sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Mística e Capitania

Acha um dos nossos grandes Capitães, o enorme Bicho, Jorge Costa, que o FC Porto, de há uns tempos para cá "não tem a mística que deu grandes alegrias à massa associativa. Neste momento é uma equipa diferente" e diz também que antes se "aprendia mística, a raça, misturadas com uma grande qualidade técnica" e que "O FC Porto de hoje tem muita qualidade, mas não tem mística". Ora, eu coloco a pergunta: Não deixam os jogadores a pele em campo? Com excepção de três jogos, a saber, contra o Boavista, contra o Shakhtar e contra o Setúbal, todos em casa, estou em crer que sim. Tendo estado lá para os do campeonato, posso dizer que o primeiro foi um erro ter sido jogado, fora de horas e a contra-gosto, num campo que nos levou um golo e com uma expulsão ridícula de tão injusta. Contra o Setúbal, estava tudo em "modo Natal" - que nunca foi incomum em anos e anos, diga-se - e não deixamos de ser competentes. Contra o Shakhtar era a feijões e antes de um Clássico que nos correu muito mal.

Correu-nos mal por falta de mística, também, concordo. Mas que mística é essa? É a mística da raça? De deixar tudo em campo? Não creio. É uma mística da rivalidade que vai até ao osso. E entendo o nosso histórico Capitão, nesse sentido. Mas Tello, Brahimi, Casemiro, Óliver, Indi e Marcano chegaram agora. E Lopetegui também. São 6 titulares, dois dos quais a nossa extremidade atacante em mais de metade do jogo, que são completamente novas. Nunca tinham jogado cá, um minuto que fosse, antes deste ano. Em Portugal e não só no FC Porto, diga-se. Mas toda a gente que é séria sabe que só uma equipa dominou o fatídico encontro. Compreendo, e concordo com o Bicho, quando diz que "para um Portista, é impensável perder com o benfas". Essa é a mística que, de facto, falta. Mas falta porque nenhum jogador dos que está a jogar a titular, neste momento, com excepção de Quaresma, tem como objectivo último o FC Porto. Se calhar, nem o treinador. E isso é culpa dos jogadores? 

Se a Estrutura construiu, nos últimos 15 anos, uma equipa iminentemente vendedora, cujo objectivo último é a compra e venda de activos, numa perspectiva de mercado internacional, é de estranhar assim tanto que "vencer o benfas" não seja uma coisa tão visceral? Dou um exemplo: Diego Reyes afirmou recentemente que nunca jogaria noutro clube no México que não o América. Óliver é colchonero. Tello é culé. Aí, tenho a certeza que jogariam com a mística dos seus clubes, embora nunca tenha tido razões de queixa do Óliver. Mas não se prende com isso. Prende-se com a aversão a tudo o que é vermelho. Com a ânsia de mostrar aos mouros como é. E isso, hoje, ninguém à excepção de Quaresma e Rúben Neves têm, por cá.

Digo "por cá" porque se vê a atitude na Champions League, a vontade da nossa equipa transfigura-se. Dão o extra que deveriam ter aqui. Mas não são uma equipa, jogam num clube. Já Rúben Neves quando diz que "não tenho pressa, estou bem no meu clube", esse pronome diz tudo. O meu clube. Esse é o reverso da política expansionista da Estrutura do FC Porto. A dimensão internacional, da forma que está a ser construída, retira a Alma Guerreira caseira do FC Porto. Por isso, estou feliz que se vá apostar em potenciar jogadores da casa.

Está na hora de devolver o Portismo ao FC Porto. E acho que isso será feito.

Gostei muito do discurso de Quaresma na entrevista que deu. Espero, do fundo do meu Coração Azul e Branco, que seja sentido. Gosto de frases como "aos novos só peço que honrem a camisola" e "já ganhamos campeonatos ao minuto 92. Claro que acredito". Aliás, gostei muito da tónica de toda a entrevista a'O Jogo. Espero que ele esteja a pacificar e a amadurecer. Se ele tiver o sentido de responsabilidade e a noção de equipa sobreposta a si mesmo, acho que poderia ser o Grande Capitão que nos falta. Eu gostava. É raçudo, tem toda a Garra que nos caracteriza e soube o que é perder com o benfas. Esta imagem que coloco só pode encher de orgulho cada Portista que sente como seu o Porto. A questão é que o Bicho, Rodolfo, João Pinto e Lucho tem uma aura de respeito e uma autoridade que creio que Quaresma ainda não tem. Pode evoluir para isso? Certamente. O carinho e o apoio da massa adepta ele já tem. O sentido do que é Ser Porto também. A minha dúvida está no sentido do que a Liderança quer dizer, da prevalência do "todos" sobre o "eu". Gostei da entrevista. Espero que ela se traduza na realidade. Se ele conseguir motivar a equipa para Ser Porto, terei todo prazer em chamá-lo de Capitão. A bola está do seu lado.

5 comentários:

  1. Uma questão comportamental, que dificilmente muda aos 30. Bicho, João Pinto, sempre foram jogadores assim, a dar tudo pela equipa. Quaresma não é isso, e dificilmente será. Só porque vai sempre haver aquele espírito de rebeldia e de "querer brilhar à força toda" dentro da sua cabeça. Porque a garra não é só detestar perder contra o Benfica. Garra é meter a cara à frente de pítons do adversário para impedir golos e não andar a tentar acertar nas canelas dos outros porque estamos chateados. Para isso, já tivemos o Bruno Alves.

    Abracinho!

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    1. Esperemos que ele tenha percebido isso. Não estou a ver quem mais possa ser um Capitão para a nossa equipa, que bem falta faz.

      Abraço

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    2. Concordo em absoluto com as duas últimas frases.
      Por favor, não vamos confundir mística com birra ou mau perder!
      Abraço

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  2. E as épocas muito mazinhas de equipas cheias da mística? Agora virou moda.
    E novidades, ó Bicho?

    Abraço

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