O FC Porto faz hoje 123 anos. Sou Portista desde pequeno, desde os 6, 7 anos. Não tive a sorte de ter família Portista, para lá do meu primo Miguel e do meu primo Zito. Este último, fanático da bola, foi quem me acordou para as cores azuis e brancas.
Era uma paixão tão profunda que me entusiasmava. Evidentemente, na sua adolescência, Pinto da Costa era Deus. Já aqui o disse, o Pinto da Costa dos anos 80 era um dínamo impossível de travar, de uma bravura e raça fora do comum e, a todos os níveis, inspiradora.
Foram muitas admiráveis figuras as que jogaram e treinaram o FC Porto que estão perto do meu coração, entre as quais se destacaram António André, João Pinto, Jorge Costa, Fernando Couto, Madjer, Lima Pereira, Baía, Rui Barros, Pedro Emanuel, Deco, Capucho - que o meu tio Mário um dia me apresentou à porta da casa da minha avó - e o grande Comandante Lucho González. Mas junto com eles estava a presença forte de um Artur Jorge, de um Sir Bobby Robson e de um José Mourinho, por quem, admito, ainda hoje torço. Bem sei que não é Portista, bem sei que me deixou estupefacto pela não-reacção à nossa grande vitória na Champions, mas que fazer, o coração é o coração.
Para lá disso, há André Villas-Boas, o treinador que me deixava entusiasmado por ser da minha idade e treinar o meu Grande Clube. Que fervor Portista, que gáudio que era ouvir o seu discurso e a forma arrasadora a que deixou o fifica a 21 pontos e o sportem a 36! Cada frase era um punhal, cada discurso uma ode, a paixão Azul e Branca era da ponta dos seus pés ao fio do cabelo ruivo. As alegrias que me deu, a motivação arrasadora que dava aos seus guerreiros, tudo me entusiasmava. Lembro-me de ter a certeza que iria rebentar com o adversário e que qualquer ponto perdido tinha de ser ganho suadamente pelos inimigos! Ok, saiu depois da "cadeira de sonho". Aos 33 anos, dizemos muita parvoíce e fazemos muitas asneiras.
Já aí, contudo, não fosse a raça e a frontalidade de Villas-Boas e tudo poderia ter sido complicado. Pinto da Costa deixou de estar na primeira linha da defesa e o que aconteceu ao sucessor Vítor Pereira começara a deixar-me desgostoso. A soberba substituíra a defesa dos seus, e frases como " qualquer um pode treinar o FC Porto ", começaram a soar-me a ingratidão por um treinador que apenas perdera uma vez e por causa de um gamanço sem nome. VP já estava atirado às feras, já aparecia sozinho - bem como o seu antecessor - para enfrentar a maldosa comunicação social que queria acabar com a hegemonia de um FC Porto que era como uma barata que não conseguiam matar. Mas a lavagem cerebral conseguiu atirar Vitor Pereira para a porta da saída, zangado com os adeptos do seu Clube do coração, a quem ganhar não bastava.
Seguindo a máxima da soberba, Pinto da Costa foi buscar a coqueluche desse ano a Paços de Ferreira, o mouro Palminhas, mas este já não tinha fibra. Lá veio o treinador da B, Luís Castro, tapar o fogo. A história deu o resultado que se conhece.
Com Lopetegui, Pinto da Costa fez o impensável: deu uma managerial power ao treinador, controle sobre o plantel e contratações, mas deixou-o a arder em lume brando desde a primeira hora, sobre o fogo do ardente gás da "hispanofobia", do preconceito e de uma oleosa e rancorosa máquina de imprensa que começou a delapidar a sua imagem desde a hora zero. O seu fim foi conhecido. As consequências de ter despedido um treinador que, com todos os seus defeitos, foi o treinador mais roubado da história recente do futebol português - isto apesar de quebrar recordes de invencibilidade no Dragão, de ter a baliza a zeros 20 jogos e ter estado nos quartos de final da Champions e ter feito umas vendas de 116M - estão à vista e deram no que deram.

Este ano, e estamos em Setembro, vimos uma gestão de plantel pavorosa e o FC Porto a tornar-se, cada vez mais, a sombra pálida do que foi. Pinto da Costa escolheu, aparentemente sozinho, Nuno Espírito Santo e os resultados estão à vista. O FC Porto vai-se descaracterizando e perdendo fôlego, e está a anos-luz do que já foi.
Continuo com o friozinho na barriga de cada vez que faço a curva do Dragão a caminho da minha cadeira de sonho. Mas a certeza deu lugar à ansiedade. Em nome da História do Nosso Grande Clube, está na hora de deixar de realpolitiks de compras e vendas, chega de estar de tal maneira em Saturno que se desconheça em absoluto a realidade de todas as cadeiras abaixo dos camarotes e da Tribuna Presidencial, há que ter um regresso à realidade urgente.
O Nosso Grande Clube está doente. Está na hora de tomar medidas. E se não for o nosso Timoneiro, se este estiver cansado - 78 anos não são 78 dias! - pois erga-se a estátua que merece, dê-se o seu nome ao Estádio, mas passe-se o leme a quem o faça por demonstrar merecer. Ninguém o censurará. O lugar de Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa na História do futebol mundial e do do Nosso Grande Clube está garantido. O seu nome gravado nos nossos Corações Azuis e Brancos também.
Mas está mais do que na hora de restituir o Porto à Porto ao Futebol Clube do Porto! Por todos nós, pela glória do que ainda somos, pelo Futuro que merecemos ter! Exigimos de novo um FC Porto à Porto! Exigimos a retoma da Honra ao Brasão Abençoado! Exigimos Honra à Cor Azul e Branca!
Viva o Futebol Clube do Porto!