quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Análise RB Leipzig 3-2 FC Porto - Das Opções Técnicas


Tenho lido as análises daqueles que se antecipam sempre a mim nas suas crónicas ao jogo, e muito me espanta que não comecem pelo principal. A análise à substituição de Casillas não se pode cingir à capacidade técnica, embora também possa. Deve ser vista de uma forma profunda, porque pode - embora não deva! - ser um triste ponto de inflexão nesta equipa.

Ponto primeiro. José Sá é o menos culpado de tudo isto. Nem sequer vou analisar o seu jogo. Era, lamentavelmente, o esperado. Sá não tinha feito qualquer jogo na primeira liga e foi lançado contra a mais mortal equipa do nosso grupo. José Sá cometeu um erro?  Estava nervoso, estava sem ritmo. Era o mais provável.  Sérgio arriscou com Sérgio Oliveira e venceu. Contra as probabilidades. Desta vez perdeu.

Não vou destacar as qualidades técnicas de Casillas - é um dos melhores guarda-redes entre os postes DA HISTÓRIA DO FUTEBOL. E isso tem de bastar.  Falo do principal, daquilo que é o mais complicado. Iker Casillas é o de facto líder deste grupo. Já aqui falei várias vezes da braçadeira. Mas uma coisa é certa, com e sem ela, é evidente que se nota e muito as suas orientações, a sua voz de comando, o seu gravitas que dá confiança e rumo à equipa.

Sérgio Conceição resolveu retirar isso à equipa por opção técnica! Os jogadores pareciam umas baratas tontas, sem saber o que fazer? Pois, naturalmente! Sem liderato, qualquer equipa se torna banal! A única coisa que justificaria a saída de Casillas seria uma lesão! E digo já, não acredito que Casillas tenha desrespeitado SC, uma vez que a experiência assim o dita. Se não é lesão, é uma jogada tosca de poder que saiu completamente furada.

Vai Sérgio a tempo de a rectificar? Sem sombra de dúvida! Sábado, Casillas na baliza. E pronto, siga. Qualquer outra coisa, é teimosia. 

Mas nem só dessa opção surge a perplexidade. A substituição de Ricardo Pereira por Layún foi outra furada. Layún fez um jogo pavoroso e nervoso. Continuo sem perceber a opção.

Naturalmente, não basta estes erros para justificar a derrota. O Leipzig é uma equipa forte, rápida e bem trabalhada que engoliu literalmente o nosso meio campo - e não, não é no meio de um jogo frenético que Óliver iria fazer grande coisa, embora se tenha notado naturalmente uma melhoria, ainda que ligeira - e fez do ataque aquilo que quis.  E depois, porquê tirar um Brahimi que estava a lutar bravamente com tudo o que tinha,  por Corona,  e deixar em campo Marega que, claramente, não estava fresco? Estas opções técnicas! Difícil de entender!

Se o nosso plantel não é vasto, chega de golpes de asa! Os melhores têm de jogar, e cada coisa a seu tempo. Esta saiu mal, Sérgio. Vais a tempo de a rectificar. Nada está perdido neste grupo de doidos, onde um Besiktas poderoso - quem diria! - foi o único a ganhar sempre. Ganhar grupo? Sem dúvida. Powerplays? Esquece!

domingo, 15 de outubro de 2017

Lavagem de Regime


"M'espanto às vezes, outras m'avergonho.", dizia Sá de Miranda no seu poema Quando Eu, Senhora, Em Vós os Olhos Ponho. E é assim que eu me sinto, algures entre o riso e, confesso, algum embaraço, quando neste regime papoilar me vejo. Ontem o benfas parece que fez um jogo pavoroso contra o Olhanense, honroso terceiro classificado do Grupo E do Campeonato de Portugal, onde venceu por um macérrimo 1-0. Diz quem viu que o Olhanense se bateu muito bem e esteve várias vezes para empatar. 

Curiosamente, ontem já houve relato na rádio pública deste extraordinário jogo, uma vez que ficou clara a óbvia utilidade pública do mesmo. Sim, porque não houve no caso do nosso jogo, uma vez que por simples critério editorial a Antena 1 resolveu não relatar o jogo. Não se pode dizer que seja surpreendente. Quem tem estômago para ouvir os Grandes Adeptos  - só tenho quando o benfas perde, Telmo Correia é insuportável - consegue facilmente perceber o dito "critério": dar primazia ao benfas e sempre, mas sempre, tratar de o agigantar. 


Não funciona grande coisa, porque a realidade não se agiganta com a lavagem, como bem comprova o GIF em cima. No entanto, nunca poderemos deixar de comendar o esforço dos cartilheiros, que sabem que a memória é uma coisa volátil e que não há nada melhor para a confundir do que a substituir por outra. As capas dos jornais do regime falam por si próprias. No entanto, são apenas um Placebo com um efeito secundário ainda mais perverso - o de poder criar a ilusão de que as coisas são como parecem. Assim, fica-se contente com este estilo de coisas, e esbarra-se contra a parede.

"Só erra verdadeiramente quem erra pela segunda vez", dizia Confúcio. Não há dúvida quem esteja a aprimorar o errar como uma verdadeira arte. Pois que assim continuem!

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Goleada Natural de Um FC Porto Respeitador


Foi um FC Porto a respeitar o adversário, este que hoje jogou no Estádio do Restelo. Nada de facilitismos, nada de desacelerações. Foi um FC Porto embuído do mesmo espírito dominador e agressivo, aquele que começou o jogo. Bem movido e orientado pelo maestrinho Óliver - embora continue a enorme pecha de falhar golos feitos! - foi um FC Porto a atacar de todos os modos e cambiantes, o que se exibiu por uma massa Portista bem composta de 4000 e os eborenses possíveis.

Esta imagem de cima ilustra bem o quanto Sérgio soube sentir para que servem estes jogos. Diogo Dalot realizou um sonho e vestiu a pele que sempre quis. desde criança. Mas não sem mérito! Dalot mostrou que está aqui para ser facilmente integrado na equipa principal, teve pormenores de imensa classe e a garra e capacidade física para poder ser opção. Além deste, também Galeno mostrou toda a sua classe e técnica e o quanto pode dar a esta equipa. Há muito futebol naqueles pés, e até Hernâni marcou um golo "puskeiro".

Principalmente, foi bom de ver que, de facto, ninguém fica para trás nesta equipa, que todos têm o seu espaço e oportunidades, mas principalmente que todos querem mostrar-se ao treinador. Do outro lado, o Lusitano até foi uma equipa intensa e forte, com alguns bons pormenores e até com alguns jogadores com boa técnica. 


Não poderia terminar este post, sem abordar o ridículo que são os média tugas! Esta imagem serve apenas de corolário para aquilo que foi o funeral feito pela SportTV durante todo o jogo. O desalento nas vozes destes senhores era patético. Eu sei, o nacional-ficabenismo está de feridas expostas, com a nega da providência cautelar, com a demonstração cabal da sua fragilidade quando não protegidos, mas o que é demais é moléstia!

A Antena 1 não difundiu o jogo, a TVI aponta lances falhados mas esquece-se dos golos, todo um festival. Meus caros, hão de ter muito que penar. Este FC Porto abrangente e profissional veio para ficat!

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

O Meu Coração Volta a Bater


Estamos de volta à bola rolando sobre a relva, e volta a minha vontade de fazer posts. Desde já, começo por agradecer a quem visita este espaço, mas estou cada vez com mais vontade de falar dos meus e menos vontade de fazer dos outros. Certamente que os assuntos são graves, mas há muitas frentes de batalha - como o excelente Batalha 1893, no qual me revejo completamente - e blogs de indefectíveis amigos, como o caso do Vila Pouca, que nunca deixam de, fervorosamente, comentar todos os assuntos extra FC Porto com a mesma cadência e discurso que eu teria, por isso, ao lê-los, subscrevendo-os, sobra pouco espaço - e relevância - para fazer o mesmo de maneira aproximada.

Estou, sim, cheio de vontade de ver os meus miúdos de volta com o Lusitano de Évora. Em mais uma excelente conferência de imprensa, bem ao seu estilo, Sérgio Conceição também já disse tudo, mas aqui não me importo de repetir: a única forma de respeitar um adversário é tratá-lo como qualquer outro. Para os eborenses será, sem dúvida, o jogo da sua vida, e vão dar tudo o que têm para seguir em frente, e qualquer atitude que não seja a de encarar o jogo de igual competente forma poderá ser um desastre. A Taça de Portugal tem um contexto histórico importante, seria um título muito relevante no nosso palmarés, e deve ser encarada da forma séria com que todos os Portistas a vêem. Não duvido que assim seja.

Dadas as circunstâncias da chegada tardia das selecções por parte dos mexicanos - ver a conferência de imprensa - e de Maxi só ter chegado de tarde, avistam-se muitas alterações, mas acredito que jogarão aqueles que, fazendo parte das opções regulares, estão parados há quinze dias e precisam de rodagem. Uma péssima notícia é a de nova lesão de Soares, que nos retira novamente opções cruciais numa posição onde já não abundavam. No entanto, a renovação de Aboubakar, ainda para mais nos moldes em que ocorre, só pode encher um coração Portista de esperança e felicidade. Abou comprometido e motivado é uma máquina goleadora. 


Fernando Gomes confirmou-o hoje - cumprimos o fair play financeiro. Fizemo-lo, naturalmente, aproveitando toda a latitude dada pela UEFA. Soubemos preservar o grupo de trabalho e vender mais ou menos cirurgicamente - a venda de Rúben, ainda mais neste contexto agora vigente, seria cada vez mais discutível, mas no entanto é Totoloto à segunda feira - soubemos ainda mostrar que conseguimos ficar abaixo da linha. Não resolveu os problemas, longe disso, mas ajuda a melhorar a questão.

Onde eu não gostei do discurso, foi na parte em que Fernando Gomes parecia estar a apontar uma qualquer responsabilidade exógena inexistente para o estado a que as contas do FC Porto chegaram. Se Fernando Gomes foi o último a chegar, o Presidente do FC Porto está lá há tempo que chegue e sobre para que este discurso não faça sentido. Estar aqui no passa a culpa não ajuda nada, mas um pouco de assunção da responsabilidade própria não ficava mal. Fica a nota. Sigamos no bom caminho! 

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Sporting 0-0 FC Porto - Um Travo Agridoce Num Excelente Jogo

Há muito tempo que não sentia o meu coração bater com esta ansiedade positiva antes de um Clássico. Afinal, o Estádio de Alvalade (ou Alvalade XXI ou Alvaláxia ou whatever) é sempre uma espécie de um triângulo das bermudas Portista, onde quase tudo acontecia. Roubos de igreja, banhos de bola, banhos de táctica, tudo a um cento.

Foi, portanto, com muita alegria que vi a primeira parte Portista naquele estádio, dominadora, mandona, sufocante e açambarcadora. O jogo era nosso e as oportunidades também. Brahimi estava um ás, Aboubakar arranjava espaço onde não havia, Marega, como sempre, levava tudo na frente. Mas, ainda mais do que isso, Herrera estava muito, muito bem, na luta, na pressão, na intensidade, na verticalidade, a criar e a fazer crescer a equipa.

Lá atrás, Alex, Marcano e Felipe faziam aquilo que é costume, ou seja, travar tudo que viesse por água, terra e mar, com a ajuda de um surpreendentemente entregue Miguel Layún. Casillas era, a esta altura, um mero espectador, tendo apenas que repor bolas em jogo e fazer defesas simples e gritar "fuera!" em tudo o que era cantos.

Do outro lado, o Sporting fazia aquilo que podia com o - muito! - que tinha. Só que esteve completamente manietado, castrado, fechado. Sérgio fazia uma chave de braços a Jorge Jesus. Apenas e só a sorte nos impedia de dar uma goleada aos verdes.

A sorte e São Patrício, qual Iker no galinheiro. Impressionante, deveriam impedir imanes nas luvas, carago! Não me parece justo! 


Chegava a segunda parte e a energia e a intensidade monegasca batiam à porta. Aqui Jesus esteve melhor do que Sérgio. Falharam as pernas a Herrera, a Brahimi, a Aboubakar e a Marega. Sérgio tardou a substituir os três primeiros. Jesus tirou um incipiente Bruno Fernandes e pôs um aguerrido Bruno César, trocou as voltas às extremidades e foi rodando a posição de um William - que deveria ter visto um vermelho que abriria espaço para a justiça no marcador. Sérgio pôs Otávio - que acabo, hoje, por perceber, mas que uma vez mais não aproveitou a oportunidade para adequar o seu imenso talento à equipa, perdendo-se em iniciativas individuais que não ajudaram nada. Mas o maior erro foi deixar Abou tempo demais e ter o Tiquinho pouco tempo em campo. 

No entanto, quero deixar bem claro no ar uma pergunta para os meus leitores: qual de nós, em bom rigor, diria há três meses que isto seria possível? Sair de Alvalade com aquele amargo de "ah, se aquela bola entrasse..." em vez de "uau, saímos vivos"? Sobretudo contra uma equipa que investiu da forma que eles investiram, que ataca o campeonato da forma que se conhece?

Saímos da jornada à distância que entramos - obrigado papoilas! -  mas com a convicção cada vez maior de que somos melhores e de que podemos ser campeões. Estamos no bom caminho. E tudo graças a Sérgio Conceição.Ainda há muita estrada para andar, mas a atitude já é outra. O Dragão está de volta!

domingo, 1 de outubro de 2017

Fazer Acreditar - Z

O Mónaco-Porto da última 3ª feira marcou o início duma nova era de portismo para mim: o primeiro jogo a que pude assisitir ao vivo como emigrante. Desde que a fase de qualificação ditou que a equipa da cidade onde vivo não participaria na fase de Grupos (o OGC Nice), dediquei todas as minhas energias para as rezas, vodu, danças da chuva e do sol (principalmente do sol, que aqui não chove), para assegurar que o Porto jogaria por perto (Juventus ou, idelmente, Mónaco). O meu indescritivel mijo, tipo aquele que costuma ter aquele indivíduo manquinho, que bebe muita água durante os jogos, e lá os vai ganhando sem saber (ao que parece com cada vez menor intensidade, e com maior propensão para umas quedas barulhentas), lá fez com que o Porto viesse jogar a uns quilómetros de minha casa. Foi quase como ir do Porto a Vila do Conde ver o jogo.


Primeiro jogo do Porto fora de portas, primeiro jogo de Champions ao vivo desde o BATE Borisov, primeira oportunidade de ver ao vivo a equipa deste ano. Oportunidade também de medir o pulso à nossa massa adepta, e de tentar perceber como se vive afinal o portismo a uns valentes quilómetros de Portugal.

Antes do jogo, ambiente morno pelo principado. Uma invasão ordeira de portistas de varios recantos de França, também do Luxemburgo, Bélgica e, claro està, Portugal. Gente que se levantou de madrugada, para fazer centenas de quilómetros, passar pelo exercício de paciência de tentar arranjar lugar para o carro no sobrelotado principado, apenas para ter de passar pela monumental dor de cabeça duma interminável fila de trânsito no final. Tudo por aqueles 90 minutos, ver aquele azul e branco no campo, pela partilha de portismo nas bancadas que só quem vai aos jogos fora de portas sente, misturado com aquela emoção de poder fazê-lo pela primeira vez em muito tempo, porque nem sempre a sorte dos sorteios bafeja os corações dos que estão longe. Muita malta nova de cachecol azul e branco ao pescoço, sem saber muito bem falar português, mas a saber de cor os nomes de jogadores, treinador, canções, o hino. Aquela prova saborosa (se é que provas havia a dar) de que ser um clube de dimensão internacional ultrapassa contagens e recontagens de sócios, ou propaladas melhores academias de formação do mundo; é chegar aqui, a França, e ver um tipo com uma camisola do Porto por amor a Lisandro Lopez, ou toalhas de praia com o nosso símbolo por causa dum tal Brahimi. É todos saberem aquela equipaça que em 2004 conquistou a Europa, mas também que foi viveiro de jogadores de topo que espalharam e espalham qualidade por esse Mundo fora, mesmo sem as máquinas de propaganda por detrás, e sem rastas no cabelo.

Ambiente pintado de azul e branco mas, ainda assim, sereno. Talvez ainda feridos pela derrota na primeira jornada de Champions, e pela chamada ao planeta Terra, penso que todos fomos ficando algo convencidos da treta do "plantel para consumo interno", que a nossa entrada em falso, a nossa notória ausência de opções e a nossa comunicação social nos foram impondo. Talvez todos estivéssemos convencidos de que se trataria apenas uma questão de saber qual a crueza dos números finais; afinal, tratava-se dum jogo na casa dum semi-finalista da Champions da época anterior, que mesmo tendo perdido jogadores, tem um plantel com bastantes mais opções do que o nosso. Ter, por exemplo, um Jovetic no banco, quase parece sacrilégio para quem em tantos jogos apenas teve Hernâni como opção directa de ataque. 

São também 4 anos de feridas profundas que tardam em sarar. 4 anos de promessas de melhor que se foram esfumando no ar, deixando quase sempre um aroma de conformismo e desolação, tantas foram as oportunidades de ouro desperdiçadas, tantos os tiros no pé que foram sendo dados. 

Não vos vou mentir, a escolha de Sérgio Conceição para nos comandar esta época não me caiu nada bem. Se foi principalmente pela falta de timoneiro que terminámos a época transacta com a sensação amarga de ter estado tão perto de escrever outro tipo de história, nunca a escolha de Conceição me pareceu a mais adequada para nos dar aquele impulso extra, que nos permitisse não claudicar contra os Vitórias de Setúbal desta vida em momentos decisivos. ou viver das vitórias morais e das grandes actuações dos nossos adeptos nos jogos da Champions. Se associarmos isso à forma calamitosa como a nossa época teve de ser preparada, ao que tudo indica porque não há dinheiro para absolutamente nada que não seja mais um guarda-redes, começa a pairar nas nossas cabeças aquela desconfortável sensação de déjà-vu. Olhamos para Maregas e Hernânis com estupefacção, e vemos fugir-nos das mãos as nossas pérolas. 

E a época começa... e as coisas começam a correr bem. "Se calhar não passamos em Braga", mas acabamos por passar com distinção. Vem a derrota com o Besiktas e logo nos passa pela cabeça que a equipa possa cair numa espiral depressiva, e que cheguemos a Novembro já a pedir que rolem cabeças. Ainda por cima "vem aí um Rio Ave que fez a vida negra a um dos rivais" mas lá acabamos por ganhar de forma assertiva. A seguir, uma goleada em casa, com outra equipa que há bem pouco tempo podia (e devia) ter saído da Luz com outro resultado. Com os patinhos-feios (sobretudo Marega e Herrera) a fazer pela vida. Sem Óliver. Com um Brahimi estrondoso, a driblar como Madjer, e a recuperar bolas como Fernando Reges. 

O que esperar no Mónaco? Sucumbir perante uma equipa que vem duma temporada de sonho e que tem registos ofensivos demolidores ou resistir? Ficar com a certeza de um Porto para consumo interno, ou uma equipa para lutar por mais? 

Na paragem para jantar algo antes do jogo, começam a chegar sinais preocupantes. Sérgio Oliveira no onze, com Oliver de fora, e a manutenção da aposta em Marega. Fiquei petrificado, perante o que mais me parecia uma Jesualdização ou Robsonização de Sérgio Conceição. Apostar num gajo que ainda não jogou esta época num jogo desta importância? "Estamos fodidos..." teimava em me dizer o meu sempre mais forte lado pessimista. Sérgio Conceição tinha prometido um Porto à altura dos seus pregaminhos na antevisão deste jogo. Teríamos mais um NES no banco, mais promessas de muita coisa, e desenhos em quadros, e não fazer um caralho dum remate à baliza porque vamos todos borrados para dentro de campo?

Começa o jogo, e nota-se que estamos ansiosos. A bola corre mais próximo da baliza lá do fundo, e umas perdas de bola deixam-nos alguns calafrios na espinha. Mas a equipa solta-se, e vai chegando à frente. Primeiro sem perigo; de repente com mais algum perigo. "Lá vamos nós para a merda dos lançamentos longos", pensei eu a revirar os olhos ao ver Alex Telles a dar passadas largas para efectuar o lançamento de linha lateral. Confusão. Aboubakaaaaar.... GOOOOOOLOOOOOOO!!! A bancada vem abaixo, abraça-se os amigos e também aqueles que estão à volta. Ficámos na frente, de forma natural face ao que fomos crescendo no jogo. Até ao intervalo, mais uns avisos, e zero sobressaltos lá atrás. Exibição de personalidade. "Carago, o gajo prometeu e, sem dúvida, cumpriu." Em 45 minutos Sérgio mostrou-nos que o Porto tinha realmente ido ao Mónaco para mostrar a sua fibra. Isto com Herrera, Marega e a "invenção" Sérgio Oliveira. Sem Óliver ou Corona. Com um Brahimi que, ao intervalo, levava mais dribles do que 5 ou 6 equipas da Champions juntas nessa noite. Isso e os rins dum desgraçado dum jogador adversário, que ficou estatelado lá perto da nossa área face a mais um momento de magia do Yacine. 


E agora, a ganhar 1-0, ficariamos fechadinhos cá atrás a defender o resultado? Conseguiríamos conter a natural reacção monegasca? Teríamos estofo para aguentar mais 45 minutos assim? Tivemos, oh se tivemos. Sérgio Oliveira faz um passe impossível, estilo "quarter-back", e só a sofreguidão impede Marega de marcar, só com o guarda-redes pela frente. E nem vos digo a maravilha que foi ver da bancada visitante o desenrolar da jogada do 0-2. A prova de que levávamos a lição muito bem estudada, sabendo exactamente onde "matar" o nosso adversário com o futebol mais simples do mundo. Drible de Brahimi, passe magistral a desmarcar Marega que, com espaço, fica sem ter de tentar fintar (porque não sabe), mas pode correr como um desalmado (fá-lo na perfeição) e ganhar facilmente vantagem sobre o defesa. Passe para o meio e... foi só encostar. Futebol de contra-ataque, simples e eficaz. Um drible, dois passes, para fazer a bola chegar da nossa área à baliza contrária. Simples, mas trabalhoso. Eficaz, mas bem trabalhado. Dando de barato que o último golo surgiu já numa fase de muito desacerto monegasco, fica a nota para a sede de mais golos que os nossos jogadores quiseram saciar. 

0-3 no Mónaco. Honestamente, quantos de nós imaginaram que fosse possível uma vitória tão clara frente a um adversário tão complicado, fora de portas? Arrisco-me a dizer que ninguém imaginou um cenário desses. Ninguém imaginou uma vitória ao nível daqueles fabulosos 0-5 em Bremen.
A não ser... Sérgio Conceição. Porque não foi do nada que surgiu esta colossal vitória europeia; viu-se ali trabalho de casa, a cada recuperação de bola e saída em transição, sempre com movimentações bem definidas pelos 4 da frente (Brahimi, Marega, Aboubakar e... Herrera), ou a cada vez que o jogo do Mónaco era conduzido para as faixas, surgindo cruzamentos que foram sendo sucessiva e serenamente cortados pelas nossas torres. A diferença entre o querer fazer, e o fazer. O prometer e o cumprir. Foi-me prometido um Porto à Porto, e foi isso que tive. E teria tido, mesmo que o resultado fosse outro, porque a forma como a equipa se vai movendo, e como se compensa quando há falhas (porque as há, e não são poucas) é de um grupo que está a ser preparado para poder quebrar, mas nunca, nunca, nunca torcer. Sérgio disse-o, e os jogadores acreditaram e sentiu-se que foram para dentro do campo com esse objectivo: ser Porto, sem ter de andar a propalá-lo com hashtags. E foda-se, se há coisa mais linda do que ver os extremos do plantel (em termos de qualidade de futebol), Yacine e Marega, a lutar com a mesma abnegação e orientação para o bem comum?

O primeiro passo para se ter sucesso num desporto colectivo é conhecer muito bem os nossos pontos fortes e, sobretudo, as fraquezas, para se conseguir camuflá-las ao máximo. Todos sabemos que Brahimi é um génio com a bola nos pés, e a malta deixa-o fazer os seus desequilíbrios a vontade. Mas se é Marega que fica sozinho, logo surgem inúmeras linhas de passe, para lhe retirar a pressão de ter de fazer o que não consegue: fintar. Nestes pontos simples, vê-se uma equipa que se conhece bem. Sabe até onde e como pode ir. Isto vale ouro. E o mérito tem de ser dado ao timoneiro. A cada jogo que passa, e percebendo cada vez mais o quão limitados estamos financeiramente e a nível de opções de plantel, dou cada vez mais mérito e sinto cada vez mais respeito por um indivíduo que: 

1- não foi a primeira opção e, sabendo-o, aceitou vir
2- teve de andar a juntar "restos" e, sabendo-o não virou a cara
3- nesse contexto, e com a desconfiança da grande maioria dos sócios e adeptos do clube (eu inclusive) conseguiu esta senda de resultados favoráveis, e recolocar de novo a equipa e o público muito próximos.

Sem lugares comuns, sem discursos vazios, sem arrogâncias. Com trabalho e serenidade.

Escrevo isto ainda antes de irmos a Alvalade. Não tenho ilusões: estaremos perante o adversário mais duro de roer no seu reduto nos últimos anos, temos um historial altamente desfavorável e somos o alvo a abater como líderes isolados. Mas eu acho que é mesmo disto que o Sérgio gosta. E estou profundamente convicto de que cada centímetro de cada jogador do Porto irá entrar em campo em Alvalade com o espírito certo, que o jogo foi bem preparado, e que não haverá lugar a vitórias morais, ou a jogar para festejar empates. Nunca o senti nas épocas anteriores, e devo ao Sérgio senti-lo agora. Pode correr mal? Obviamente que sim. Mas em Alvalade, mais do que nunca, acredito naqueles rapazes. E se correr mal? Foda-se, continuo a acreditar. 

Acho que, mesmo com todas as limitações do mundo, há 4 anos que não estávamos tão próximo de começar a reerguer-nos como nesta época.  

Um abraço a todos,

Z


O Retorno de Saturno


Gosto de falar de futebol, da bola que rola, das coisas que se passam dentro das quatro linhas. Percebo, por norma, todos os realpolitiks desta vida, mas não aceito batota. Por isso me tenho insurgido tanto com o que se passa, há vários anos, neste regime que corrompe e abrange muitas coisas para lá do desporto.

Mas a verdade é que, se o Poder corrompe, o Poder absoluto corrompe absolutamente, e embriaga.

Para lá disso cria uma falsa sensação da imutabilidade das coisas. Afinal, bastou uma série de jogos com resultados menos bonitos, e a mera confirmação de uma realidade clara - a de que se pode enganar algumas pessoas muito tempo, mas não todas - e a verdade veio bater na cara: quem se habitua a circunstâncias especiais não compreende as regras normais.

Compreensivelmente, qual tendão de Aquiles, é pela base que rui então este castelo de cartas, e o que se viu sexta foi o reflexo disso. Continuaremos a expor a podridão deste status quo até que este desapareça. Nada tem a ver com um clube ou os seus adeptos. Se ganharem justamente, seja. Mas não vai haver mais tolerância para jogos de bastidores e relatividade nas regras. Quando estas acontecerem, serão expostas.


Hoje, joga-se a liderança. Hoje joga-se também a confirmação de um retorno de um FC Porto à Porto e uma segurança pontual que não é mais do que um corolário da dedicação desta equipa e deste grande homem, que foi capaz de pegar em jogadores que outros rejeitaram e fazer deles jogadores em franco crescimento. E digo-o sem contemplações - se sairmos derrotados, o meu sentimento será exactamente o mesmo.

Sérgio foi capaz de devolver aos Portistas o prazer e a ansiedade positiva de ver um jogo de futebol, independentemente do resultado.

Não sei qual é a equipa. Não me atrevo a saber. Sei que foi pensada por Sérgio Conceição. E eu confio nele.

Pra cima deles, carailhe!