Há muito tempo que não sentia o meu coração bater com esta ansiedade positiva antes de um Clássico. Afinal, o Estádio de Alvalade (ou Alvalade XXI ou Alvaláxia ou whatever) é sempre uma espécie de um triângulo das bermudas Portista, onde quase tudo acontecia. Roubos de igreja, banhos de bola, banhos de táctica, tudo a um cento.
Foi, portanto, com muita alegria que vi a primeira parte Portista naquele estádio, dominadora, mandona, sufocante e açambarcadora. O jogo era nosso e as oportunidades também. Brahimi estava um ás, Aboubakar arranjava espaço onde não havia, Marega, como sempre, levava tudo na frente. Mas, ainda mais do que isso, Herrera estava muito, muito bem, na luta, na pressão, na intensidade, na verticalidade, a criar e a fazer crescer a equipa.
Lá atrás, Alex, Marcano e Felipe faziam aquilo que é costume, ou seja, travar tudo que viesse por água, terra e mar, com a ajuda de um surpreendentemente entregue Miguel Layún. Casillas era, a esta altura, um mero espectador, tendo apenas que repor bolas em jogo e fazer defesas simples e gritar "fuera!" em tudo o que era cantos.
Do outro lado, o Sporting fazia aquilo que podia com o - muito! - que tinha. Só que esteve completamente manietado, castrado, fechado. Sérgio fazia uma chave de braços a Jorge Jesus. Apenas e só a sorte nos impedia de dar uma goleada aos verdes.
A sorte e São Patrício, qual Iker no galinheiro. Impressionante, deveriam impedir imanes nas luvas, carago! Não me parece justo!
Chegava a segunda parte e a energia e a intensidade monegasca batiam à porta. Aqui Jesus esteve melhor do que Sérgio. Falharam as pernas a Herrera, a Brahimi, a Aboubakar e a Marega. Sérgio tardou a substituir os três primeiros. Jesus tirou um incipiente Bruno Fernandes e pôs um aguerrido Bruno César, trocou as voltas às extremidades e foi rodando a posição de um William - que deveria ter visto um vermelho que abriria espaço para a justiça no marcador. Sérgio pôs Otávio - que acabo, hoje, por perceber, mas que uma vez mais não aproveitou a oportunidade para adequar o seu imenso talento à equipa, perdendo-se em iniciativas individuais que não ajudaram nada. Mas o maior erro foi deixar Abou tempo demais e ter o Tiquinho pouco tempo em campo.
No entanto, quero deixar bem claro no ar uma pergunta para os meus leitores: qual de nós, em bom rigor, diria há três meses que isto seria possível? Sair de Alvalade com aquele amargo de "ah, se aquela bola entrasse..." em vez de "uau, saímos vivos"? Sobretudo contra uma equipa que investiu da forma que eles investiram, que ataca o campeonato da forma que se conhece?
Saímos da jornada à distância que entramos - obrigado papoilas! - mas com a convicção cada vez maior de que somos melhores e de que podemos ser campeões. Estamos no bom caminho. E tudo graças a Sérgio Conceição.Ainda há muita estrada para andar, mas a atitude já é outra. O Dragão está de volta!