Quando me ofereceram álbuns como o "Automatic For The People", dos R.E.M, ou o "Post" da Björk, primeiro estranhei-os muito. Eram coisas bem diferentes daquilo que estava habituado a ouvir, tinham cadências e estruturas muito próprias, géneros pouco identificáveis. Com o passar do tempo - pouco - entranharam-se em mim tais faixas que passei a gostar delas todas.
Admito que, à excepção do meu caro amigo e colega de bancada Nuno Almeida, não conhecia mais ninguém que quisesse, ansiasse ou sequer encarasse como hipótese real o nome Nuno Espírito Santo. Mas uma coisa é certa: é um homem de fibra e raça, é uma homem com um discurso forte e agregador, foi líder da balneário e levou o Valência a um quarto posto na liga espanhola, o que não é mesmo nada fácil.
O futebol de Nuno Espírito Santo é intenso e atacante mas com solidez defensiva, é feito de muitas jogadas estudadas, de trocas rápidas e muito trabalho. Tem uma forte reacção à perda de bola e um grande sufoco desde o primeiro minuto. Todos recordaremos que não foi nunca nada fácil jogar contra o seu Rio Ave ou contra o seu Valência. Outra coisa que não vai ser nada difícil para NES é saber o que é Ser Porto. A expressão é, literalmente, dele! Creio que é Portista, tem uma forte identificação com a cultura Portista e viveu anos de muita Mística, como jogador e como treinador adjunto. E poderá, bem ajudado pela estrutura, ser um elemento agregador entre jogadores e adeptos. Mais, claro, que na realpolitik das coisas, a sua ligação de sempre a Jorge Mendes poderá facilitar a chegada de jogadores de qualidade ao Dragão. Nada disto é despiciente.
E sejamos francos. Qualquer que fosse o treinador estrangeiro que viesse a esta altura, teria vida difícil no Dragão... com assobios. Villas-Boas, que confesso que seria a minha alternativa preferida, é visto como muitos como um traidor e vendido, vida difícil no Dragão... com assobios. E Vítor Pereira não seria mais consensual.
Dos mais consensuais, Leonardo Jardim tem uma cláusula proibitiva e Marco Silva... bem, eu bem sei que a maioria gostava de o ver por cá. Eu não sou uma delas. Acho que, no fundo, também não ganhou nada de especial (todos sabemos como ganhou a Taça de Portugal e o campeonato grego... bem...sem comentários) e lembro-me, distintamente, de o ver estático, imóvel, a ver Cristián Tello a espetar-lhe três batatas, sempre da mesma maneira, sem que isso esboçasse nele qualquer reacção. Não me entusiasmou particularmente. Tudo o resto seria um tiro no escuro.
Gosto da ideia de força discursiva, dureza no balneário (os problemas dele no Valência foram pelo castigo que deu a Negredo e, veio-se a ver, tinha toda a razão), raça, ambição e, espero, jogo sufocante. Cai-me bem, agora que passou o efeito surpresa. E mais do que tudo, este é o treinador do Futebol Clube do Porto! Conta com o meu apoio total.
Para cima deles, que há muito a fazer e pouco tempo para tal.
NOTA: Quando Rui Vitória foi nomeado treinador do verifique, houve especiais, foi notícia de abertura e por aí em diante. Na SIC, a apresentação de Nuno Espírito Santo foi algures pelo meio.. enfim, nada muda. Mas se a bolha tv pode fazer perguntas na conferência de imprensa.... NÃO BASTA MUDAR DE TREINADOR!