Manita Trivelada

Mais uma noite boa. Vou confessar, estava preocupado. Vim uma hora mais cedo, ter com o caríssimo Vila Pouca, o senhor Fernando Pinto e o grande Z, para o nosso já habitual - e sortudo, não é João Santos? - pré-match. Estava a chover com alguma intensidade pelo caminho e pensei no jogo com o Boavista. Lembrei-me que agora o Dragão tem a Photosynthesis. Já não haverá mais bolas enlameadas. E quando cheguei ao Dragão a chuva foi lentamente parando. Boa. Não voltou a chover. Mas confessei-me também apreensivo. Afinal o Paços tinha ganho ao benfas, com uma exibição convincente, ao contrário da do FC Porto na Madeira. Mas não, estava errado. O nosso FC Porto entrou no campo para vencer. Para vencer, não! Para cilindrar! Pressão alta, intensa, sufocante, a um Paços que esperava muitas trocas de bola na zona defensiva e muita posse pela posse (Vade Retro!), mas ao fim do primeiro quarto de hora já a baliza do Paços tinha sido sobejamente ameaçada. 

Jackson, Tello e Quaresma a morder as canelas de tudo o que era amarelo e mexia, Herrera, Óliver e Casemiro a interromperem qualquer linha de transição do Paços e Alex Sandro a pegar na batuta desta vez e a conduzir o ataque fortíssimo. Justamente Alex Sandro cruza bem e Jackson marca... à Jackson. Estava aberto o marcador que parecia teimosamente fechado durante mais tempo que o habitual, a destoar do jogo em si, como uma criança birrenta que não queria abrir a mão. Mas o FC Porto não relaxou, continuou em cima do Paços Numa jogada rápida de Jackson, Hélder Nunes puxa-o fora da área, mas Jackson, inteligente, cai dentro da área. Marco Ferreira, em mais uma arbitragem... criativa... fica no meio da ponte e dá o penalty, mas não expulsa o jogador pacense. Quaresma, corajosamente, assume a marcação do penalty, que marca de forma primorosa, tenso encostado a primeiro poste, indefensável.

Mas o melhor estava para vir. O trademark Quaresma, do qual todo o Portista já tinha saudades. Finta, mede e.. trivela! E que bela trivela! Que golaço! Que hino! Dragão eu euforia, felicidade a jorrar pelos poros, alegria. Apoteose merecida para Ricardo Quaresma, pelo que lutou, pelo que fez. Nunca desistiu. Vai para o intervalo um FC Porto motivado, sereno, e fica-se com a sensação de que o jogo poderia ter acabado aqui. Nada de mais errado! Logo a abrir a segunda parte , Óliver rouba a bola, passa a Tello, este a Jackson que, inacreditavelmente finta 4 jogadores do Paços e cruza para um Herrera bem posicionado que empurra para o fundo da baliza. Depois, o FC Porto descomprime, o Paços cresce um pouco e é o tempo de Fabiano defender um punhado de boas bolas e o poste devolver um golo certo pacense. Natural, uma vez que com 4-0, o ritmo baixou um pouco. É bom ver que a tradição não se mantem e, desta vez, não houve 100% de eficácia adversária nem ofertas defensivas. Apesar de, aqui e ali, se ter notado uma certa ansiedade defensiva, o facto é que houve sempre apoio e critério nesse apoio, e tudo ficou bem. 

Aos 80', Romeu derruba Jackson à entrada da área, segundo amarelo e expulsão, Tello faz a marcação do livre ao primeiro poste - estilo Brahimi - e assim foi-lhe dado o prémio para uma boa exibição, e o golo que fez por merecer, desta vez. Foi uma noite boa, partilhada uma vez mais com o Casal Dragão de Ouro, Ana Neves e João Santos. Meus amigos, em equipa que ganha não se mexe. Farei depois um post a abordar o pós jogo e a excelente conferência de imprensa de Julen Lopetegui. Temos treinador! Temos FC Porto! Assim, sim!

GOLOS

Quaresma - Ricardo Quaresma mereceu o banho de glória que teve. Não só esteve bem a atacar - está quase sempre - como pressionou muito bem, foi solidário com os colegas, defendeu primorosamente. Saiu para dar lugar a Quintero aos 69' sobre uma verdadeira apoteose - inteiramente merecida! - e, embora não tivesse saido feliz - ainda bem! - não foi problemático. Quaresma no seu melhor! 

Jackson - Forte, possante, líder, o Cha Cha Cha é um perigo e um pesadelo para qualquer defesa. O controle de bola é magistral, a capacidade de se aguentar quando pressionado, puxado, quando sofre faltas é brutal e a leitura de jogo é a de um 8. Não me canso de dizer, vai deixar saudades.

Óliver - Mais na segunda parte do que na primeira, o pequeno maestro no seu melhor. A bola "cola"-lhe nos pés, as intersecções são do outro mundo e a distribuição do jogo primorosa. Já disse que o negócio da sua permanência tem de ser feito já?

Marcano - Jogo de cabeça, segurança, leitura, passes longos bem feitos e critério. Que pena não ser destro, carago!

Pressão sufocante - Durante 70% do jogo, o FC Porto teve uma pressão avassaladora sobre o Paços! Acho que desde os tempos de Villas-Boas que não via uma pressão defensiva tão bem executada. Jackson, Tello, Quaresma e Óliver não deram um segundo de sossego aos jogadores pacenses! É assim mesmo!

FALTAS

Marco Ferreira -  Não é novidade e a lenga-lenga já é sobejamente conhecida mas... dualidade de critérios, amarelos à segunda falta, etc etc etc... artistas portugueses!

Massa Assobiativa -  Assobiar o quê, exactamente? O Tello não conseguir fazer 3 piques consecutivos? O acerto não ser 100%?! Ter de haver tentativa e erro? Mas não houve intensidade? Golos? União? Não viram Lopetegui constantemente insatisfeito, até com 4-0? Exigência é saudável mas isto já é um absurdo! Ainda bem que por cada assobiativo havia logo alguém ao lado para lhes dizer onde podiam meter o assobio!

(Imagem trivela - Tomo II)