quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Espaço Z - Tatran Presov vs FC Porto

Vitória muito importante, obtida no último sopro da partida, fora de portas, deixando em aberto a possibilidade de apuramento para a próxima fase da Champions de Andebol. Foi, apesar de tudo, uma vitória desnecessariamente sofrida face à evidente diferença de plantéis e de estilo de jogo.  Quer isto dizer que o Presov é uma equipa fraca? Obviamente, não. Seria equipa para lutar pelos 3 lugares cimeiros da classificação em Portugal. Mas nesta Champions, o FC Porto já provou estar um ou dois degraus acima de equipas como o Presov ou o Vojvodina, por exemplo.

No jogo de hoje, defrontámos um adversário forte a defender, contactando os nossos jogadores no espaço entre os 10m e os 7m sempre no "limite" do permitido. Pelo menos, tanto no limite quanto uma equipa moldava de arbitragem poderia permitir a uma equipa eslovaca, if you know what I mean... Se já é difícil jogar no Leste da Europa, acreditem que fica bastante mais difícil com duplas daquela zona.  
Já em termos ofensivos, trata-se duma formação que privilegia o remate exterior, com jogadores altos e "pesados", quase todos com pouca mobilidade e a denunciar muito as trajectórias para remate. Quero com isto dizer que, face às características físicas e técnicas dos laterais e do central, é fácil para uma defesa perceber quando vai ser o momento de finalização, porque os movimentos são semelhantes e mais fáceis de antecipar. 

Para contrariar uma equipa deste género, é fundamental defender bem, obrigar os adversários a rematar de bastante longe - porque esses remates são, teoricamente, mais fáceis de parar pelo guarda-redes - e aproveitar alguma lentidão na recuperação defensiva adversária para "matar" o jogo em contra-ataque. Já em ataque organizado, é a velocidade na circulação de bola, e no ataque aos espaços que poderá ser mais eficaz. Se do outro lado temos 4 ou 5 "muros" que gostam de "bater", temos que tentar obrigá-los a fazer o que não gostam: mover-se. 

Na 1ª parte, especialmente a partir dos 10 minutos, conseguimos fazer tudo isto relativamente bem. Houve algum desacerto na finalização (uma ou outra vez por mérito do bom guarda-redes adversário, mas também por algum demérito nosso), especialmente nos remates aos 6 metros, que podia ter acabado com o jogo logo na 1ª parte. Houve também alguma falta de agressividade defensiva nos primeiros 20 minutos, tendo os eslovacos conseguido rematar demasiadas vezes sem serem devidamente importunados (que é como quem diz, sem levarem uns socos valentes, como nos faziam quando éramos nós a atacar). Com o resultado em 13-8 a 4 minutos dos primeiros 30, era "obrigatório" termos chegado ao intervalo com maior vantagem no marcador. Faltou alguma paciência, e alguma inteligência na forma como o nosso ataque organizado decidiu trabalhar os últimos lances. Trabalhamos demasiado para o remate exterior (e com Kasal em campo, não se podia esperar outra coisa), quando devíamos ter tentado finalizações mais próximo da baliza, até mesmo para conseguir "sacar" alguma exclusão aos eslovacos.

A 2ª parte teve uns 10 minutos iniciais perfeitos, com um parcial de 4-1 a nosso favor, que colocou o resultado nuns - à partida - confortáveis 18-11. E depois... Bom, depois houve qualquer espécie de bebedeira colectiva, que nos poderia ter custado o jogo. Erros em barda, alguns pouco condizentes com jogadores do nível dos nossos. Muita sofreguidão no ataque organizado, que conduziu a falhas técnicas e, consecutivamente, perdas de bola perfeitamente escusadas, e muito desacerto defensivo - não só em termos de posicionamentos como de agressividade perante o adversário. 

Podemos queixar-nos que, a partir dos 10 minutos, entrámos numa fase de "vale-tudo" na defensiva contrária, que tornou a tarefa de atacar de forma mais profunda praticamente impossível, mas penso que nos pusemos a jeito. Com 7 golos no bolso, é a equipa que tem a vantagem que tem de gerir os tempos de jogo e que tem de saber ter o controlo emocional. Não podemos estar a jogar com guarda-redes avançado, e "entregar" a bola ao adversário para duas finalizações fáceis (sem o guarda-redes na baliza), num espaço de menos de 2 minutos. Tudo bem que a opção por utilizar um guarda-redes avançado é discutível, principalmente se usada de forma insistente, mas isso não esconde as incríveis falhas consecutivas do nosso ataque. Neste período de desacerto, nota negativa para Gustavo Rodrigues, a conseguir cometer mais falhas graves em 20 minutos do que no resto da época. 

Depois de termos conseguido acertar defensivamente, tenho de destacar 2 jogadores: Miguel Martins e Gustavo, por razões diferentes. Num final de jogo estonteante, foi o menino a colocar duas bolas  "redondinhas" nas mãos de Alexis, que deveriam ter decidido o jogo, não fosse a segunda oportunidade ter esbarrado no braço do guarda-redes adversário. Gustavo merecia levar 3 chicotadas por ter perdido uma bola, num passe mal medido para Alexis, a pouco menos de 1 minuto para o fim, e com o resultado em 23-24 a nosso favor. 

Contudo...



Quem tem Gilberto Duarte, tem o Mundo!

E, desta forma, pela enésima vez, Gilberto decidiu um jogo no último segundo, sacando um golo impossível da cartola.

Mais alguma concentração competitiva, mais acerto defensivo e um Dragão Caixa a rebentar pelas costuras serão importantes ingredientes para o decisivo encontro com os espanhóis do La Rioja. Porque apesar da derrota pesada da 1ª volta, acredito que temos uma equipa superior à deles. Esta equipa merece e tem qualidade para a próxima fase da Champions.

Um abraço,

Z


19 comentários:

  1. Que bom que é acordar, vir ao nosso blog e ter uma análise tão completa! :) Obrigado, amigão. É muito bom ter-te deste lado!

    Abraçom

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  2. Se o FCP joga, então um gajo já gosta do jogo. Ainda por cima, ganha. Agora...ainda por cima podemos percebe-lo, graças ao Z e ao Porto Universal. É perfeito. E vai levar mais umas almas ao Dragaozinho, ai vai, vai.

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    1. Caro xôr Silva,

      Muito agradecido pelas palavras! Pela amostra da adesão do público às "amadoras", se isto leva mais gente ao Dragaozinho, vão ter de construir outra bancada :)

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  3. foi uma vitória do cara... Ças :) na marra, com muita Paixão (mas que não é dessas, com esse artista do apito), muito Querer, e que me fez gritar "golo!" como no momento Kelvin.

    ah! E 'obrigado!' por mais uma análise estilo "andebol para totós" (e sem pretender ofender seja quem for)

    abr@ços para "ambos os dois" :)
    Miguel | Tomo III

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    1. Xôr Lima

      Eu andei aos saltos na sala a festejar! Ahah! Olha que eu sou mais totó do que pensas pá ;)

      Abraço!

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  4. Z, qual a justificação para tantos "apagões" à nossa equipa?
    São vários os jogos em que estamos a dominar, com marcador dilatado a nosso favor e de repente, deixamos o adversário crescer, crescer...

    Abraço

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    1. Carrela,

      Antes de mais, obrigado pelo comentário. Há alguém que fala mais abaixo naquela que penso ser a principal razão para esses "apagões": a falta de competitividade interna. Não pode fazer bem à evolução duma equipa, ganhar 3/4 dos jogos do campeonato por margens avassaladoras. Se não há dificuldades apresentadas, os jogadores tendem a estagnar. Por isso digo-lhe, com toda a honestidade, que o meu amor à modalidade me faz desejar que o Gilberto, ou o Miguel Martins, ou o Rui Silva possam um dia vir a competir noutros campeonatos. Porque só assim aquele potencial todo pode ser totalmente aproveitado.
      Outra explicação que arranjo, não tão importante mas que urge ser resolvida é a desenfreada rotação promovida por Ricardo Costa nestes jogos. Compreendo que o faça em grande parte dos jogos docampeonato, mas a um nível de Champions, não se pode dar ao luxo de ter Kasal-Roque-Gustavo - ainda por cima com o ultimo em dia não, no final da 1ª parte, quando podia ter ido para o intervalo com 6/7 golos de vantagem. A este nível, pode fazer imensa diferença, e Costa tem de perceber melhor como pode gerir o jogo. Uma coisA é alternar entre Rui Silva e Miguel Martins. Outra é trocar Gilberto por Kasal...

      Um abraço!

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    2. Obrigado pela resposta.

      Eu imaginei que fosse por ai, pela falta de competitividade.
      Às vezes acho que a equipa relaxa demasiado, começa a cometer erros atrás de erros, e até a abusar no facilitismo na busca pelo golo.
      E isto já aconteceu contra um rival, aqui a competitividade não devia servir de desculpa, estávamos com uma vantagem larga e acabamos o jogo com metade dessa vantagem porque se relaxou demasiado...

      Cumps

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  5. Ca grande análise!!!
    Não vi nadinha do jogo mas é como se tivesse visto... ;-)

    Obriado

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  6. Parabéns Z... sem que tenha visto o jogo, ao ler-te, parece mesmo que estive lá... Nota-se emoção nestas linhas... e esse será, penso eu de que, o melhor elogio que poderei deixar.
    Relativamente aos rapazes do andebol, uma só palavra: BRAVO!!! Com tamanha entrega e devoção, até me esqueço de alguns pormenores.
    Abraço

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    1. Muito obigado pelo elogio. E que os rapazes nos continuem a dar alegrias destas... Talvez o coração prefira vitórias mais sossegadas mas, porra, são estes jogos que ficam na memória!

      Abraço

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  7. Caro Z,
    A desconcentração competitiva é um mal que já vem de longe. Não sei se tem a ver com o facto do nosso campeonato só ter meia dúzia de jogos verdadeiramente competitivos, mas também é verdade que começamos a conseguir reagir a tempo de rectificar o adormecimento, o que é bastante positivo. Mas o ideal era mesmo não termos de passar por estas aflições, sem necessidade. Em relação ao nosso jogo, parece-me que utilizamos este ano mais variações tácticas no ataque, se compararmos com anos Obradovic, (que me parecia bastante rígido nesse aspecto), embora reconheça que o sérvio nunca teve um plantel tão rico (R. Silva, Roque e Miguel, que luxo).
    Estou bastante esperançado na vitória sobre o LA Rioja, porque confio no poder imenso da simbiose entre os adeptos e a nossa Equipa, que transformam o Dragãozinho num reduto (quase) intransponível (assim fosse no irmão mais velho, mas isso são outros 500).
    Saudações Portistas

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    1. Joaquim Fernandes,

      Obrigado pelo seu comentário. Aborda algumas questões interessantes, que já queria ter abordando num post à parte. Mas aproveito para debater esses pontos de vista:
      1- sem dúvida que o desequilíbrio competitivo a nível interno é um entrave à evolução - aí estamos de acordo. Mas, tal como disse em resposta a um comentário mais acima, parece-me que Costa roda demasiado a equipa em alturas pouco aconselháveis. A ideia que passa é de que a rotação é predeterminada e que avança independentemente das circunstâncias do jogo. E ontem, por exemplo, podia ter custado caro. Não era jogo para Roque, nem para Kasal, por exemplo. Pelo menos não era enquanto o jogo não estivesse já resolvido. Por outro lado, o Gustavo esteve demasiado tempo em jogo, durante a 2ª parte. Costa tem de melhorar este aspecto.
      2- com Obradovic, o sistema de jogo era simples: defender e contra-ataque. No ataque organizado era "bola no Gilberto, que ele resolve". Costa teve esse condão, de nos trazer uma maior variabilidade de soluções tácticas em ataque organizado, e isso nota-se bastante na quantidade de finalizações que fazemos das pontas relativamente a anos transactos, em que os pontas quase só serviam para o conta-ataque directo. Contudo, não tenho gostado da nossa actuação defensiva, essencialmente por dois motivos. Primeiro, pela alteração do sistema 6x0, que dantes era muito mais coeso na zona central, obrigando o adversário a procurar zonas mais exteriores - portanto, mais difíceis - para finalizar. Agora, os 2 defensores centrais ficam muito expostos a jogadores rápidos, o que já nos trouxe dissabores, como na supertaca ou em Espanha - e quase nos trazia outro no jogo com o Sporting. Depois, pela insistência em Alexis e Daymaro a defender juntos nessa mesma zona. Alexis defende mal, e com arbitragens a sério está constantemente na rua, e também não vejo grande vantagem em colocar ambos, que são pesados e mais lentos, tão expostos na zona central. Daymaro + Gilberto resulta muito melhor, no sistema base. Também me preocupa não haver sistema alternativo, como um 5x1 ou um sistema mais agressivo como um 3x2x1, obrigando aos adversários a jogar mais longeva baliza, sem poder fazer uso do remate exterior. Ontem tinha dado jeito, assim como em Espanha.
      3- acredito, tal como o Joaquim, que o Lá Rioja está ao nosso alcance. Acho que podemos ir a próxima fase, se fizermos um jogo inteligente.
      4- Obradovic nunca teve plantel tão rico, também estou de acordo. Mas acho que também nunca quis ter...

      Abraço

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  8. Não sou especialista em andebol .como o Z, mas este plantel parece ser o mais equilibrado e com mais opções dos ultimos anos e talvez de todas as modalidades colectivas do nosso clube e se no futebol exaltamos com todo mérito o nosso Ruben ,no andebol temos o seu equivalente em Miguel Martins,Há muita inteligencia e maturidade naquele menino.

    Saudações Portistas
    Paulo Almeida
    P,S, Agora só falta alguém a analisar o Basquete e o Hoquei.
    Parabens continuem o bom trabalho.

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  9. Paulo,

    Obrigado pelo comentário.
    Concordo consigo em relação à qualidade do plantel, principalmente em termos de profundidade. Penso que tivemos melhor 7 inicial em duas épocas, quando tínhamos Wilson, Tiago Rocha e Spinola, mas faltava-nos alternativas em quase todas as posições. E numa época longa e "violenta" como costuma ser a do andebol, quando há competições europeias, isso faz muita diferença.
    Quanto ao Miguel, sou suspeito por conhecê-lo bastante bem, mas é um daqueles jogadores que aparecem de tempos a tempos, e temos de saber fazê-lo crescer. Com a sua idade é, seguramente, um dos melhores jogadores Mundiais sub-21 na posição de central. Parece que nasceu com uma bola de andebol
    Na mão.

    Abraço

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  10. Você já disse que temos categoria tecnica para ganharmos aos espanhóis, mas acha que temos experiência, calma e ratice para, no momento decisivo os vencermos?

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    1. ega,

      Concordo que a equipa adversária terá mais "experiência", e isso poderá fazer alguma diferença em alguns momentos do jogo. De qualquer forma, trata-se de mais um pormenor, possivelmente não tão importante como um Dragaozinho a "arder". Até porque, do nosso lado, temos jogadores já tarimbados, com experiência de jogos muito importantes (ainda que mais novos). Dou-lhe o exemplo dos incríveis jogos da final do campeonato do ano passado para explicar o meu ponto de vista.

      Obrigado pelo comentário.

      Um abraço

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