
Declaração prévia de interesses: Não gosto de endemonizações. Não suporto bodes expiatórios. Não conheço Adrián Lopez. Sei que, como qualquer jogador do Porto, ganha um bom salário, tem de se esforçar e não pode ter lugares garantidos. Respeito inteiramente quem não se reveja numa linha do que vou escrever.
Não me conformando com o que se passou no encontro do Estoril, resolvi fazer a coisa mais masoquista possível. Resolvi ver de novo esse jogo. A frio. Sem emoção. Sem tendência. Sem coração. E então, eis que veio a surpresa: durante mais de 60 minutos, o Porto encostou o Estoril às cordas, atacou, pressionou, com um desacerto terrível.
A frio, vê-se um Porto que procura sempre o segundo golo, não perde assim tanto jogo no meio campo - até à saída de Casemiro - e empurra, tenta, avança. Vê-se um Porto que tenta por muitos e onde, curiosamente, não há assim tanto desacerto posicional como isso.
Nota-se, sim, que Cha-Cha-Cha é um jogador que não está adaptado ao sistema e estava muito perdido pelo terreno. Mas quem se posicionou muito, muito bem, foi Adrián. Ao longo do tempo que jogou, contei 9 desmarcações na cara do golo. Adrián tem um arranque e uma mudança de velocidade impressionantes em boa parte do jogo. Adrián faz o jogo que sempre tentou fazer. Os toques de calcanhar a passar a bola ao primeiro toque, a procura do segundo avançado no 4x4x2..... que não está lá.
Jackson Martinez esteve menos vezes na cara do golo do que Adrián Lopez. Se Brahimi, no seu segundo remate à baliza, tem passado para o Adrián, era golo certo. Jackson, habituadíssimo a ser o resolvedor, o goleador, o desbloqueador, meteu o pé a duas bolas que, chegadas a quem deveriam, teriam sido golo.
Adrián passou, muitíssimo bem, para desbloquear aquele que é um duplo-penalty sobre Danilo e Brahimi. É Adrián que passa bem para um remate do Herrera que vai parar a Cascais.
Sai um jogador recém-chegado, sem minutos, inadaptado a um sistema de jogo que não é o seu natural (o 4x3x3 versus o seu 4x4x2), debaixo de um monumental coro de assobios que o tende a perseguir para onde vá.
Qual é o fito de uma coisa destas? Para que serve destruir a já curta auto-estima de um jogador? Adrián marcou muitos e belos golos que vos mostro a seguir. Falcao, Lisandro, Hulk. Todos criticados. Danilo, nem se fala. Mesmo Cha-Cha-Cha. Todos foram alvos da desconfiança. Mas esta perseguição a Adrián é um absurdo. Assim é complicado para um jogador dar de si.
Mas tenho para mim que Lopetegui lhe dará mais minutos. E eu vou ter o prazer de ver um Adrián contribuir decisivamente, com golos e boas jogadas. Com tabelas ao primeiro toque, que os seus colegas vão compreender que ele faz bem. E vou ver quem agora o assobia a festejar com ele.
Vou ter a felicidade de saber que estive com ele. Desde sempre. Porque é fácil bater em quem está fraco.
Para vossa consideração, o que há de potencial aqui:
P.S.: O que eu vi foi o portista Tozé a deitar-se no chão a tentar sacar amarelo ao Indi, a cavar um penalty que eu acho duvidoso, a demorar a sair. Mas esse não é vaiado, é "profissional". Deixem de ser autofágicos!