Ontem foi uma tarde linda. Linda pelos golos, linda pela comunhão entre os adeptos, linda pela adaptação da equipa, linda porque sentimos o regresso do FC Porto ao que ele É. E esta, vou dizê-lo sem rodeios, é inequivocamente uma vitória de Nuno Espírito Santo. Aliás, toda esta recuperação do espírito e união à Porto se deve a ele. É inegável que, com maior ou menor acerto, a jogar melhor ou pior, o FC Porto de NES não desiste, não desarma e nunca pára. E eu, que fui céptico e impaciente, reconheço o meu erro e dou, alegremente, a mão à palmatória. Porque esta constatação não depende de sermos ou não campeões. É algo que se vê e se sente, nos jogadores e adeptos. E é sua obra e responsabilidade. A vontade, o ímpeto e o querer são inquestionáveis. Portanto, o seu a seu dono.
Apesar de um começo algo periclitante do FC Porto, uma vez destapado o ketchup, tivemos direito a uma noite de sonho, onde fica bem patente o quanto esta equipa é - de facto - uma família. E, por falar em família, que lindo foi ver o Dragão cheio de crianças e o brilho no olhar de todas elas no fim do jogo, e em especial a minha filhota, a cantar "Eu quero Porto campeão" e nervosa à espera do oitavo. Um Azul e Branco forte vai crescendo. Que assim seja até aos Aliados. Com a fome que vejo e a união que sinto, sem dúvida que é possível! Vamos a notas.
Óliver - A par de Brahimi, foi, para mim, e para a GoalPoint também, o homem do jogo. Começou nervoso e complicativo, como a equipa, fez um passe "à lá Shaktar" para um jogador do Nacional, mas quando, após os 20 minutos, voltou a si, arrancou uma exibição fantástica. Os números não mentem. Além de destapar o ketchup, esteve presente na maioria dos lances de golo, fez passes fantásticos para ocasião, recuperou bolas... Enfim, como antes havia dito, a jogar no sítio dele, é o Maestro que dá o compasso da música.
Brahimi - Yacine Brahimi está outro. O que Brahimi lutou ontem é de guardar para sempre. O argelino já merece ser campeão por toda a magia que tem espalhado por estes campos fora. Até na fase menos acertada do FC Porto, foi ele que tentou furar por entre o muro e o golaço que marcou, a "matar" a decisão, foi um prémio mais do que justo para toda a raça e entrega que tem demonstrado mata definitivamente todas as dúvidas que alguma vez possam ter pairado sobre o compromisso do argelino com esta equipa. A atacar, a defender, a abrir buracos, Yacine esteve brilhante!
A família - Não se infira com isto que o resto da equipa tenha estado abaixo do muito bom, também. André Silva prova a sua polivalência e o quanto o trabalho de campo não o incomoda minimamente, estando tão bem a marcar como a ajudar os companheiros, há indubitavelmente um antes e um depois de Soares no FC Porto e a defesa continua de absoluto betão. André André está a recuperar a forma e tem um entendimento quase simbiótico com Óliver, e de repente tem-se um bom meio campo e o 4x3x3 assenta como uma luva. Não é preciso mudar o que está bem. Esta é a identidade do FC Porto. Em Alma e no campo.
Nuno Espírito Santo - Para lá do mea culpa que já fiz em cima, quero só dizer mais que só um treinador com ambição de moralizar e de fazer crescer os seus jogadores resiste à tentação de controlar em vez de esmagar, como ontem NES fez. Tirar a parte mais defensiva para reforçar o ataque, com o jogo mais que ganho, é de alguém corajoso. Bravo, mister! Chapeau!
Esta era a "versão" da realidade que os jornais da capital nos quiseram mostrar. Eu sei que este é um tempo de pós-verdade, onde algo pode ser apresentado como verdadeiro, mesmo não tendo qualquer ligação com o que de facto se passou. Irei falar mais sobre isso amanhã, mas o benfas fez uma exibição miserável, cheia de casos e com o resumo no quadro abaixo. Tentar equiparar uma à outra não é só wishful thinking, é mesmo uma insuportável mentira! No entanto, ainda bem que acontece. Enquanto vão empurrando com a barriga o momento terrível em que estão, o FC Porto vai crescendo e solidificando o seu modelo, a sua atitude, os seus posicionamentos. Continuem assim, depois queixem-se.