Não me passou, rigorosamente, nada pela cabeça que não ganhar ao sportem. Não me passou, sinceramente, pela cabeça o ficaben. Mas, ao fim de dez minutos, o filme estava visto daquilo que viria a acontecer. Explico.
Até entramos bem, apesar do primeiro remate de perigo ter sido do sportem. Criamos perigo no ataque mas somos fracos na finalização. Rompemos os muros mas chegamos ao fim e tivemos pólvora seca. E, como quem não marca, sofre, golo lá dentro. Do outro lado. Tivemos algum querer de alguns, e à custa destes, Danilo, Herrera, Sérgio, às vezes o Maxi, fomos seguindo em frente. Mas sempre com pólvora seca.
Foi aí que, apesar do penalti, percebi uma realidade simples: 3/4 deste onze não se identifica minimamente com a camisola que veste. Sim, já se sabia, mas tornou-se evidente. Quisemos ser tão grandes que nos perdemos no meio. A sorte é que o recém chegado Danilo, apesar de um ou dois erros infantis, se enfurece e puxa pela malta e o Capitão faz por merecer a braçadeira.
Mas, como a Chama só veio a espaços e do outro lado está uma equipa bem trabalhada, coesa e que sabe o que tem de fazer, outro golo lá dentro.
Intervalo.
"O Peseiro vai dar-lhes a injecção atrás da orelha", pensei eu. Só que não. Absurdamente, ridiculamente, estupidamente, voltou-se das cabines no modo "epá, isto já está, por isso, bora descansar." E eis então que se instala a anarquia completa. À excepção de Casillas e, se calhar, dos centrais, e mesmo assim tenho as minhas dúvidas, creio que todos os jogadores foram tudo. Defesas, médios, atacantes. À esquerda, à direita, ao centro.
A tômbola automática ia ditando a posição, completamente inaudível para os outros, e aí a confusão foi rainha. E, pelo espaço aberto, o sportem aproveitou. E instalou-se. E comandou. E só não fez mais porque as bolas iam sendo salvas, uma, e outra, e outra vez in extremis por alguém.
Depois, houve alguém que insistiu em entrar na dança - o treinador. Toca a tirar um médio que se entregava e tentava ver por entre as sombras, por um que gosto muito mas que veio de lesão prolongadíssima, e sem a menor noção do que vinha fazer. Isto aos 60 minutos! E depois demorou 10 longos minutos e tirou uma nulidade cara. Mas fez entrar uma nulidade antiga. Que entrou na dança. Ora aqui, ora alí, mas sempre em parte nenhuma. Penalti por marcar claro a nosso favor, siga para bingo. E depois nervos. E ansiedade. E pólvora seca. E displicência. E, a seguir, jogada de mestre do treinador. Retirar o tampão do meio campo e metê-lo, outra vez, a central, porque o central saía para dar lugar a um atacante em quem se tinha investido jogos seguidos, mas que estava a aquecer o banco. Isto aos oitenta e cinco minutos.
Tampão desatapado, confusão no meio, resultado? Pau! Outro golo. Um frango monumental de um Casillas que até estava a jogar benzito, mas que se sabe, que se sente, que o que quer mais fazer é pôr-se na alheta. Godspeed! Daí até final ouviram-se, outra vez, "olés", projectados pela acústica da pala da arquibancada - sim, nós somos amigos, não falte nada à claque adversária, por quem sois! - e os "Pinto da Costa, vai pró caralho" de quem se sentia superior. E bem.
Mas o mais preocupante veio depois. O preocupante é um treinador que, no fim de tudo isto, tem a lata de dizer que se merecia mais porque se jogou bem. Um treinador que, em três meses, acumula oito derrotas, cinco delas para o campeonato. E quem tem vinte e três golos sofridos, a grande maioria depois da sua chegada! Caro amigo, és uma joinha de um moço, boa pessoa e fofinho. Não percebes é nada disto cá de cima. Nem da luta, nem da História - nada.
E, para atar tudo com um lacinho, veio o Presidente. Acordou hoje para a realidade de que nos roubam. Acordou hoje para a falta de qualidade do plantel. Acordou hoje para a ausência de rumo. E ainda bem que fez questão de fugir à questão da continuidade do treinador, assim respondendo à pergunta! Era o que mais faltava, mais disto para o ano. Mas, meu caro Jorge Nuno, a responsabilidade é sua e dos seus. Nunca ouviu dizer que "tarde piaste?" Agora já foi, agora é tarde. Diz que sabe que falta qualidade no plantel. E antes, não soube porquê?
Remato com um reparo: é, para mim, genial que agora não se fale da rotatividade mais do que evidente antes e durante o jogo. Um crime - que o é - já não é para uns o que era para outros. Dá jeito. É fofinho, e maravilhoso.
NOTA FINAL: Artur Soares Dias marcou o penalti sobre o Brahimi por indicação do auxiliar. Artur Soares Dias não o queria marcar. Não marcou o outro. É esta a arbitragem que temos. Não é inédita em Artur Soares Dias. É o que temos. E que continuará, se ninguém disser nada.