Ás vezes é estranho pensar no FC Porto de Nuno Espírito Santo. É esquisito pensar que um dia podemos achar que tudo é um desastre e outro dia o Olimpo pode estar ali tão perto. Só que, dada a devida distância e a frieza que se impõe, falta apenas um danoninho (® Silva). E é mesmo só isso. A defesa é sólida - está o nível das melhores da Europa, com Casillas a fazer os melhores números da sua carreira - o meio campo cada vez mais entrosado - a dupla Danilo-Óliver é extraordinária, com um terceiro médio como híbrido entre sistemas, e um conjunto de atacantes com uma produção ofensiva invejável.
Onde falha então o FC Porto?
Falha na eficácia. É da juventude, certamente, mas não só. São os nervos, a ansiedade e o medo de perder. É a pressão que se sente pela inexperiência. É o desacerto da sofreguidão com que se procura fazer bem e bonito. É um passe a mais, é a indecisão, é complicar o simples. No meu entender, é tudo uma questão de tempo e de treino até que tal fique bem. A juventude tem irreverência, mas também tem inexperiência. Exigir de André Silva ou Jota ser um Jackson ou um Lisandro.... é só parvo. Temos futuro a ser preparado. Mas as etapas têm o seu tempo. Para contornar isso é preciso trazer experiência.
A inconstância exibicional também é algo a ter muito em conta, e não tenho dúvidas que está intimamente ligada com a primeira. A assimetria entre o FC Porto em casa e fora não pode continuar a ser tão gigantesca. Qualquer equipa se sente, naturalmente, confortável no carinho dos seus, mas a forma como o FC Porto roça a quase inoperância fora de casa é bastante assustador. Também, se o campeonato é uma prova de consistência, não se pode admitir uma diferença de qualidade tão acentuada entre o FC Porto contra o Leicester e o FC Porto no Restelo, em Tondela ou em Paços de Ferreira. Por muito que se louve a ideia da fortaleza e de dar a noção de dificuldade e medo por parte do adversário ao entrar no Dragão, já vai sendo tempo de arranjar outra metáfora bélica para tratar da conquista de pontos fora. Os relvados são diferentes, os campos mais curtos, mas o FC Porto tem de ser capaz de ter a raça, a entrega e a "prepotência", que tão bem Cândido Costa refere, em casa ou fora dela. E não pode haver um "pronto-já-está". As grandes equipas mundiais estão sempre a procurar o golo seguinte.
Por fim, não é indiferente falar das arbitragens. E vou falar delas exclusivamente em três casos, que contam muito esta época. O caso das papoilas , o caso do sportem e o do Setúbal. Tem de haver uma uniformidade de critérios para lá de tudo que seja razoável. E, se o caso do segundo golo do Boavista às papoilas é ilegal , também é o golo das papoilas contra nós! Quem é que se levantou em reboliço? Quem contestou? Quem fez daquilo um pecado capital? Ninguém! Custou a engolir, mas aceitou-se. À luz dos critérios demostrados pela Comissão de Arbitragem, a vitória seria nossa. Estaríamos, portanto, agora a um ponto. Ou menos, por todas as circunstâncias envolventes! Assim como, tendo mais uma vez como referência as papoilas, se é mão do Felipe, é-o também no caso de Gelson e, principalmente, de Bryan Ruiz, em Alvaláxia! Dois golos irregulares, mais três pontos, liderança isolada! E o sportem fora da corrida! Se, como icing on the cake, tirarmos a naturalíssima conclusão que, se Cervi sofre penalti, também o sofre Otávio em Setúbal, seriam pois mais dois pontos e liderança destacada!
É natural daí inferir que metade das críticas, não desaparecendo - porque a exigência Portista é uma coisa positiva desde que não dê para assobiar à maluca e ser perniciosa - atenuar-se-iam severamente. Como tenho a certeza que a comunicação do FC Porto, mormente na pessoa de Francisco J. Marques, modificou-se de sobremaneira, temos todas as condições para, em campo menos inclinado - sim, não tenhamos ilusões, nem tanto ao mar nem tanto à terra - e com maior consistência, ser campeões e formar uma base vencedora para o futuro.
Basta apenas um danoninho. A eles, carago!