
Ao longo da nossa história tivemos muitos patinhos feios no FC Porto. O que são "patinhos feios"? São jogadores que começam por ser criticados porque não jogam nada e depois acabam por sair em glória porque são os maiores. Ou então vão corridos e chegam a outros lados e jogam, e bem.
No ano passado o expoente máximo desse "patinho feio" foi Adrián López. Não vou estar a falar muito, já falei sobre ele o suficiente. Foi vilipendiado todas as vezes que tocava na bola, todas as vezes que falhava um passe, todas as vezes que falhava um golo. Era o "senhor 11 milhões", caro e sem interesse. O senhor 11 milhões não foi vendido, e tivemos de o começar a pagar. Está no Villareal e, no jogo seguinte a marcar o golo da vitória ao Liverpool, faz
isto. Desde os passes, os cruzamentos e um golo fantástico, esteve lá tudo. Era cepo? Não.
No início do ano, Aboubakar era extraordinário, não havia nada que não fizesse. Eu chamava-o de "Rei Bakar". Mas a confiança perdeu-se e a chama apagou-se. Nunca mais foi o mesmo.
Para mim, a maior pressão que amedronta os jogadores é a dos adeptos. Não compreendo, juro que não, qual é a lógica de insultar os seus e deixar os adversários à vontade. Os adeptos são examinadores? Os adeptos têm de ser convencidos? Mas ser adepto não é, literalmente, "gostar de"?
A estrutura tem de mudar de atitude. O treinador tem de mudar de atitude, ou temos de mudar de treinador. Os jogadores têm de mudar. Mas, de uma vez por todas, depois de um Casemiro, um Danilo, um Lisandro, se calhar muitos outros que agora não me recordo, que passam de bestas a bestiais num ápice, está na hora de repensar o que significa ser adepto.
Nas outras equipas, do ficaben ao sportem, não se vê nada disto. Não se vê, por exemplo, esta pressão constante como a que sofreu esta época um dos nossos melhores jogadores, Hector Herrera. Mas passa pela cabeça de algum adepto do ficaben assobiar o Gaitán, nos jogos em que joga subpar? Ou ao Jonas? Ou ao Mitroglu? Ou ao Pizzi, em baixa notória de forma? E no sportem, o que aconteceu quando William esteve mal? Ou Adrien? Ou qualquer outro? Assobios de meia noite?
Hector Herrera foi insultado e assobiado a cada passe errado. Teve dois anos a jogar sem parar. No seu baixo de forma foi maltratado sem par, hoje carrega a equipa às costas, dentro do possível. Mas para a exigente massa assobiativa, é só sofrível, a unica coisa que fazem é assobiar menos.
Meus caros, estas birras de menino mimado, de quem se habituou a que a vitória é um dado adquirido, servem ao adversário, não ao FC Porto. Os treinadores adversários já contam convosco para pressionar os vossos!
Orgulhar-se-iam de que o FC Porto fosse conhecido como a casa que maltrata os seus? Que é uma pressão insustentável para os vossos? Sim, é que eu ouvi a claque do sportem, não ouvi foi os 45 mil restantes nas bancadas a contrariá-los, ou a puxar pela equipa. Se se dão ao trabalho de ir ao Dragão, como se justifica essa (ausência de) atitude?
Como disse ontem e, muito bem, Bernardino Barros, Villas Boas não servia, vendeu-se, Vítor Pereira não servia, era chato, Lopetegui não servia, não atacava, Jesualdo não servia, era chato. Neste momento, serve quem, para a nata goumet? Pep Guardiola? Diego Simeone? Não, este último, no FC Porto, era apupado do pior.
Mas o mais extraordinário é que, até nisso, o adepto é tendencioso: a uns permite todos os erros, má criadice, desresponsabilização, maus jogos em catadupa - é "dos nossos". A outros, é desde o primeiro minuto a malhar. Lopetegui foi assobiado desde o jogo da apresentação com o St. Ettiéne. Foi assobiado no jogo em que chegou ao primeiro lugar. José Peseiro não tem nada disso ao fim de oito derrotas.
E nada me move contra Peseiro, atenção. Tem toda a minha solidariedade! Teve uma mão péssima neste poker (plantel cansado, lesionado, despreparado, manco em posições defensivas) e fez o favor de vir quando, na minha opinião, mais ninguém quis. Estarei eternamente grato, como estive a José Couceiro, a Luís Castro e ao "Piccolo" Barros, pessoas que ainda hoje vejo de uma forma grata.
Mas o nosso treinador mais ganhador, José Mourinho, também não saiu a bem com os adeptos, por isso...
Está na hora de repensar o que significa ser adepto do FC Porto. Precisamos de uma frente unida e coesa desde o primeiro segundo. Ontem vi, pela primeira vez, todos os paineleiros Portistas, Rodolfo incluído, a defender o FC Porto com unhas e dentes. Assim é que tem de ser. Bem sei que a estrutura também tem de dar o sinal, e que este foi dado, após o jogo, pelo NGP. Quando alguém lidera, é mais fácil seguir.
Mas a pergunta impõe-se: o que significa, para si, ser adepto do FC Porto? Pense nisso. Para o ano precisamos de todos a remar para o mesmo lado.