sábado, 12 de dezembro de 2015

Espaço Z - FC Porto vs SC Horta (33-31)

Antes de mais, um esclarecimento: o sorteio ditou que houvesse um Horta vs FCP na 1ª volta e um FCP vs Horta na 2ª, mas os clubes aceitaram alterar os locais de jogo, de forma a facilitar a vida a ambas as equipas em termos de viagens. Como tal, oficialmente, este jogo foi em casa, apesar de se ter disputado na ilha do Faial.


E não foi um jogo nada fácil, por sinal. Muito por mérito dum SC Horta com mais soluções do que no jogo do Dragãozinho, agressivo a defender e muito bem no ataque, a explorar as nossas deficiências defensivas. Do nosso lado, a habitual multiplicidade de soluções em termos ofensivos, apesar de algumas falhas na finalização (Nuno Silva, guarda-redes do Horta, terminou o jogo com 19 defesas!), mas muita passividade em termos defensivos, e uma noite desinspirada dos nossos guarda-redes.

A táctica dos açorianos passou por retirar Cuni do jogo, secando um pouco o nosso jogo à direita, obrigando os nossos jogadores do lado contrário (ponta e lateral-esquerdos e central) a resolver o jogo em situações de 3x3. Desse lado, Filipe Duque (treinador "eterno" do Horta) procurou colocar os jogadores mais fortes fisicamente, tentando dificultar as finalizações mais fáceis, aos 6 metros e na zona central.
Nota para o ritmo elevadíssimo que a formação do Horta aplicou na transição ofensiva, desgastando ainda mais uma equipa portista cansada, que mostra precisar urgentemente de uma pausa competitiva.

Ofensivamente, Duque quis aproveitar aquilo que tenho vindo a expor neste espaço: a vulnerabilidade do nosso sistema defensivo, especialmente na zona central, e principalmente sobre jogadores como Cuni, demasiado permissivos em situações de 1x1. Este esquema funcionou muito bem, não só devido à qualidade na tomada de decisão do jogador central, Fernando Dutra, como na incrível exibição de Yosdany Ballard, um monstro cubano - um dos 5(!) que o Horta possui, e que possivelmente pertence aos nossos quadros - que nos castigou com uns incríveis 13 golos.

A estratégia do Horta resultou, durante praticamente todo o jogo, fazendo com que a diferença máxima por nós obtida tenha sido de 3 golos (21-18). Deveria ter havido alguma alteração no esquema defensivo, que criasse maior dificuldade à organização de Dutra, sempre com muito tempo para pensar o jogo, e que retirasse espaço a Ballard, quase sempre com uma avenida para ganhar velocidade, subir e rematar. Geralmente, estas abébias defensivas encontram um muro lá atrás, seja Quintana ou Laurentino na baliza. Mas quando isso não acontece... é bom que o acerto ofensivo seja grande.

Ofensivamente, considero que ganhámos o jogo devido à enorme qualidade individual dos nossos jogadores que, em alturas cruciais, conseguiram inventar golos de difícil execução. Houve também uma alteração táctica que considero fundamental para o desfecho final: com uma marcação individual a Cuni, o nosso lado direito ficava completamente fora do jogo. Então Costa decidiu colocar o polivalente António Areia no lugar de Lateral, passando Cuni para a ponta. E a verdade é que, nesse período de jogo, ambos marcaram 5 golos em lances corridos. Numa 2ª parte com 17 golos marcados, 5 golos obtidos com uma alteração táctica destas é obra.

Último apontamento para a arbitragem: não nos podemos queixar de nada. Sendo certo que aquele lance mais duro entre Ballard e Hugo Santos exigiria uma sanção disciplinar (no mínimo, exclusão de 2 minutos), no resto do jogo até acho que fomos beneficiados em alguns lances. A dupla era local (um árbitro do Faial e outro de Santa Maria), mas muito fraquinha. Erraram muito, para ambos os lados, mas no final até acho que os açorianos têm mais razões de queixa. 

15ª vitória em 15 jogos, igualando o recorde que já é nosso desde a época passada. Esta equipa, jogo bem ou mal, nunca se cansa de vencer. É o melhor vício!

Ainda assim, há aspectos que urge corrigir, especialmente em termos defensivos. Costa tem de aproveitar os próximos tempos para recuperar todos os jogadores, física e mentalmente, mas tambem precisa de corrigir o actual sistema defensivo, e até procurar trabalhar sistemas defensivos alternativos. 

O próximo jogo, fora contra o ABC é de extrema importância para o classificação final. Primeiro, por ser contra uma equipa que tradicionalmente nos coloca imensos problemas; depois, por ser fora, num pavilhão que vive, respira, transpira andebol; por último, porque será o jogo mais difícil que teremos antes de receber o Sporting, e era muito bom chegarmos a esse jogo com os 4 pontos de vantagem que temos.

Um abraço,

Z

P.S.: nota para a transmissão do Porto Canal: o prof. Luís Graça é um excelente comentador de andebol. É um prazer ouvi-lo. Já os comentadores principais precisam de melhorar algumas questões. Não se relata um jogo de andebol como um jogo de futebol - por exemplo "Gilberto, passa para Martins, que passa para Cuni... etc.". Não faz sentido! Depois, no andebol não há "jogar em power-play". Primeiramente isso é do hóquei no gelo, e agora também se usa no hóquei normal. No andebol, joga-se em superioridade ou inferioridade numérica. E, para terminar, se não souberem bem as regras de faltas, se não tiverem certeza das questões mais técnicas, por favor, não digam asneiras.

4 comentários:

  1. Z a relatador do Porto Canal JÁ! A Ana Filipa é gira mas o Z percebe muito disto :D

    ResponderEliminar
  2. ...é gira e pode aprender...se a ensinarem...
    Uma das vantagens do clube ter uma TV é dar a conhecer, ajudando a perceber melhor, as modalidades ao transmiti-las e então quando se tem uma equipa como no andebol, então dar-se-á um passo gigante para o crescimento da mesma. Excelentes os comentarios do prof. Mario Graça e do Z.

    ResponderEliminar
  3. Boa noite,

    Quando uma equipa está tão desgastada como a nossa, num jogo em que a motivação do adversário não é particularmente motivadora, há a tendência de os jogadores entrarem em "ritmo de cruzeiro", isto é, executam as movimentações que estão mais rotinados, de forma espontânea, sem grande uso do raciocinio.
    É nesta prespetiva que considero as fragilidades defensivas, que o caro Z tem chamado à atenção, mais preocupantes...

    Só não sei é se ainda vamos a tempo de corrigir este problema ainda esta época.

    Só mais uma nota: quando o Z refere a valia dos nossos jogadores, saliento eu, a valia do plantel. A possibilidade de trocar de jogador em todas as posições, sem (grande) perca de qualidade é/foi fundamental neste jogo.

    Última nota: agora que a Champions já terminou, gostava de questionar o Z do que pensa que poderá ser a final dos play off. Acha que o crescimento da equipa, verificado durante a champions, se irá refletir nestes jogos, ou são jogos diferentes... (mesmo que ainda flate tanto campeonato)


    Cumpts,
    João Silva

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro João Silva,

      Penso que a questão defensiva pode ser trabalhada; como disse, provavelmente até foi mais um problema motivacional a gerar uma defesa tão passiva.
      Quanto à última questão, obviamente que tudo é subjectivo, pelo tempo que falta até lá, mas antevejo algo muito próximo ao ano anterior. Se tudo decorrer com normalidade, o 1º e 2º serão Porto e Sporting, e teremos o factor casa a nosso favor. Desse modo, estou confiante quanto às nossas possibilidades, porque nós vejo superiores a todas as equipas. O único problema .... É o facto de não ser uma competição de regularidade, mas sim um play-off, onde um dia mais negativo poderá ser fatal.

      Eliminar