Noite de gala no Dragão, com um FC Porto absolutamente mágico a jogar um futebol de elevadíssima qualidade e a garantir o apuramento para os Oitavos da Champions. Parece fácil, dito assim, mas não é.
Claro que, por todo o lado, a máquina papoila veio logo desvalorizar a vitória como sendo contra as segundas linhas do Leicester. Só que tal não é exactamente verdade. Drinkwater, entre muitos outros, não são segundas linhas. E, mesmo sendo, Ranieri estava pior do que estragado no fim do jogo. E o que querem dizer "segundas linhas" no caso do campeão em título inglês? Um campeão que teve, só de receita televisiva, 106M de prémio? Quer dizer que não estávamos a jogar contra tótós, como aliás se viu à entrada da segunda parte.
O que aconteceu foi que estou a ser deliciosamente provado errado. O ketchup destapou-se, a malapata foi-se e, em rigor, veio apenas o que faltava a esta equipa: golo. Isso, mas também o facto dos jogadores todos terem feito exibições de encher o olho, bem, até Casillas que, a única vez que tocou na bola, foi para uma excelente defesa.. de um fora de jogo.
Felipe é absolutamente extraordinário! Que central este que nós compramos! Felipe é o esteio desta defesa que, pura e simplesmente, parece saltar dez metros em cada canto, faz umas recuperações com uma grande velocidade e está sempre nos sítio certo. Assim como Marcano, que também fez uma excelente exibição. Só que o primeiro mantém-se sempre calmo e sem hesitações enquanto o segundo complicou um pouco na reacção do Leicester. Mesmo assim são a melhor dupla de centrais do século XXI. É isto que temos. E se juntarmos a isso dois laterais de imensíssima qualidade como Alex Telles - que esteve absolutamente irrepreensível nos cortes e fantástico nos cruzamentos - e Maxi - fabuloso no ataque, como sempre com uma raça e uma entrega absolutamente ímpar na defesa, digníssimo ostentador do 2 nas costas - temos uma defesa de primeiríssima água, capaz de um recorde de 6 jogos sem sofrer golos e de fazer com que o FC Porto esteja sem perder há 13 jogos. Digo isto porque, se ninguém mais o diz....
No meio campo Danilão é uma imensa parede móvel capaz, cada vez mais, de umas excelentes subidas, com uma classe e um nível tal que fazem com que aposte que - infelizmente - não esteja cá para o ano. 6 como estes não há muitos, e tinha os olhos do mundo nele postos. Depois, todo o jogo passa nos pés do Maestrinho Óliver, que fez mais um jogão e variar flancos, a fazer passes, cruzamentos e ainda a fazer importantes recuperações de bola e pressão defensiva. Óliver é o eixo da roda, com ele em campo tudo corre melhor. O seu trabalho pode não ser valorizado como deve, porque há por aí uma vertigem parva qualquer de que os jogos têm de ser jogados sempre em corrida desenfreada, mas ter alguém com a visão de jogo de Óliver ( e de Rúben, que uma vez mais entrou muito bem, a preencher bem o difícil lugar do Danilão) tem muito mais.
E que dizer da magia pura nos pés de Brahimi e de Corona? A largura ganha no ataque, assim como a imprevisibilidade e a magia com a entrada de Brahimi é fantástica. Fez um jogão, solidário e com o toque que só ele pode emprestar, mas desta vez, na maioria das vezes, a conseguir entregar a bola aos colegas no tempo certo. E isso é só o que falta. E não é preciso dizer nada sobre o golaço de calcanhar que marcou, pois não? O sorriso que todos tivemos ao sabermos que podemos registar a marca magrebina a este estilo de golo, ao lembrar-nos do grande Madjer, alguém que todos sabemos que este admira. Assim como fabuloso foi o golo de Corona, mas também a capacidade que ele teve de partir os rins à defesa dos Foxes e, principalmente, o crescente entendimento que vai tendo com Maxi e que faz com que a ala direita do nosso ataque seja demolidora.
Na frente Diogo Jota foi uma formiga de trabalho que viu coroada com um golo aquilo que tem vindo a fazer por merecer: o destaque devido, especialmente ontem. Jota teve uma explosão de velocidade muito boa e uma disponibilidade de dar jogo a condizer. Assim, muitos mais golos se seguirao. E finalmente, André Silva. Voltou aos golos, muito bem, voltou a esvaziar o tanque , voltou a deixar tudo em campo, marcou o penalti que, tenho a certeza, precisava para exorcizar as matrafonas. Mais, e claro, com o ataque organizado, já não tem de andar como uma barata tonta e assim sem o desgaste que teve antes, o que potencia estar no lugar certo à hora certa. Assim, o seu crescimento vai ser exponencial.
Uma palavra ainda para a boa entrada de Herrera e a estreia de Rui Pedro na Champions League, com um pormenor de uma temporização para a diagonal de Maxi que mostra bem que temos ali futuro para muito e bom futebol.
E finalmente, claro, Nuno Espírito Santo. Sou homem para dar a mão à palmatória e reconhecer a minha precipitação. O trabalho - que sim, admitidamente, é visível - está a dar os seus frutos, temos um grupo muito unido e solidário e de grande qualidade e potencial. Claro, vamos ver se sábado temos mais contra o Feirense - tão, tão difícil pôr os pés na terra depois deste sonho! - para confirmar esta tendência, mas tem já o meu reconhecimento e a minha admiração. E os votos de que continue a levar a sua, indubitavelmente sua, equipa a patamares ainda mais altos.
Para terminar, claro que é sempre tão bom ver a azia da comunicação social e sentir, uma vez mais, a sua derrota e da sua estratégia! Nunca perceberam que isso só nos torna mais fortes e combativos e que a pressão só nos faz melhores! Não precisamos de colinho nem de loas a mestres da táctica. Somos trabalho, suor, esforço e dedicação. E assim ganhamos - categoricamente! - enquanto uns passam de favor e a contar com a sorte e outros ficam em terra, de peito cheio, com as suas "vitórias morais". No final de contas, o que conta é aquilo que construímos, e isso, está bom de ver, vê-se melhor a médio prazo.