Já aqui o disse, quando me pedem para dar a minha maior referência do FC Porto, respondo sempre: Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa. Mais que qualquer jogador ou treinador, é por causa de Pinto da Costa que tenho o meu coração tatuado a Azul e Branco.
Não conheci outro Presidente do Nosso Grande Clube. Sempre adorei o seu humor mordaz, a forma desinibida e directa como atacava - mesmo que as suas palavras fossem indirectas. Cada frase que dizia abanava por completo os noticiários e as análises desportivas, e muitas vezes mudava o status quo. Era emocionante saber que iria dar uma entrevista ou fazer uma declaração - haveria de vir aí uma bomba de fragmentação, com toda a certeza.
Assim, é provável que seja por causa de uma certa nostalgia que ainda me empolgo ao saber que o Presidente vai falar. Aguardo sempre por uma crítica mordaz, um antes e um depois dessa declaração. Mas a verdade é que tal se esvaziou. E fica um certo amargo de boca após as declarações ou discursos.
Não, não é pela idade, nem pela falta de clareza de discurso - essa mantém-se intacta, mesmo com a areia da ampulheta a descer. É porque ao discurso deve seguir-se a acção correspondente.
Já nem falo da enésima referência ao chouriço - Presidente ele gosta é da sua atenção - mas sim das críticas, mais do que justificadas, à lixeira da manhã e à bolha.
É certo que os editoriais são pavorosos e os artigos difamatórios e tendenciosos. Mas sou capaz de apostar que, na próxima antevisão ao jogo, lá estarão, hipocritamente sorridentes, os microfones da lixeira e bolha tv. E aí reside o problema. Um discurso forte com uma acção fraca não significa coisa alguma.
Se Rui Cerqueira se negar a dar a palavra à lixeira e à bolha, saberei que algo terá mudado - para muito melhor. Se tal não se verificar, cada vez será maior a nostalgia e menos o interesse no discurso do Presidente. E esse será um dia triste.
Esperemos que o inverso se passe. Ainda tenho esperança que sim.