O FC Porto é um clube de uma forte identidade regional. Literalmente, identifica-se com a região Norte e defende-a como sua. Tal como o Barcelona na Catalunha, a sua maior força vem daí, e deverá ser sempre aí que as raízes da árvore que dê frutos de sucesso devem buscar o seu nutriente.
Naturalmente, não subscrevo o retorno ao campo da Constituição e ao Estádio das Antas, acho a modernidade do Dragão condizente com a importância que granjeamos como um Clube internacional. Não acho, de todo, que o facto de estar seco e ter uma cadeira minimamente confortável me faça menos Portista do que aqueles que viveram na bancada fria. Acho, contudo, heroicamente Portista que se esteja com o Clube em estádios inóspitos e sem condições a apoiá-lo, e curvo-me perante esse Portismo em toda a minha admiração.
Como aqui se pode ver e ouvir, Pinto da Costa diz, e bem, que foi aqui que nasceu Portugal e é daqui que vem as suas máximas conquistas. Assusta-me, pois, que haja uma razão bem menos obscura para o silêncio do que uma qualquer chantagem - o FC Porto se ter tornado, de repente, corporate.
O FC Porto pode e deve ter uma dimensão internacional, mas não deve viver para ela. Nada me causa mais urticária do que o conceito de "marca FC Porto". Não é por vendermos camisolas ou outro produto que temos um Clube de futebol, mas sim o inverso! Não é por termos parcerias com marcas e serviços que temos um Clube, mas sim o contrário!
Assusta-me, pois, que a zona VIP do Estádio do Dragão pense ou consiga fazer pensar quem decide - a começar pelo Presidente - que ser feio, porco e mau, como todos os "bimbos" do Norte, seja prejudicial para a brand. Sem a identidade Portista não há brand para defender!
Ao nos julgarmos acima do mais básico que é a defesa dos interesses do Clube, nomeadamente no que se refere à contemporaneidade das decisões que afectam o sucesso desportivo do mesmo, estamos a enfraquecer-nos!
Será, com certeza, verdade noutros países e ligas, como a Premier League, por exemplo, mas essa não é a realidade portuguesa. Ao deixar que assim se pense e se aja, estaremos a enfraquecer a nossa posição doméstica, e assim sendo também a brand e todos os interesses corporate.
Urge compreender uma realidade simples, que se aplica como uma luva ao FC Porto: só tendo presente de onde vimos poderemos saber claramente para onde queremos ir!
E, já agora, para terminar: não é verdade que "há muito tempo que não temos Mistica e um Porto à Porto". Este FC Porto lutou muito, e não ganhou um Campeonato muito por causa deste problema comunicacional, ficando a 3 míseros pontos de tal, tendo sido descaradamente roubado sem que tivesse havido defesa de quem estava mais preocupado com a brand.