domingo, 22 de novembro de 2015

Espaço Z: FC Porto vs Naturhouse La Rioja (35-31)


Brilhante!

Simplesmente brilhante!

Ontem, num bem composto e borbulhante Dragão Caixa, a nossa equipa de andebol voltou a trazer-nos uma alegria sem igual, presenteando-nos com uma exibição de gala contra a 2ª mais forte equipa da Liga Asobal (Liga Espanhola de Andebol). Tinha escrito por aqui que achava que o resultado da 1ª volta tinha sido algo mentiroso, e que possivelmente esse foi um dos nossos piores jogos desta época, e na verdade aqueles 8 golos de diferença foram pena pesada para essa exibição, mas não traduzem o equilíbrio entre ambas as equipas. 

Antes de mais, deixem-me dizer-vos que ontem assistimos a uma excelente partida de andebol, de parte a parte, com momentos muito bem conseguidos e executantes de altíssimo nível. A 1ª parte do jogo foi evoluindo sempre com um equilíbrio enorme entre os dois conjuntos. Nos primeiros 6/7 minutos, notou-se algum nervosismo em termos de finalização, e as defesas foram conseguindo superiorizar-se aos ataques organizados, tendo ambas as equipas evidenciado algumas dificuldades para quebrar a organização contrária. Depois do 1º desconto de tempo, houve pequenos acertos nas movimentações ofensivas, e os golos foram fluindo com maior naturalidade. Destaco Cuni e Rui Silva na 1ª parte, muito bem na leitura dos espaços o segundo, fortíssimo no aproveitamento das situações de 1x1 o primeiro. Na baliza, Quintana esteve uns furos abaixo daquilo a que nos habituou, enquanto o guarda-redes adversário foi o principal responsável por não irmos para o intervalo com maior vantagem. Destaco também, pela negativa, o critério disciplinar da equipa de arbitragem. Seria de esperar que uma dupla dinamarquesa (país onde o andebol é desporto-rei) fosse um pouco mais equilibrada e criteriosa na altura das decisões disciplinares. Não sou particularmente adepto da solução Daymaro-Alexis como defensores centrais do nosso esquema 6x0, por achar que são algo lentos e que, por norma, compensam essa lentidão com demasiada dureza, mas ontem foi inacreditável a forma como ficaram "tapados" com 2 exclusões (no andebol, a 3ª exclusão dá cartão vermelho) demasiado cedo no jogo. Estas decisões, no andebol, são o tipo de decisão que pode condicionar um treinador para o resto da partida. 

E pegando precisamente neste último ponto, tenho de dar os parabéns, quer a Daymaro e Alexis por se terem aguentado tão bem até o jogo estar resolvido (Alexis recebeu a 3ª exclusão já com 4 minutos para jogar, e com a diferença a saldar-se em 5 golos). Penso que Costa esteve muito bem ao não "ceder" à tentação de retirar ambos do jogo (salvo alguns curtos períodos em situações específicas, de inferioridade numérica), mas fundamentalmente a chave da vitória de ontem esteve em 2 alterações por si protagonizadas, permitindo a entrada dos "homens do jogo" de ontem: Hugo Laurentino e Miguel Martins. 

O primeiro, foi fundamental, com defesas de altíssimo grau de dificuldade, permitindo segurar ou aumentar a vantagem em momentos chave. O segundo, um míudo com mais talento no dedo mindinho, do que algumas equipas inteiras, entrou para "resolver" o jogo.

E ontem, foi curiosa a forma relativamente semelhante que os treinadores arranjaram para condicionar o jogo ofensivo adversário. Depois de ter havido algum espaço para os fortíssimos laterais de ambas as equipas, ambos os treinadores resolveram subir os segundos defensores - se pensarem no esquema do Porto, estando Daymaro e Alexis ao centro, os segundos defensores são os que estão imediatamente a seguir aos cubanos, de ambos os lados - deixando toda a resolução na zona central. Ou seja, ficaram constantemente o central e o pivot duma equipa contra os defensores centrais da equipa adversária, tanto dum lado como do outro. E foi aqui que a entrada de Miguel Martins foi brilhantemente conseguida, porque é nas situações de 1x1 ou de 2x2 que ele é fantástico. Foi sob a sua batuta, com Laurentino a brilhar atrás, que o Porto conseguiu colocar o jogo nos 5 golos de diferença, a 10 minutos do final. Senti, logo aí, que o jogo estava ganho, pela forma como as equipas encaixavam uma na outra nessa altura.

Num jogo em que praticamente todos estiveram fantásticos, nem sempre é justo destacar elementos, mas não consigo deixar de o fazer. Não posso deixar de partilhar convosco o meu contentamento com a evolução de Cuni Morales, agora muito menos trapalhão, de Alexis, que tem todas as condições para se tornar num pivot de classe mundial num futuro próximo, ou a forma como Gilberto consegue ser decisivo sem ter de marcar 15 golos por jogo, e a forma como estou absolutamente apaixonado pelas qualidades ímpares de Rui Silva, António Areia e Miguel Martins. 

Em termos colectivos, pego num exemplo específico para vos justificar o porquê de nos achar cada vez mais fortes no capítulo ofensivo: se virem com atenção, sempre que ficamos em inferioridade numérica, raramento saímos desses períodos com um saldo negativo. Ontem, por eemplo, foi fantástico - se a memória não me falha, saímos de quase todos os períodos de inferioridade numérica com um saldo positivo de 1 golo. Isto, ao nível de Champions, é um factor determinante!
Defensivamente... Continuo a achar que podemos melhorar, bastante.

Este jogo era decisivo? Sem dúvida, mas isso não retira a importância dos próximos dois jogos. Estamos obrigados a vencer ambos, e ainda temos de esperar para ver qual o resultado do La Rioja contra o Brest. Temos tudo para passar, e fizemos mais do que o suficiente (até ao momento), para justificar estar entre os tubarões europeus. A equipa, tão evidentemente superior em todos os capítulos na competição interna, precisa da Champions para ter andebol de alta qualidade e exigência, para conseguir evoluir.

Um abraço,

Z

13 comentários:

  1. Eu já te disse que estou muito feliz por escreveres aqui? Carago, que post! E parabéns, uma vez mais!

    Abraçom

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    1. Obrigado camarada! Também não sei se já te disse como me sinto honrado por poder escrever aqui .. Um abraço

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  2. Z,
    tenho lido todos os teus posts.
    Este é da mesma qualidade dos anteriores, ou seja, muito bom.
    Os nossos rapazes do andebol merecem todo o destaque possível, por favor continua assim.

    Abraço

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    1. Obrigado Raul,

      Espero que a Malta continue a interessar-se pelo andebol, tão bem praticado pela nossa equipa do coração.

      Um abraço

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  3. @ Z

    é impressão minha ou o sistema defensivo da equipa expõe em demasia os nossos guarda-redes?
    pergunto-o porque já não é a primeira vez que ou o Quintana ou o Laurentino são, a meu ver, os MVP da partida, com intervenções para lá de decisivas.

    abr@ço forte a "ambos os dois" ;)
    Miguel | Tomo III

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    1. @Miguel

      Ora viva! Plenamente de acordo com essa análise. De qualquer forma, neste jogo até acho que estivemos bem a nível defensivo (comparando com outros jogos da champions). Na verdade, contra equipas deste calibre é mais "natural" sofrermos mais remates bem enquadrados, porque do outro lado temos bons executantes. É neste jogo, o Laurentino tem um MVP pelo timing de algumas defesas, mas não tanto pela eficácia, que até foi reduzida em
      Ambas as balizas (abaixo dos 40%). Mas concordo contigo, a nossa defesa sofreu uma alteração enorme em termos tácticos face a outros anos, e precisávamos de maior solidez naquela zona mais central. Não basta ter lá dois armários, é preciso que eles saibam posicionar-se. Imaginemos que o Miguel Martins atacava a nossa defesa... Até ia doer :)

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  4. percebes bastante de andebol, fostes praticante? a analise esta bem feita para quem nao percebe muito entao esta otima. Se ganharmos os ultimos 2 jogos ficamos apurados, nao sei se ficar em 2º tem algum problema a este nivel.

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  5. @Vidente Mor,

    Obrigado pelo comentário. Começo por lhe dizer que ainda sou praticante, ainda que de forma bastante amadora, mas já lá vão uns 23/24 anitos ligado à modalidade. A sua última questão é muito pertinente. Basicamente, este ano a EHF (a UEFA do andebol), decidiu abrir mais vagas para a fase de grupos, e diminuir nos playoff de acesso, aos quais o Porto tinha de ir todos os anos. Criaram então duas "divisões", por assim dizer. Os grupos A e B têm as equipas mais à frente nos rankings, e é onde estão os "tubarões" desta competição, como o BarçA, o Kiel, o PSG... Desses dois grupos vão sair 14 equipas. Depois há os grupos C e D, com equipas da 2ª linha da Champions, como o Porto, o La Rioja, o Brest... Desses dois grupos, passam as 2 primeiras equipas, que jogarão entre sim um playoff de acesso aos 16/avos de final, juntando-se às 14 equipas dos grupos A e B. Ora, chegamos aqui a importância de ficar em 1º ou 2º: se ficarmos em 1º, disputamos o playoff de acesso com o 2º do outro grupo (teoricamente teremos vantagem); se ficarmos em 2º, vamos jogar contra o 1º (teoricamente mais difícil).

    Um abraço

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  6. Boas noites,

    Caro Z, já a algum tempo que ando a acompanhar este blog, mas desde que este passou a ter ->estes<- comentários de andebol, passou a ser, para mim, o melhor blog que acompanha a nossa equipa (para não ser injusto com outros da nossa equipa, pelo menos o mais completo).

    Eu, por mim, nunca joguei andebol, nem percebo particularmente da modalidade. Apenas gosto muito (mesmo) de assistir aos jogos, ainda mais a assistir aos desta nossa equipa.

    Assim, ressalvo desde já que os (meus) comentários seguintes são apenas de quem gosta deste jogo, e não de quem quer parecer perceber "da matéria".

    Postos os pressupostos, gostava de lhe fazer desde já um pequeno/grande contraditório:
    quando refere que o jogo em espanha foi "...possivelmente esse foi um dos nossos piores jogos desta época", acho que este comentário se devia referir apenas à 2ª parte desse jogo. A 1ª parte foi (atenção aos meus pressupostos) das 1ªs melhores partes desta época, uma 1ª parte brilhante. Sem me estar a querer esconder na palavra dos outros, num jogo transmitido no Porto Canal logo a seguir ao jogo de Espanha, o comentador (que lhe peço desculpa, mas não sei o nome, mas só sei que é dos melhores comentadores, de qualquer modalidade que já assisti), referiu este fato, mas, como digo, foi durante o jogo em direto que fiquei com essa impressão.

    Outra coisa que não percebo, é porque é que o Morales (que mais uma vez estava a fazer um jogo excelente- estava?), foi substituido, durante um larguissimo periodo de tempo. Usando palavras anteriores do Z, parece que as substituições estão determinadas à priori.
    Sobre isto, e mais uma vez, atenção aos meus pressupostos, quando estivemos a jogar contra 4 jogadores de campo, e de memória, entrou o Kazal, estava o Gilberto no banco, o Morales no banco, e nenhum deles entrou neste periodo, que acabamos por não marcar nenhum golo.
    É um fator a melhorar?

    Uma última nota para o Miguel Martins, é daqueles jogadores que se destacam mesmo para quem não está dentro da modalidade. É isto que define um predestinado.

    Desculpe o comentário alongado, mas vamos "continuar por aqui"...

    O que não percebo e lhe peço a sua ajuda, é que se ganharmos os próximos 2 jogos podemos não ser apurados. Na transmissão do Porto Canal foi dito o contrário: que só dependemos de nós. É verdade?
    E sobre este tema, quais acha que são as nossas possibilidades de irmos lá vencer?
    Eu, no 1º jogo, o que achei é que esta é das melhores equipas para implementar a nossa rotatividade.
    Os Russos teem um excelente 7 inicial, mas não conseguem rodar tão bem como nós... e isto paga-se especialmente nas 2ªs partes. Vamos esperar que seja assim também na 5ª feira.
    Eu por mim, se formos dependentes apenas de nós próprios (ganhar os 2 próx. jogos) acho que mando "o patrão dar uma volta", e meto a parte da tarde. É que se ganharmos, nimguém nos tira a vitória no último jogo e o consequente apuramento.
    E isto, para uma equipa Portuguesa, seria um feito extraordinário. Para quem for mais ou menos da minha idade, do tempo "da outra senhora", como é que nos começámos a impor na europa do futebol. A analogia impõe-se!

    Um grande abraço, e vamos a eles na 5ª feira.

    João Silva



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    1. @João Silva,

      Excelente comentário! Excelente!
      Vou tentar chegar a todos os pontos que referiu:
      1- considerei o jogo em Espanha o nosso pior jogo, e acredito que essa seja uma posição pouco consensual. Na 1ª parte fizemos um bom jogo, mas só durante 20 minutos. Nos últimos 10 perdemos o controlo do jogo (muito por culpa da rotação dos jogadores). A 2ª parte foi para esquecer... Foi paupérrima mesmo! Se bem me recordo, nos primeiros 15 minutos marcamos 2 golos! Ora, embora tenhamos tido uma boa fase no jogo, acabamos por passar 2/3 do jogo a "apanhar bonés". Atenção, esta é a minha opinião, que é tão válida como a do Prof. Luís Graça (o melhor comentador desportivo que conheço, de longe), que foi um craque do andebol portista, e que percebe de andebol a pacotes. Por isso, tenho a certeza absoluta que eu é que estou a ser nabo ;) concordemos, pelo menos, que foram os piores 30 minutos de que me recordo.

      2- a questão das substituições "porque sim" também é pertinente. Ninguém duvida da importância de Moreira, o nosso capitão. Ninguém duvida também que Areia é, de longe, o melhor ponta direita português. Então porque razão não começa o melhor de início num jogo destes?? Porque razão sai Cuni quando está no topo e não sai quando está muito mal? Atenção, não digo que não precisem de ir rodando, até porque estes jogos são esgotantes. Mas deviam ser mantidos quando estão em grande. E, num jogo destes, nunca na vida podemos entregar uma fase de superioridade numérica a Kasal ou Roque, que serão os jogadores que mais dificuldade evidenciam nestas situações. Pelo menos, não num jogo desta importância, em que cada pormenor conta.

      3- só dependemos de nós. Duas vitórias e garantimos o apuramento. Porto, Brest e Lá Rioja, todos com 12 pontos e o 4º está com 6. Só que na próxima jornada o Brest e o Lá Rioja defrontam-se, ou seja, obrigatoriamente alguém perderá pontos. Duas vitórias podem
      Não chegar para ficarmos em 1º, porque se ficarmos empatados com
      Um dos outros adversários perdemos no confronto directo. Se ganharmos os dois jogos e eles empatarem (muito improvável), então ficamos em 1º.

      4- jogo na Rússia? Temos de jogar sem pensar em rotações. Porque jogar no leste da Europa é sempre muito difícil. O campo inclina até ficar quase na vertical! Estão perfeitamente ao nosso alcance, mas temos de os encarar como o adversário mais difícil, para não passarmos por sobressaltos como contra o Presov.
      5- um feito extraordinário, sem dúvida. Um regresso aos fantásticos anos do ABC de Donner, ou ao Porto de Pokrajack. O andebol português precisa disso. E o nosso clube merece-o!

      Um abraco

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  7. Boa noite,

    Só agora reparei na sua resposta ao @Vidente Mor.
    A resposta ao apuramento está respondida.

    Peço desculpa pela desatenção.

    Escusa de publicar este comentário?

    João Silva

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    1. Tenho sempre todo o gosto em responder João. Sem problema Nenhum!

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  8. Babei-me Z, babei-me. Grande jogo, grandes emoções, grandes jogadores e uma cumplicidade fantástica entre aquele departamento e o público.
    Obrigado Z por ajudares os Portistas, como eu, mais futeboleiros, a VER andebol que, desde miúdo, sempre segui com carinho. Agora quando tens oportunidade de assistir ao crescimento de meninos como, Miguel Martins, á evolução de Cuni, Daymaro, Alexis e á confirmação de Gilberto, Rui Silva, Areia, Laurentino, o Capitão e todos os outros jogadores, então é um privilégio. Estamos todos orgulhosos.

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