Somos líderes, à condição. Temos um avançado-ponta de lança-coiso novo muito jeitoso. Iker Casillas é muito caro, o caraças! Mas, há que admitir, não foi o melhor jogo do Futebol Clube do Porto este ano. Nem lá perto. Só que, lá está, assim de repente, lembro-me de um FC Porto-verifique, treinado por um treinador cheio de azia, ontem, onde houve duas subidas à área, dois golos do mais maluquinho que poderia haver, e onde todos falaram de pragmatismo. Lá está, o Karma é fodido. Há mar e mar, há ir e voltar. E nós, ontem, cobramos o retorno. Com juros. Vamos a notas.
Soares - Soares é fixe, Soares é fixe, Soares é fixe e já venceu! Sim, era um catraio quando o meu pai - sportenguista, temos pena, pai! - foi para a varanda numa célebre noite eleitoral, como um tolinho, cantar esta música. Mas Soares é mesmo muito bom. Tem técnica (o segundo golo é à matador, para AS ver e tirar notas), tem um elevado sentido posicional e uma força e uma entrega como poucos. Uma excelente contratação com uma estreia de sonho, que só por si já valeu o seu preço! Mas o que achei mais extraordinário foi ter ouvido logo a seguir Tiquinho a dizer que "vai lutar mais". Homem, se isto é o teu meio... vamos lá a isso!
San Iker - Não escondi, não escondo nem esconderei que sinto um orgulho imenso por ter uma lenda deste calibre com o Brasão Abençoado no seu peito. E ontem, como com o benfas no ano passado ou contra a Roma e Chelsea, Iker fez aquele estilo de defesas só ao alcance de predestinados. Está longe de ser barato, mas isso não é, nem pode ser, tudo. Enquanto estiver nesta forma física, com estes reflexos, enquanto for o líder que é e sentir esta camisola como se viu que a sente, Iker Casillas deve ser o dono da baliza, o Capitão sem (ou com, foda-se!) braçadeira, a referência e o farol. Arrumamos com um concorrente directo, praticamente - salvo hecatombe - asseguramos a Champions, estamos na luta para o Campeonato. E muito foi por isto, que correu mundo inteiro. Como só lendas podem fazer. "San" Iker Casillas. Guarda-redes do Futebol Clube do Porto.
As substituições, ainda que tardias - Tarde que foi, a entrada de André André e de João Carlos Teixeira deram um pouco de equilíbrio ao meio campo quando este estava claramente a perder a batalha. E não pelos intervenientes, mas pelo número. André André foi agressivo e lutador, João Teixeira ajudou a esticar o jogo ao seu mínimo razoável. Nenhum dos dois foi extraordinário, mas foram mudanças importantes. Jota entrou bem, com tudo, e com a velocidade que se impunha. Mesmo assim, há muito a fazer e a rever, em jogos deste estilo. Já a seguir falaremos disso.
A anti-posse - Durante muito tempo, Vítor Pereira teve o estigma dos jogos sensaborões, das secas que dava nos jogos sem intensidade, muito feitos na base da troca de bola entre defesa e meio campo, na procura da largura e profundidade apoiada. Assim como Lopetegui era acusado de ter jogos que enervavam um santo por serem tão obsessivamente assentes na posse de bola que tiravam o sumo a tudo o resto, tinham poucas ocasiões de golo e eram assentes no rugby, para Lopetegui, a bola tinha que entrar baliza dentro, no pé do jogador. Ontem tivemos o inverso absoluto de tudo isso, em especial na segunda parte. A bola parecia queimar, o jogo era feito na base do pontapé para a frente, sem passar pelo meio, sem ter a calma e a paciência de percorrer colegas ou procurar espaços. Evidentemente, tivemos uns paupérrimos 39% de posse de bola, um número absolutamente indecoroso para uma equipa que se quer campeã. Uma equipa a vencer por 2-0 tem de saber segurar a bola, irritar osadversários, deixá-los pouco confiantes, apostar no erro para, incisivamente, matar o jogo. Não se percebe os nervos da segunda parte. E, se era óbvia a assimetria a meio campo, entre o nosso efectivo 4x2x4 e o 4x3x3 contrário, se o sportem estava a dominar, aí sim, um estilo "Estoril-primeiraparte" tinha feito sentido. E não só depois de um (indefensável) e moralizador golo de resposta. Acabar jogos com o credo na boca, com muita crença e vontade mas sem nenhum discernimento, resulta uma vez. Não resultará, de certeza, duas.
O Macron-man - Bem sei que o Tribunal d'O Jogo não acha isso, mas foi óbvia, para mim, a inclinação de campo verdinha, nas faltas, faltinhas e faltecas permitidas ao sportem e não permitidas ao FC Porto. Pareceu-me que houve, igualmente, penalti sobre Soares e que Marvin Zigelaar não deveria ter acabo aquele jogo. Se qualquer toque é marcado a uma equipa e não é a outra, se o amarelo voa para um lado e sai com muita inércia para outro, e o lado beneficiado é o que é patrocinado pela empresa para a qual se trabalha....não se pode falar de outra coisa senão inclinação.