
No primeiro vértice, está todo este pensamento sulista propagado por tudo o que é comunicação social, a quem interessa e muito tornar os clubes da capital como os únicos merecedores de tudo. A evangelização não é só em termos de futebol ou de títulos. Não, é uma criação de uma beatificação dos valores dos clubes - são Santos, Heróis, Iluminados recebendo o seu talento directamente do Divino. Durante muito tempo, tivemos um contrapeso desportivo e político, mas ao longo de mais de uma década, tivemos à frente da Câmara Municipal do Porto alguém a quem a luta contra o centralismo não disse absolutamente nada. Todo ele era ego, elegendo o FC Porto como inimigo e como alvo a abater. Mas este ascendente presente é muito importante para o jugo do pensamento dominante: apesar de saberem que três anos não apagam trinta de vitórias e que ainda não provaram nada europeu desde os anos 70, conhecem de ginjeira o facto da verdade poder ser manipulada, bastando para isso a hiperbolização do momento presente. Mais do que jornalismo, é marketing do melhor, é uma lavagem cerebral e condicionamento do pensamento, como uma mensagem subliminar de subalternização a que temos de estar atentos. Não há outro objectivo senão o de pulverizar aqueles que ousaram interromper esta "cúpula de irmãos" separados apenas por uma rua.
No segundo vértice, estão os adeptos. Muito bem habituados a ganhar e muito, é difícil saber lidar com períodos de insucesso continuado. E como em casa que não há pão, todos ralham e ninguém tem razão, e ainda por cima porque temos uma direcção silenciosa que vai permitindo que cada um fale a verdade que lhe parece, o primeiro vértice aproveita para inserir o veneno na veia da confiança Portista. O adepto é ainda uma pessoa e, nesse sentido, é vulnerável a uma mensagem repetida, sempre da mesma forma, reforçando com ideias e palavras-chave, a noção de um descalabro, em surround, dita por cada canto, cada esquina, todos dias, a todas as horas. Todos repetem a mesma noção de que se "fechou o ciclo", que "acabou a hegemonia" e por aí em diante. E isso cria um eco no subconsciente do adepto, como um diabinho repetindo "reclama" e, sem a consciência da verdadeira cabala que por aí grassa, torna o ambiente no Dragão insuportável para as gentes da casa, e faz o gáudio daqueles que vão passando nos pingos da chuva.
Mas a verdadeira e maior responsabilidade está no terceiro vértice - a Direcção. Como qualquer rei bonacheirão ébrio pelas suas conquistas, Pinto da Costa perdeu o pulso que o caracterizava. Tornou-se contemplativo e ter-se-á convencido, com certeza, que o carrinho seguiria pelos carris apenas com a velocidade inicial sem ter de ser mais empurrado. O silêncio, a apatia e um claríssimo desligamento da, não duvido, enfadonha rotina diária, deixou o Clube e a sua massa adepta orfã de rumo. Se um líder abandona a sua tropa no meio da luta, os cavaleiros lutarão desunidos, sem direcção e quiça uns com os outros. Espero que ser a capa da revista do Expresso pelos piores motivos acorde o nosso líder e o desperte do embalo doce da sépia nostalgia de tudo aquilo que já conquistou.
Porque uma coisa é certa. Tenho a certeza que basta uma palavra e uma acção mais forte, para que todos nós nos unamos e recuperemos o fulgor Portista.
A Jorge Nuno Pinto da Costa resta tomar uma decisão: escolher o tamanho da porta pela qual vai sair. Pode acabar o seu Caminho do Dragão na Glória que merece. Ou poderá sair como o homem, perdendo o ascendente que a pulso conquistou. A BOLA ESTÁ NO SEU LADO. O TEMPO DE AGIR É AGORA.