbula, o Transportador, para salvar uma certa falta de "saber o que fazer" de Rúben neste jogo. É difícil estar a estudar um adversário no campo.
Mas, no pico da confusão, numa altura em que a "onda amarela" estava a subir, Layún faz um exímio cruzamento para a cabeça de Aboubakar (não, Queiroz, não foi um frango, experimenta levar com um adversário a rematar de cabeça a 50 cm da tua cara) que acalma os corações Portistas, e, pouco depois, o mesmo Rei Bakar faz uma assistência para a fantástica passada vertical de Brahimi que sentencia o jogo num excelente remate.
E, honestamente, acabou. Daí para a frente - estávamos a caminhar para o fim da primeira parte - foi gerir o resultado, e pensar no jogo com o Braga, o próprio André André admitiu. E notou-se.
Na segunda parte, portanto, deu-se a vez ao Maccabi, baixou-se as linhas e jogou-se no típico "ok, pronto, já está" que, insisto, é uma característica do FC Porto de antes de Lopetegui. Quando Imbula sai, por troca com Danilo, vai-se o controle do jogo, a posse é dada ao Maccabi, mas também, e é facto, nunca se deixou de procurar o terceiro. Tivemos bons apontamentos, mas jogamos num claro modo de "tirar o pé" e isso notou-se, excepto Cristián Tello, que entro no lugar de Corona, e que por pouco não marcou - merece titularidade - André André e Maxi, sempre bons em tudo e todo o lado e Brahimi que, passe alguns exageros, foi o maestro deste jogo.
Tivemos uma vitória boa, esclarecedora e justa, sem nenhuma exibição de gala. Em Tel Aviv tenho a certeza absoluta que faremos bem melhor. Porque podemos. Mas, não deixo de sublinhar, com um sorriso nos lábios, que é a primeira vez que o FC Porto de Lopetegui tira o pé na Champions a pensar num jogo do campeonato. Fico feliz. Consciência de que, domingo, é para vencer ou vencer, e ficar ainda mais líderes.
Ah, e já agora, o "Lopatêgo" leva 20 jogos a vencer em casa - segundo melhor da História do FC Porto, atrás apenas de Artur Jorge. Impressionante. Pelo menos, para mim.
Brahimi - O nosso pequeno argelino parte os rins de tudo e todos! A intensidade que ele está a pôr nos jogos - e diga-se, não só da Champions - está uns furos bem acima daquilo que se viu, em média, no ano passado. Como este ano não há CAN, esperemos tê-lo assim até ao fim, e dar-lhe o título que faz por merecer. Foi a referência de um ataque algo perdulário, e pareceu sempre andar a uma velocidade mais rápida do que a dos demais.
As formigas atómicas - Maxi e André André são, neste momento, absolutamente indispensáveis no FC Porto. A forma como não desistem, como resistem a tudo que é ataque e como ainda se conseguem superar, é fantástica. São o estilo de jogadores que mais aprecio - não fazem exibições de encher o olho, jogadas fantásticas per si, mas são a "cola" de tudo isto. Absolutamene brilhantes, como sempre.
Imbula - Cada vez mais, a pedra angular do FC Porto. Muito se reclamou com Imbula, mas hoje em dia, é a primeira definição do ataque e a primeira linha da defesa. Lopetegui poupou-o para Braga. Fez bem. Mas que se notou, notou.
Cristián Tello - Absolutamente impossível de marcar sem falta, é bom ver o nosso Tello de volta àquilo que nos faz sonhar. Um extremo de qualidade, bom a cruzar, difícil de defender, sempre à procura do golo. Merece titularidade, já.
Casillas - 51 jogos da Champions sem sofrer golos. O guarda-redes que consegui esta marca impressionante foi Iker Casillas. E foi com a nossa camisola. E com aquilo que faz o nosso ser um dos melhores do mundo - todo o jogo a dormir, no final, uma defesa extraordinária a manter a nossa baliza inviolada e o nosso registo impecável. Bravo, San Iker.
Tremelique e desnorte defensivo - Bem sei que enfrentavam o escuro do desconhecido na frente, mas entregar a posse de bola, falhar dobras e permitir ao Maccabi entrar por ali dentro só não deu asneiras por milagre. E por San Iker. Mal Danilo, mal Layún, mal Rúben a defender - este último acho que a acusar a pressão da Capitania. Curiosamente, a posse de bola controlada só chegou com...Herrera. Estranho. A ver e rever e re-rever.
Corona - Nada. Zero de magia, zero de explosão, zero de interesse. Passou totalmente ao lado do jogo. Nos antípodas de Brahimi.
Ok, pronto, já está - Aplaudo que se pense no campeonato, mas caramba, menos, ok? Obrigado.
ADENDA: Ridículas as capas d'A Bola e do Record. Mas continuem, por favor. Quanto maior o ego, maior a queda. A mais melhor equipa deste e d'alem mundo vai precisar do vosso... colinho.